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RELATOS PANTANEIROS: O DESAFIO DE UM PROFESSOR PARA TORNAR ALUNOS PROTAGONISTAS DA SUA APRENDIZAGEM ATRAVÉS DO CONTO.

por Soraia da Silva Moraes
Young girl singing into a microphone during a music lesson in a studio.

RELATOS PANTANEIROS: O DESAFIO DE UM PROFESSOR PARA TORNAR ALUNOS PROTAGONISTAS DA SUA APRENDIZAGEM ATRAVÉS DO CONTO.

Soraia da Silva Moraes

Genilson Canavarro de Abreu

RESUMO

O Pantanal, com sua rica biodiversidade e cultura singular, oferece um cenário único para práticas pedagógicas inovadoras. Neste contexto, um professor se desafiou, a utilizar o conto como ferramenta para tornar seus alunos protagonistas de sua aprendizagem. Este artigo, apresenta a experiência de um docente que, utilizou o conto como ferramenta pedagógica para promover o protagonismo dos alunos em seu processo de aprendizagem. Através de relatos práticos, discute-se como a narrativa oral e escrita contribuiu para o desenvolvimento da autonomia, criatividade e senso crítico dos estudantes. O estudo destaca os desafios enfrentados, as estratégias adotadas e os resultados observados, evidenciando a importância do contexto cultural local na construção do conhecimento. Os resultados obtidos evidenciaram um aumento significativo na participação e no engajamento dos alunos nas atividades escolares, indicando que o envolvimento ativo com a prática pedagógica estimulou o interesse e a motivação para aprender. Observou-se também uma melhoria nas habilidades de criatividade e de expressão, refletindo a capacidade dos estudantes de articular ideias de maneira mais estruturada e original. Além disso, a experiência promoveu um senso de orgulho e de propriedade em relação às próprias produções, fortalecendo a autoestima e a confiança dos alunos em suas competências. Outro aspecto relevante foi o fortalecimento da identidade cultural dos estudantes, que puderam reconhecer e valorizar suas raízes, tradições e o contexto social em que estão inseridos, consolidando o papel do ambiente local como elemento central no processo educativo.

Palavras-chave: Protagonismo Estudantil, Conto, Aprendizagem, Pantanal, Educação.

 

 

DESENVOLVIMENTO

 

O Contexto do Pantanal e a Importância do Conto

O Pantanal é conhecido por sua riqueza cultural e natural. A narrativa, especialmente o conto, é uma tradição arraigada na cultura pantaneira, servindo como veículo de transmissão de valores, histórias e conhecimentos. Utilizar o conto como ferramenta pedagógica significa conectar a aprendizagem ao contexto cultural dos alunos.

As narrativas dos contos despertam encantamento nas crianças ao redor do mundo. Em cada região desse vasto universo cultural, deparamo-nos com diferentes tradições, de modo que os contos apresentam temas e versões variados. O gênero textual reflete aspectos da sociedade em que está inserido, pois, embora de caráter imaginário, representa simbolicamente a realidade e as adversidades do mundo real. Além disso, o conto desempenha uma função educativa, que muitas vezes reforça os costumes de determinada época.

Para Soares (1993) e Abaurre (2007), o conto é uma narrativa breve, sem complicações no enredo e com poucos personagens. Ele é marcado por um apogeu, momento em que a história chega ao ápice, resultante de um conflito.

Nas considerações de Paulo Freire,

Destaca que a relação pedagógica precisa, assim, ser semeada, regada, cuidada, para garantir que “as rosas floresçam na primavera” e não sejam interditada de serem-mais por causa de circunstâncias indesejadas. Respeitar os saberes e a autonomia do ser estudantes garantindo-lhes o direito a aprendizagens comprometidas com a qualidade social, é caminhar com Paulo Freire como (co)autores(as) de uma prática educativa emancipatória.” (FREIRE, 2000, p.21).

Por isso, valorizar o espaço pantaneiro em que os alunos habitam significa reconhecer suas qualidades, suas riquezas culturais e naturais, além de seus valores sociais. Além disso, envolve a consciência sobre os desafios e dificuldades enfrentados, promovendo a busca por soluções que possam elevar a qualidade de vida da comunidade e a convivência harmoniosa com o meio ambiente, sem prejuízos a este.

