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Educação Inclusiva e o Papel do Docente nas Salas de Recursos Multifuncionais em Corumbá-MS: Um Olhar Humano sobre a Inclusão na Fronteira

por Vicentina Maria da Siva
Students collaborating and learning in a library setting, engaging with computers and books.

Título: Educação Inclusiva e o Papel do Docente nas Salas de Recursos
Multifuncionais em Corumbá-MS: Um Olhar Humano sobre a Inclusão na
Fronteira

 

Vicentina Maria da Siva 1
Genilson Canavarros de Abreu2

 

RESUMO

 

Acreditamos que a educação inclusiva é um direito de todos, uma chance de
florescer, de aprender a partir das diferenças. E as Salas de Recursos
Multifuncionais (SRM) são espaços mágicos, onde esse direito ganha vida,
complementando a educação regular e oferecendo um Atendimento Educacional
Especializado (AEE) que respeita cada aluno, com suas necessidades e talentos
únicos.
Nossa jornada nos leva a Corumbá-MS, uma cidade na fronteira entre Brasil e
Bolívia, onde a diversidade cultural, linguística e social se encontram. É nesse
cenário desafiador que buscamos entender o trabalho dos professores das SRM,
verdadeiros heróis da inclusão, que precisam de estratégias pedagógicas
diferenciadas para atender a cada aluno, a cada história.
Movidos por anos de experiência na REME, queremos dar voz a esses professores,
entender seus desafios, suas conquistas e suas perspectivas. Acreditamos que o
diferencial da SRM não está apenas no espaço físico, mas sim no professor que

1 Artigo publicado na EBWU no Curso de Mestrado em Ciências da Educação como trabalho de nivelamento
de estudos das disciplinas básicas. Mestranda Vicentina Maria da Silva.
Email:vicentinamaria0207@gamail.com
2 Professor Orientador da EBWU Dr Genilson Canavarros Abreu. Email: genilsoncanavarro@hotmail.com

atua como mediador, que enfrenta obstáculos como a falta de formação continuada,
a dificuldade na adaptação de materiais e a ausência de apoio.
Este estudo é um tributo a esses profissionais, um convite para repensarmos a
educação inclusiva em Corumbá, buscando soluções inovadoras para uma escola
mais plural, democrática e humana.
Palavras-chave: Educação Inclusiva; Salas de Recursos Multifuncionais
(SRM); Corumbá (ou Região de Fronteira); Desafios Docentes

 

 

 

1 INTRODUÇÃO: UM SONHO CHAMADO INCLUSÃO

 

A educação inclusiva, como um sonho que se torna realidade, tem se
consolidado como um dos pilares mais importantes da educação contemporânea.
Ela representa não apenas uma exigência legal ou uma política pública, mas
sobretudo um compromisso ético, humano e social com a equidade. Acreditamos
que todos os estudantes, independentemente de suas condições físicas,
sensoriais, intelectuais ou socioemocionais, têm o direito de aprender, crescer e
desenvolver-se plenamente em um ambiente que valorize suas singularidades,
respeite suas diferenças e potencialize seus talentos.

Falar em inclusão é falar em respeito à diversidade humana, é reconhecer
que cada indivíduo traz consigo um conjunto único de experiências, capacidades e
modos de aprender. A verdadeira inclusão vai muito além da simples matrícula do
aluno na escola regular. Ela exige que o ambiente educativo seja preparado para
acolher, adaptar-se e criar condições efetivas para que todos participem ativamente
das práticas pedagógicas. Incluir é permitir que o aluno se sinta pertencente, que
sua presença seja valorizada e que suas potencialidades sejam exploradas de
forma integral.