Dessa forma ao investir tempo e esforço no amor ao Pantanal, almejamos que os alunos se tornem não apenas mais engajados em sua comunidade, mas também que contribuam para a construção de um futuro mais promissor para todos. Esse trabalho abrange o cuidado com o meio ambiente, práticas de sustentabilidade, ações de reciclagem, plantio de árvores, limpeza e uso com racionalidade do espaço em que vivem.

O papel da escola é crucial na educação ambiental, ensinando os alunos a cuidarem do meio ambiente local e global, e a se tornarem cidadãos conscientes e responsáveis. Portanto, o trabalho foi desenvolvido numa escola que está localizada no Assentamento Urucum em Corumbá, no estado do Mato Grosso do Sul, na Bacia do Rio Paraguai e sub-bacia do Rio Taquari. 

A região onde se encontra o assentamento é conhecida por abrigar o Maciço do Urucum, uma formação geológica importante, e está inserida na área prioritária para conservação da biodiversidade da borda oeste do Pantanal. O contexto educacional dos assentamentos pantaneiros em Corumbá MS, é marcado por desafios de acesso e mobilidade devido à localização longínqua, com escolas que exigem transporte rodoviário e fluvial para professores e alunos. Portanto, a inserção da família na vida escolar, que pode ser dificultada por fatores de comunicação, transporte e por problemas socioeconómicos e emocionais. 

A Escola Municipal Rural de Educação Integral Carlos Cárcano e Extensão, atende alunos do assentamento São Gabriel e Urucum, Região do Antônio Maria Coelho e estrada de Forte Coimbra em Corumbá MS. A escola tem como proposta de educação integral focando no desenvolvimento multidimensional do estudante (cognitivo, social, afetivo, físico, ético e cultural), incluindo a família, a escola e comunidade valorizando o saber local. Isso se traduz em um currículo adaptado e em atividades que vão além da sala de aula, como projetos, interações com o território, debates, bem como atividades artísticas e culturais, que favorecem o protagonismo e a autonomia dos estudantes.

De acordo com o Ministério da Educação (2022), “a Educação Integral é um princípio integrador e articulador das concepções de ser humano, escola, currículo, de ensino e aprendizagem, sociedade e das diferentes etapas da Educação Básica”. Ou seja a Educação Integral não é apenas uma forma de ampliar o tempo que o aluno passa na escola, mas sim uma visão mais ampla que integra vários aspectos da formação da pessoa.

A Educação Integral é uma forma de ensino que olha para o estudante como um todo. Isso significa que a escola não se preocupa apenas em passar conteúdos, mas também em ajudar no desenvolvimento social, cultural, físico, emocional e ético. Assim, a aprendizagem acontece de maneira mais completa, unindo o que se aprende na escola com a vida em sociedade e em todas as etapas da Educação Básica.

Para Freire (1996), a educação deve ser um ato de liberdade, capaz de despertar nos educandos a consciência crítica e a participação ativa em seu processo de aprendizagem.

Sendo assim, a escola é um território como espaço de aprendizagem articulando com políticas de cultura, esporte, saúde e meio ambiente promovendo o desenvolvimento integral dos alunos. 

A Experiência do Professor

O professor, ciente da importância da narrativa na cultura local, planejou uma série de atividades que envolviam a criação e compartilhamento de contos. Os alunos foram incentivados a criar histórias baseadas em suas experiências e observações do Pantanal, promovendo assim a conexão entre a aprendizagem escolar e a vida cotidiana.

A proposta de trabalhar o Projeto Pedagógico, foi realizado por meio de um estudo de natureza teórica, abordando as características e conceitos vinculados ao tema proposto “Cultivando Saberes, Protegendo o Pantanal”, com foco na cultura pantaneira e nas ações de conservação que integram a produção animal e vegetal, e apresentar aos alunos narrativas que valorizem o homem do Pantanal, as cadeias produtivas e a harmonia entre as atividades humanas e a natureza. A faixa etária dos estudantes abrange os alunos do 6º ano do Ensino Fundamental II.

A utilização de abordagens lúdicas como método de ensino visa captar a atenção dos alunos e proporcionar um aprendizado dinâmico e prazeroso. A intenção não é apenas trazer o Pantanal para a sala de aula, mas também transportar a sala de aula para o Pantanal, espaço onde eles convivem diariamente, uma vez que se trata de uma escola rural situada nesse bioma. Imaginem a riqueza de conhecimento que esses alunos do 6º ano absolverão e vivenciaram com as disciplinas de Educação Básica em um cenário considerado um verdadeiro paraíso da humanidade.