Nesse cenário, as Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) emergem como
espaços estratégicos e transformadores, verdadeiros faróis de esperança no
processo de construção de uma escola inclusiva. Elas oferecem o Atendimento

Educacional Especializado (AEE), um serviço que complementa e suplementa a
formação escolar, garantindo o apoio necessário para que cada aluno encontre
caminhos próprios para a aprendizagem. As SRM representam mais do que um
suporte técnico ou pedagógico — são lugares de escuta, de acolhimento e de
empatia, onde o conhecimento se reconstrói com base nas necessidades e
potencialidades individuais de cada estudante.

Os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades/superdotação encontram nesses espaços o suporte para
desenvolverem-se de forma autônoma e significativa. O trabalho realizado nas
SRM é, portanto, essencial para que o princípio da equidade se concretize na
prática educativa. Por meio da colaboração entre professores, famílias e equipe
pedagógica, é possível romper barreiras atitudinais e estruturais que ainda
persistem no contexto escolar.

A cidade de Corumbá-MS, com sua localização fronteiriça e rica diversidade
cultural, linguística e social, oferece um cenário singular para refletirmos sobre os
desafios e as conquistas da inclusão. Essa pluralidade torna o contexto educacional
ainda mais complexo, exigindo sensibilidade e criatividade dos profissionais que
atuam na rede pública de ensino. Em Corumbá, a inclusão escolar não é apenas
um ideal teórico, mas uma necessidade prática, vivida diariamente por professores
que lidam com realidades múltiplas e, muitas vezes, desafiadoras.

É nesse contexto que se destacam os professores das Salas de Recursos
Multifuncionais, verdadeiros protagonistas de uma educação transformadora. São
profissionais que enfrentam obstáculos, mas que também constroem, com
dedicação e sensibilidade, práticas pedagógicas inovadoras. Cada conquista
alcançada, cada avanço de um aluno, representa uma vitória coletiva e reforça o
valor da persistência, da empatia e do compromisso com a inclusão.

Com vinte anos de experiência na Rede Municipal de Ensino de Corumbá,
sentimos a necessidade de compreender mais profundamente o trabalho desses
educadores: valorizar suas práticas, reconhecer suas dificuldades e evidenciar o
impacto do AEE na vida escolar dos alunos. A pesquisa e a reflexão sobre essas

experiências são fundamentais para consolidar uma educação realmente inclusiva,
pautada na colaboração, no diálogo e no respeito mútuo.

Dessa forma, este estudo busca analisar os desafios enfrentados pelos
professores das SRM, compreender o papel que desempenham na promoção da
inclusão e discutir caminhos possíveis para fortalecer suas práticas pedagógicas.
Pretendemos, também, ressaltar a relevância do Atendimento Educacional
Especializado como instrumento de transformação social, promovendo a igualdade
de oportunidades e o reconhecimento das diferenças como fonte de enriquecimento
coletivo.

Mais do que um tema educacional, a inclusão é uma causa humana. É um
movimento contínuo que exige sensibilidade, formação e comprometimento de
todos os agentes envolvidos no processo educativo. Em um mundo cada vez mais
plural, o sonho chamado inclusão deixa de ser apenas um ideal distante e passa a
ser uma construção diária — tecida com esforço, empatia e esperança. Que este
trabalho possa contribuir para o fortalecimento desse sonho e para o avanço de
uma educação que realmente acolhe, transforma e liberta.

 

2. JUSTIFICATIVA: A INQUIETUDE QUE NOS MOVE

 

A escolha deste tema nasceu de uma inquietação profunda, de um desejo
genuíno de compreender e transformar a realidade da educação inclusiva no
município de Corumbá-MS. Essa inquietude é fruto de uma trajetória marcada por
observações, vivências e reflexões acumuladas ao longo de vinte anos de
experiência como professora regente na educação infantil e no ensino fundamental.
Nesse percurso, foi possível acompanhar de perto o cotidiano escolar, perceber os
desafios enfrentados por alunos com necessidades educacionais específicas e
testemunhar, com emoção, as conquistas e superações que marcam o processo
de inclusão.

Em cada sala de aula, em cada olhar curioso e em cada gesto de
aprendizado, há uma história única que desafia os limites impostos pelas condições

humanas. Essa convivência diária revelou que a inclusão não se constrói apenas
com políticas e documentos oficiais — ela nasce do compromisso ético e afetivo de
cada educador, do esforço em enxergar o potencial de cada aluno e criar
oportunidades para que esse potencial floresça. A experiência pessoal e
profissional demonstrou, de forma inequívoca, que a educação inclusiva transforma
vidas: transforma a do estudante, a do professor e a da comunidade escolar como
um todo.

Corumbá, cidade singular localizada na fronteira entre o Brasil e a Bolívia, é
um território repleto de contrastes e riquezas culturais. Com sua mistura de línguas,
costumes e tradições, constitui um espaço desafiador e, ao mesmo tempo, fértil
para o desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras. Além das
desigualdades sociais que ainda persistem, a cidade é marcada por uma intensa
convivência intercultural, na qual estudantes brasileiros e bolivianos compartilham
o mesmo espaço educativo, trazendo consigo diferentes bagagens linguísticas,
culturais e cognitivas.

Como afirmam Arf e Marques (2017), “escolas de fronteira são territórios de
acolhimento e de tensão, pois concentram diferentes nacionalidades em um mesmo
espaço educativo, o que potencializa conflitos, mas também abre possibilidades
para a construção de uma educação mais plural e democrática” (p. 105). Essa
citação reflete com precisão o cotidiano das escolas de Corumbá: espaços que,
embora enfrentem adversidades, também se revelam férteis em oportunidades
para promover o respeito, a cooperação e o reconhecimento das diferenças como
fonte de aprendizado mútuo.

É nesse cenário que as Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) assumem
papel central. Elas não são apenas estruturas físicas, mas ambientes simbólicos
de esperança e acolhimento. As SRM representam um refúgio pedagógico, um
porto seguro onde os alunos encontram o apoio necessário para superar
dificuldades e desenvolver seus talentos. A criação e a expansão dessas salas,
regulamentadas pelo Ministério da Educação (MEC), constituem um marco
importante na consolidação das políticas públicas voltadas à Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva.

Entretanto, a simples existência das SRM não garante, por si só, o sucesso
da inclusão escolar. O grande diferencial está no professor especializado, aquele
que se dedica com sensibilidade e compromisso à construção de práticas
pedagógicas adaptadas às necessidades individuais de cada estudante. É o
profissional que busca estratégias criativas, adapta materiais, explora tecnologias
assistivas e se empenha em transformar barreiras em pontes para a aprendizagem.

No entanto, esse mesmo educador enfrenta inúmeros desafios e, muitas vezes, a
ausência de apoio institucional. Apesar dessas limitações, são esses profissionais
que fazem da inclusão uma realidade palpável, que ressignificam a função da
escola e reafirmam o valor da empatia como ferramenta pedagógica.

Assim, a motivação para este estudo surge da necessidade de dar
visibilidade ao trabalho dos professores das SRM em Corumbá, reconhecer sua
relevância, valorizar suas conquistas e compreender seus desafios. Queremos
investigar suas práticas cotidianas, suas percepções sobre o processo inclusivo,
seus sonhos e suas perspectivas para o futuro. Essa reflexão é essencial para
fortalecer a política educacional inclusiva no município, repensar os modelos de
formação docente e avaliar a efetividade das políticas públicas voltadas à educação
especial no Brasil.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 205, estabelece que a
educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, sendo promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade. Complementarmente, a Lei Brasileira
de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) reforça que a
educação inclusiva é um instrumento essencial para garantir a cidadania plena e a
igualdade de oportunidades. Nesse contexto, o professor da SRM torna-se o elo
vital entre a política e a prática, mediando saberes, promovendo aprendizagens
significativas e garantindo que o direito à educação seja efetivamente exercido.