Paulo Freire, sempre desinquietou-se com a falta da participação da família na escola. Gadotti et al (1996, p.96) destacou em seus inscritos que Freire defende a constituição de círculos de Pais e Professores como uma forma de fortalecer a participação da família e da comunidade na escola.

FREIRE, destaca:

Nos círculos, à medida que os pais se vão inteirando dos problemas da escola, das suas dificuldades – o comportamento é imprescindível a um trabalho com -, deve a escola a começar a convidá-los a fazer visitas as suas dependências em períodos de atividades. Mostrando a eles como é “na vida” diária, tendo sempre em vista a identificação do pai com os problemas e dificuldades da escola. Neste sentido é que os Círculos de Pais e Professores não podem quedar-se teóricos e acadêmicos. Por isso é que eles têm de, pelo debate, levar o grupo dos pais à crítica e análise dos problemas escolares, dando-lhes condições de mudança de antigos hábitos em hábitos novos. Hábitos antigos de passividade em hábitos novos de participação. (…) Participando, intervindo, colaborando o homem constrói novas atitudes, muda outras, elabora e reelabora experiências, educa-se”. (FREIRE, 1957 apud GADOTTI et al, 1996, p.96)

Assim, por meio do Projeto Integrador os alunos tiveram a oportunidade de aprender com base em fatos, contadores de histórias com um violeiro, benzedor, pião, brigada do prevfogo e técnico de mineração, que dispondo de informações confiáveis que estimulem sua capacidade de negociar e formular novas ideias, respeitando o local e a região em que estarão inseridos. Eles estarão aprendendo e vivenciando de maneira concreta e singular a sua responsabilidade ética em relação ao cuidado de si mesmos, dos outros ao seu redor e do bioma em que habitam, o Pantanal.

Desenvolvimento da Autonomia, Criatividade e Senso Crítico

Através da criação e apresentação dos contos, os alunos desenvolveram autonomia, pois tiveram a liberdade de escolher os temas e desenvolver suas histórias. A criatividade foi estimulada pela liberdade de expressão e a necessidade de tornar as histórias atraentes. O senso crítico foi desenvolvido durante as discussões e feedbacks sobre os contos apresentados.

Através da criação e apresentação dos contos, os alunos desenvolveram autonomia, encontrando em suas próprias vivências no Pantanal a inspiração para criar histórias autênticas e significativas. A criatividade foi estimulada pela liberdade de expressão e pela oportunidade de compartilhar suas perspectivas únicas sobre a cultura, a natureza e os desafios da vida na região.

O senso crítico foi desenvolvido durante as discussões e feedbacks sobre os contos apresentados, aprendendo a valorizar a diversidade de pontos de vista e a construir um diálogo construtivo sobre as questões que afetam sua comunidade. Essa experiência não apenas fortaleceu sua identidade cultural, mas também os preparou para se tornarem cidadãos mais conscientes, engajados e atuantes na defesa do Pantanal.

Os resultados da experiência foram particularmente relevantes para o contexto pantaneiro. O aumento na participação e engajamento dos alunos nas atividades escolares demonstrou que a valorização da cultura local e a utilização de metodologias ativas podem despertar o interesse dos alunos pela educação. A melhoria na criatividade e nas habilidades de expressão permitiu que os alunos narrassem suas experiências e perspectivas sobre o Pantanal, dando voz a uma geração que tem muito a dizer sobre a região. O senso de orgulho e propriedade em relação às suas produções fortaleceu sua autoestima e seu senso de pertencimento à comunidade pantaneira. O fortalecimento da identidade cultural dos alunos os preparou para enfrentar os desafios da vida no Pantanal, valorizando suas tradições e buscando soluções inovadoras para os problemas da região. Essa experiência demonstrou que a educação pode ser um instrumento poderoso para o desenvolvimento sustentável do Pantanal.

Desafios Enfrentados e Estratégias Adotadas

Os principais desafios incluíram a resistência inicial de alguns alunos e a necessidade de adaptar as atividades às diferentes habilidades e interesses. O professor adotou estratégias como o trabalho em grupo e a utilização de recursos multimídia para envolver todos os alunos e facilitar a expressão de suas criatividades.