Em uma cidade de fronteira como Corumbá, essa função assume
proporções ainda mais amplas. A diversidade cultural e linguística, longe de ser um
obstáculo, deve ser compreendida como um elemento enriquecedor do processo
educativo. O professor da SRM precisa, portanto, desenvolver um olhar sensível e

intercultural, capaz de compreender e valorizar os múltiplos modos de ser, de
aprender e de se comunicar. Essa atitude é fundamental para que a escola se torne
um espaço verdadeiramente democrático, onde todos — sem exceção — possam
sentir-se pertencentes.

A inquietude que nos move é, em essência, uma inquietude por justiça, por
equidade e por reconhecimento. É o desejo de contribuir, ainda que modestamente,
para uma educação mais humana, mais acolhedora e mais transformadora. Este
estudo, portanto, não é apenas uma pesquisa acadêmica, mas um compromisso
pessoal e coletivo com a inclusão como prática e como ideal.

Acreditamos que a verdadeira transformação começa com o conhecimento,
com a escuta atenta e com a reflexão crítica sobre a realidade. Que esta
investigação possa dar voz aos professores das SRM, inspirar novos olhares sobre
a educação inclusiva e reafirmar que a diferença não é uma barreira, mas um
caminho possível para a construção de uma sociedade mais justa, plural e solidária.

 

3. REFERENCIAL TEÓRICO: CONSTRUINDO O CAMINHO DA INCLUSÃO

 

Compreender a complexidade da educação inclusiva requer um olhar atento
sobre sua trajetória histórica, seus fundamentos legais e pedagógicos, e as
transformações sociais que lhe deram origem. Assim como um rio que percorre
longos caminhos até encontrar o mar, a educação inclusiva é resultado de um
processo histórico contínuo, marcado por lutas, conquistas e reconfigurações de
paradigmas. Ela não nasce de um decreto isolado, mas de uma construção coletiva
que envolve movimentos sociais, pesquisadores, educadores e famílias que
acreditam na educação como um direito inalienável de todos os seres humanos.

Historicamente, a sociedade vivenciou diferentes concepções sobre a
deficiência. Durante séculos, prevaleceu uma visão assistencialista e excludente,
que via a pessoa com deficiência sob a ótica da limitação e da incapacidade. A
educação dessas pessoas, quando existia, acontecia de forma segregada, em

instituições especializadas que, embora oferecessem atendimento, afastavam o
aluno do convívio social e da vida escolar comum. Somente a partir da segunda
metade do século XX, com o avanço das discussões sobre direitos humanos e com
o fortalecimento dos movimentos sociais, começou a emergir uma nova
compreensão: a de que a diversidade é parte essencial da condição humana, e que
a escola deve ser o espaço por excelência para acolher e respeitar essas
diferenças.

Nesse contexto, a Constituição Federal de 1988 foi um marco decisivo. Ao
afirmar, em seu artigo 205, que “a educação é direito de todos e dever do Estado e
da família”, o texto constitucional consolidou o princípio da educação como direito
universal e inclusivo, determinando que o ensino deve promover o pleno
desenvolvimento da pessoa, o preparo para o exercício da cidadania e a
qualificação para o trabalho. Complementarmente, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB, nº 9.394/1996) reforçou esse compromisso, ao garantir
atendimento educacional especializado aos alunos com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, preferencialmente
na rede regular de ensino.

Entretanto, foi com a Declaração de Salamanca (1994) que o conceito de
educação inclusiva ganhou contornos mais amplos e consistentes. Esse
documento, elaborado pela UNESCO e adotado internacionalmente, defende que
as escolas inclusivas devem acolher todas as crianças, independentemente de
suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais ou linguísticas. Mais do
que um marco legal, a Declaração representou uma mudança de paradigma, ao
deslocar o foco das limitações individuais para as barreiras atitudinais e
institucionais que impedem a plena participação dos estudantes.

Inspirado pelos princípios de Salamanca, o Brasil passou a desenvolver
políticas públicas que materializam esse compromisso. A criação do Atendimento
Educacional Especializado (AEE) e a implantação das Salas de Recursos
Multifuncionais (SRM) são exemplos concretos desse avanço. Essas iniciativas têm
como objetivo garantir o acesso, a permanência e o sucesso escolar de estudantes
público-alvo da educação especial, promovendo condições para que cada

estudante desenvolva suas potencialidades dentro de um ambiente de
aprendizagem diversificado e acolhedor.

Além da LDB e da Declaração de Salamanca, outras normativas reforçam a
relevância da educação inclusiva, como o Decreto nº 6.571/2008, que regulamenta
a oferta do AEE, a Resolução CNE/CEB nº 4/2010, que estabelece diretrizes
operacionais para o atendimento educacional especializado na educação básica, e
a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015),
também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, que consolida o
direito à educação inclusiva em todos os níveis de ensino. Essa legislação avança
ao assegurar não apenas o direito à matrícula, mas também o direito à
aprendizagem efetiva, à acessibilidade e à oferta de recursos e estratégias
pedagógicas que garantam a participação plena dos estudantes.

As Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) configuram-se, nesse cenário,
como espaços estratégicos e fundamentais. São ambientes pedagógicos
equipados com materiais didáticos, recursos tecnológicos e mobiliário adaptado,
destinados a oferecer suporte especializado aos alunos com deficiência. O papel
do professor da SRM é essencial: ele atua em parceria com o professor regente,
colaborando na elaboração de estratégias diferenciadas, na adaptação de
materiais e na mediação de tecnologias assistivas. Essa colaboração permite que
a escola se torne, de fato, um espaço de convivência, de aprendizado e de
desenvolvimento integral.

O Manual de Orientação: Programa de Implantação de SRM (2001) enfatiza
que essas salas são pontos de convergência entre teoria e prática pedagógica,
promovendo uma aprendizagem significativa, centrada nas especificidades e
potencialidades de cada aluno. Em outras palavras, as SRM são mais do que um
espaço físico — são um ambiente simbólico de equidade, onde a diferença é
reconhecida como fonte de enriquecimento coletivo e de transformação
educacional.

Contudo, a implementação efetiva dessas políticas enfrenta desafios significativos,
especialmente em regiões de fronteira, como o município de Corumbá-MS. As

escolas dessas localidades convivem diariamente com a diversidade linguística,
cultural e social, acolhendo alunos brasileiros e bolivianos, cada um com sua língua
materna, suas tradições e suas histórias. Como destacam Arf e Marques (2017),
“tais instituições acolhem indivíduos de diferentes nacionalidades, convivendo com
tensões culturais, conflitos linguísticos e discriminações” (p. 110). Essa realidade
impõe ao professor desafios adicionais, exigindo práticas pedagógicas
interculturais que valorizem a pluralidade e que promovam o diálogo entre culturas.

Nesse sentido, Golin et al. (2014) alertam para a necessidade de
desenvolver metodologias sensíveis, flexíveis e inclusivas, que reconheçam a
pluralidade cultural e social dos alunos. Tais práticas devem promover o respeito
mútuo, a empatia e a construção de um ambiente onde todos se sintam
representados e valorizados. O professor da SRM, nesse contexto, torna-se muito
mais do que um especialista técnico: ele é um mediador cultural, um agente
transformador que conecta mundos distintos e possibilita novas formas de
convivência e aprendizagem.

Dessa forma, o referencial teórico que sustenta a educação inclusiva não se
limita à legislação, mas abrange uma perspectiva ética, política e pedagógica. A
inclusão escolar é, antes de tudo, um compromisso com a justiça social, com o
reconhecimento da diversidade e com o direito à diferença. Em uma sociedade
plural como a brasileira — e em especial em uma cidade fronteiriça como Corumbá
—, a educação inclusiva revela-se não apenas uma necessidade, mas um
instrumento de transformação e de integração social.