Segundo FREIRE (2000), o processo educativo se faz em colaboração e destaca que docentes ensinam e aprendem ao mesmo tempo, coparticipando de um belo processo de ampliação e aprofundamento de saberes culturais, sociais, entre outros.

A atividade central deste projeto foi a leitura, interpretação e produção de contos, utilizando como referência livros, revistas, vídeos e materiais online relacionados ao bioma do Pantanal. Cada encontro foi cuidadosamente planejado com uma variedade de atividades. O objetivo foi promover uma leitura gradual do livro selecionado, possibilitando uma exploração individual de cada gênero textual presente nos contos. Foram agendados doze encontros, um por semana, reservando o último para a culminância do projeto. Durante as sessões, foram realizadas diversas atividades com os alunos, como a produção de autobiografias; a criação de um manual de instruções; a escrita de contos narrativos; a contação de histórias; a apresentação de relatos sobre a vida pantaneira, incluindo ditados populares e provérbios da região, sempre ressaltando as mensagens implícitas; a instrução sobre a importância de elaborar perguntas para entrevistas; a confecção de cartões postais com o tema Pantanal e a apresentação de um músico convidado, que tocou para as crianças com seu instrumento, explicando também o uso de partituras.

Segundo Paulo Freire (2009), é necessário saber ouvir, demonstrando uma escuta atenta, isso é respeito. Sendo assim, foi realizado com os alunos o levantamento para identificar quem tinha conhecimento de pessoas da comunidade ou até mesmo da própria família que pudesse contribuir com as atividades. Foi constatado que alguns alunos tinham em suas famílias avôs benzedeiros, pais que são peões de boiadeiro que tocam berrante, e outros que tocam violão, cada um trazendo sua rica história de vida.

No dia dezoito de junho de dois mil e vinte e cinco, ocorreu o 1º encontro, com a entrega do convite ao senhor João, esclarecendo o objetivo do trabalho e detalhando como seria a dinâmica das atividades com os alunos.

Para Paulo Freire, valorizar a cultura significa reconhecer e integrar as experiências, saberes e realidades dos educandos no processo educativo, promovendo um diálogo horizontal e libertador entre educador e educando.

Dessa forma, o segundo encontro ocorreu no dia vinte e seis de junho de dois mil e vinte e cinco, na casa do seu João com os alunos, todos radiantes de expectativa para a conversa que estava por vir. O seu João já aguardava no portão, tendo preparado a varanda com muito carinho para que os alunos pudessem se sentar confortavelmente no chão.

Iniciamos as entrevistas, cujas perguntas haviam sido cuidadosamente elaboradas pelos alunos e pelo professor, totalizando 21 questões. Cada aluno ficou responsável por apresentar uma pergunta, e à medida que questionavam, seu João respondia com entusiasmo, compartilhando diversas experiências de vida. Ao final da entrevista, os alunos se reuniram para cantar uma música, adaptada da cantiga popular “Ciranda Cirandinha”. Também entregamos a mascote do projeto, “a Capivarinha”, que trouxe um brilho especial aos olhos de seu João ao recebê-la. Para finalizar, seu João fez uma oração e deixou uma mensagem inspiradora para os alunos. A coordenadora leu um cartão de agradecimento e, em seguida, retornaram à escola.

Para Paulo Freire

A cultura deve ser engajada com a própria experiência de vida de cada homem, porém faz a ressalva de que esta não está relacionada com a vida plena do homem. Por outro lado ele entende que a educação, e mais especificamente a educação popular deverá partir da própria realidade do povo para uma construção coerente da formação crítica dos indivíduos, sendo uma educação construída em conjunto com o povo, entendendo que precisamos não de “uma pedagogia para o oprimido, mas uma pedagogia com o oprimido” sempre buscando a libertação do oprimido (FREIRE, 2005, p.17).

Como disse Freire, educação popular deverá partir da própria realidade. Portanto, o 4º encontro teve lugar no dia dez de julho de dois mil e vinte e cinco, na sala de aula do 6º ano, onde os alunos já estavam organizados em círculo, prontos para receber o senhor Geraldo. Com as perguntas em mãos, os alunos aguardavam ansiosamente. O professor deu as boas-vindas e, em seguida, as perguntas começaram a fluir, totalizando 10 questões elaboradas pelos alunos e pelo professor. Posteriormente, seu Geraldo encantou a todos com algumas músicas pantaneiras, relembrando os tempos em que realizava bailes nas fazendas.