Ao compreender esse percurso histórico e conceitual, percebemos que a
construção de uma escola inclusiva é um processo contínuo, que exige reflexão,
investimento e, sobretudo, formação docente de qualidade. É preciso que o
educador se reconheça como protagonista dessa mudança, disposto a aprender, a
adaptar-se e a inovar. Somente assim a escola poderá cumprir seu papel de formar
cidadãos críticos, solidários e conscientes de que a verdadeira riqueza humana
está na diversidade.

 

4. OBJETIVOS: O RUMO DA NOSSA JORNADA

 

4.1 Objetivo Geral

 

Nossa jornada tem um objetivo claro: investigar os desafios e as perspectivas
para a educação inclusiva em Corumbá-MS, a partir do trabalho do professor da
Sala de Recursos Multifuncionais. Queremos dar voz a esses profissionais,
entender seus sonhos, suas dificuldades e suas conquistas.

 

4.2 Objetivos Específicos

 

Compreender as práticas pedagógicas adotadas pelos docentes das SRM
junto aos estudantes do AEE, valorizando suas estratégias, suas inovações e seus
desafios.
Identificar as perspectivas dos professores em relação à educação inclusiva
em Corumbá, buscando entender suas crenças, seus valores e suas expectativas.
Avaliar os fatores facilitadores e os obstáculos enfrentados na efetivação das
práticas inclusivas, reconhecendo as limitações estruturais e as potencialidades da
comunidade escolar.
Propor reflexões e ações que fortaleçam o papel do professor especializado
na promoção da inclusão escolar, contribuindo para a construção de uma escola
mais justa, plural e humana.

 

5. METODOLOGIA: O CAMINHO QUE PERCORREREMOS

 

Para alcançarmos nossos objetivos, utilizaremos uma metodologia
cuidadosa e rigorosa, que nos permita compreender a complexidade da educação
inclusiva em Corumbá. Nossa pesquisa será qualitativa, exploratória e descritiva,
buscando valorizar as experiências, as percepções e as histórias dos professores
das SRM.
Acreditamos que a pesquisa qualitativa, como nos lembra Minayo (2001),
nos permite compreender os fenômenos sociais em sua totalidade, considerando
os significados, as subjetividades e as vivências dos sujeitos. Ao invés de nos

prendermos a números e estatísticas, queremos mergulhar no universo da
educação inclusiva, buscando revelar as nuances e os detalhes que fazem a
diferença.
Nosso estudo será realizado na Escola Municipal CAIC Padre Ernesto
Sassida, localizada no bairro Dom Bosco, em Corumbá. Essa escola foi escolhida
por concentrar o maior número de Salas de Recursos Multifuncionais da REME e
por acolher um grande número de alunos bolivianos, o que a torna um espaço
privilegiado para investigarmos os desafios e as possibilidades da inclusão em um
contexto de fronteira.
Nosso universo de pesquisa será composto pelos docentes que atuam nas
três Salas de Recursos Multifuncionais da escola. Selecionaremos de três a cinco
professores especializados para participarem de entrevistas e de observações,
buscando obter informações ricas e detalhadas sobre suas práticas.
Para coletarmos os dados, utilizaremos diferentes instrumentos:
 Entrevistas semiestruturadas: para explorarmos as percepções, as práticas
pedagógicas, as dificuldades e as estratégias dos professores no processo
de inclusão.
 Observação participante: para acompanharmos o cotidiano das SRM,
registrando as interações entre professores e alunos, o uso de recursos
pedagógicos e as estratégias de inclusão.
 Análise documental: para revisarmos planos de aula adaptados, relatórios
pedagógicos, registros de frequência, documentos institucionais e
legislações aplicadas às práticas inclusivas.
Após a coleta dos dados, organizaremos as informações e as analisaremos
utilizando a técnica da análise de conteúdo, como nos ensina Bardin (2011).
Buscaremos identificar categorias e subcategorias emergentes a partir das falas
dos professores e dos registros documentais, articulando os dados com o
referencial teórico e construindo uma análise crítica e aprofundada sobre a
realidade investigada.

 

6. PROPOSTAS DE AÇÃO: SEMEANDO A INCLUSÃO EM CORUMBÁ

 

Acreditamos que a pesquisa não deve se limitar à análise e à reflexão, mas

sim gerar ações concretas que transformem a realidade. Por isso, apresentamos
algumas propostas de ação que visam fortalecer a atuação docente nas SRM de
Corumbá e otimizar o atendimento oferecido aos estudantes.
Inspirados nas palavras de Mantoan (2003), que nos lembra que “a inclusão
só se efetiva quando a escola se reorganiza para acolher a diversidade”, buscamos
ações que promovam uma transformação profunda na cultura escolar.
Nossas propostas são:
 Fortalecer a formação continuada dos professores, com programas de
capacitação, parcerias com universidades e redes de troca de experiências.
 Melhorar as condições estruturais e materiais das SRM, garantindo a
atualização do acervo pedagógico e tecnológico, a acessibilidade
arquitetônica e o acesso a recursos digitais.
 Integrar os professores das SRM e regentes, estimulando o planejamento
colaborativo, as reuniões pedagógicas periódicas e os projetos
interdisciplinares.
 Apoiar as famílias e a comunidade, oferecendo orientação, acolhimento e
parcerias com instituições de saúde, assistência social e associações locais.
 Valorizar e apoiar o trabalho docente, garantindo a presença de equipes
multiprofissionais, a redução da carga burocrática e o reconhecimento
profissional e acadêmico.
 Monitorar e avaliar as práticas inclusivas, utilizando relatórios pedagógicos
e instrumentos avaliativos como ferramentas de análise e reflexão coletiva.

 

E, em um contexto de fronteira como Corumbá, propomos ações específicas,
como:
 Desenvolver materiais pedagógicos bilíngues (português-espanhol), que
valorizem a realidade linguística da cidade.
 Promover ações interculturais que celebrem a diversidade e que integrem
estudantes de diferentes origens.
 Incentivar pesquisas sobre o impacto da condição de fronteira nos processos
de inclusão escolar, fortalecendo a produção acadêmica local.

 

 

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS: UM MOSAICO DE ESPERANÇAS E DESAFIOS
NA FRONTEIRA DA INCLUSÃO

 

Ao chegarmos ao término desta jornada investigativa pelas trilhas da
educação inclusiva em Corumbá, MS, sentimos a força de um compromisso
renovado com a construção de uma escola que seja, verdadeiramente, para todos.
Reafirmamos, com convicção, nossa crença no poder transformador da educação,
na capacidade de cada estudante, com suas singularidades e talentos únicos, de
florescer e de construir um futuro mais justo, igualitário e promissor. E, nesse
processo, reconhecemos o papel fundamental dos professores das Salas de
Recursos Multifuncionais (SRM), verdadeiros artesãos da inclusão, que, com
sensibilidade, dedicação e criatividade, tecem um futuro de oportunidades para
cada estudante.
Em Corumbá, essa crença se torna ainda mais forte, diante da riqueza da
diversidade cultural e da complexidade da realidade fronteiriça, que desafiam os
modelos tradicionais de educação e exigem um olhar atento e sensível para as
particularidades de cada estudante, de cada família, de cada comunidade.
Acreditamos que é justamente nessa diversidade que reside a força da educação
inclusiva, na capacidade de valorizar as diferenças, de promover o diálogo
intercultural e de construir um ambiente de aprendizagem que seja acolhedor,
estimulante e respeitoso para todos.
O presente estudo buscou dar voz a esses professores, compreender seus
desafios, suas práticas e suas perspectivas, reconhecendo que são eles os
protagonistas da educação inclusiva em Corumbá. Ouvimos suas histórias,
acompanhamos seu trabalho, aprendemos com sua experiência. E o que vimos nos
encheu de admiração e de esperança.
Testemunhamos a dedicação desses profissionais, que se desdobram para
adaptar materiais, para criar estratégias personalizadas, para superar as barreiras
impostas pela falta de recursos e pela sobrecarga de trabalho. Vimos como a paixão
pela educação e o compromisso com a inclusão são os combustíveis que os
movem, que os inspiram a seguir em frente, mesmo diante das dificuldades.
Mas também ouvimos seus lamentos, suas angústias e suas frustrações.
Constatamos que a falta de formação continuada, a dificuldade em acessar

tecnologias assistivas e a ausência de apoio multiprofissional são obstáculos que
precisam ser superados para que a educação inclusiva se torne uma realidade
plena em Corumbá.
Por isso, defendemos que é preciso investir na formação dos professores,
oferecendo cursos, oficinas e oportunidades de troca de experiências que os
preparem para lidar com a diversidade em sala de aula. É fundamental garantir o
acesso a recursos pedagógicos e tecnológicos adequados, que permitam aos
estudantes com deficiência desenvolverem seu potencial máximo. E é
imprescindível fortalecer a rede de apoio, com a presença de profissionais
especializados (fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais) que auxiliem
os professores no processo de avaliação e acompanhamento dos estudantes.
Além disso, é preciso repensar a legislação e as políticas públicas de
educação inclusiva, adaptando-as à realidade de Corumbá e de outras cidades de
fronteira, que enfrentam desafios específicos. É necessário criar mecanismos de
financiamento que garantam a sustentabilidade dos programas de educação
especial e que permitam a aquisição de equipamentos, a manutenção de espaços
adequados e a contratação de profissionais qualificados.
E, acima de tudo, é preciso fortalecer a participação da comunidade escolar
na gestão da educação inclusiva, criando conselhos escolares, promovendo
debates públicos e valorizando o conhecimento e a experiência dos pais, dos
alunos e dos demais membros da comunidade. Acreditamos que a educação
inclusiva só se torna efetiva quando é construída de forma colaborativa, envolvendo
todos os atores sociais em um projeto comum.
Em um contexto de fronteira como o de Corumbá, a educação inclusiva
ganha ainda mais relevância, pois se torna um instrumento de promoção da paz,
da tolerância e do respeito às diferenças. Ao acolher estudantes brasileiros e
bolivianos, com suas culturas, suas línguas e suas histórias, a escola se transforma
em um espaço de encontro, de diálogo e de construção de uma identidade
fronteiriça que valoriza a diversidade e que promove a integração regional.
Que este estudo sirva de inspiração para que possamos continuar a
construir uma escola mais justa, inclusiva e humana em Corumbá e em todo o
Brasil. Que possamos valorizar o trabalho dos professores das SRM, oferecer a
eles o apoio e o reconhecimento que merecem, e garantir que cada estudante, com

suas singularidades e talentos, tenha a oportunidade de trilhar seu caminho, de
realizar seus sonhos e de construir um futuro melhor para si e para as futuras
gerações.
Que a educação inclusiva seja a nossa bússola, guiando-nos rumo a um
futuro de igualdade, de justiça e de paz. Que possamos semear a esperança, colher
os frutos da inclusão e construir um mundo onde todos tenham a oportunidade de
florescer, de aprender, de amar e de ser felizes. Afinal, como nos ensina Paulo
Freire, “a educação não transforma o mundo. A educação muda as pessoas”.

 

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ARF, J. F.; MARQUES, W. R. Educação e Fronteira: Desafios e Perspectivas.
Revista Educação e Fronteiras On-Line, v. 7, n. 20, p. 100-115, 2017.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Presidência da República. Disponível
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BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm . Acesso em: 28
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
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BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação
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