Para FREIRE, ser tocador de viola, é participar ativamente de uma tradição cultural, utilizando o instrumento para narrar, expressar e dialogar com a cultura do campo, mantendo uma forte conexão com a terra e suas raízes. 

E assim, enquanto a música ecoava, os alunos desfrutavam do tereré. Após isso, seu Geraldo compartilhou uma mensagem tocante com os alunos: “O professor é o arquiteto; sem o professor, como o aluno aprenderá? É fundamental que o aluno faça o certo e deixe de lado o ‘disque me disque’. Precisamos ser bons não apenas para alguns, mas para todos. Deus nos ensinou a amar a Ele sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.” Em seguida, a coordenadora leu um cartão de agradecimento e entregou a mascote do projeto, “A Capivarinha”.

A cada encontro foi entregue o convite com antecedência. Portanto, no dia vinte e dois de agosto de dois mil e vinte e cinco, aconteceu o 6º encontro do projeto, os alunos saíram da escola por volta das 8h30min, onde tiveram a oportunidade de ir contemplando a natureza, conhecendo as casas dos colegas que moram no assentamento e ouvindo suas histórias durante o percurso. Quando chegaram na casa do senhor João, foram recebidos por toda a família, que demonstravam satisfação com a chegada. As cadeiras já estavam arrumadas para que todos se sentassem e logo começou a roda do tereré.

Nesta atividade pode-se perceber como o protagonismo estudantil é significativo, pois, nesse clima de valorização e participação dos alunos durante a entrevista com a comunidade, observou-se um grande índice de engajamento dos estudantes, e um ambiente mais colaborativo.

Por isso, e consequentemente, os alunos conduziram uma fascinante entrevista com seu João sobre os saberes pantaneiros relacionados à vida de boiadeiro. Incontáveis histórias foram compartilhadas, abrangendo trabalho, família, animais, cheias no Pantanal, comidas, comitivas, gado, manuseio, viagens longas, bem como as tradições e costumes pantaneiros.

Para encerrar, seu João falou um pouco sobre o berrante e tocou para que os alunos pudessem vivenciar da rica cultura pantaneira, sempre com um olhar vibrante sobre as experiências vividas, que precisam ser preservadas para as próximas gerações. A senhora Dadiana, esposa do seu João, preparou uma mesa com: queijo, rapadura de leite, bolo de chocolate e suco, após saborear as delícias da casa, retornaram para escola.

Para Feldman; Papalia 2013, p.387. Quando existe uma relação de apoio entre os pais, a escola e a comunidade os jovens tendem a desenvolver-se de forma mais saudável e produtiva.

Segundo Boghossian e Minayo , “o protagonismo pressupõe a criação de espaços de escuta e participação dos jovens em situações reais na escola, na comunidade e na vida social, tendo em vista tanto a transformação social como sua formação integral”. (Boghossian; Minayo ,2009, p.416)

Nesse sentido, entende-se que o protagonismo estudantil fomenta a participação e integração dos jovens em situações cotidianas, concretas, individuais ou em comunidade que estabeleçam ações de cidadania, atuando de forma criativa, construtivista e solidariamente na solução de problemas reais.

No texto da Base Nacional Comum Curricular, aparece a ideia do protagonismo através das competências gerais e específicas desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.

Portanto,

(…) o conceito de educação integral com o qual a BNCC está comprometida se refere à construção intencional de processos educativos que promovam aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporâneas. ” (BNCC).

Preparar os alunos para os desafios da sociedade atual está profundamente ligada ao desenvolvimento do protagonismo juvenil, pois valoriza o olhar do aluno para fora, para a sua contribuição com a relação comunitária.

Sendo assim, no dia 25 de agosto de dois mil e vinte e cinco, foi apresentado à senhora Suelen, uma talentosa cozinheira especializada em pratos pantaneiros, o convite para que ela compartilhasse um pouco sobre sua arte culinária, os segredos dos temperos e a tradição do fogão a lenha que emprega na elaboração de suas iguarias.

Portanto, o oitavo encontro aconteceu às 8h30, a casa da senhora Suelen que fica a 500 metros da escola. Nesse dia não teve o tereré, tivemos o quebra torto acompanhado de iguaria levados pelos alunos.

Fomos recebidos com música e um aroma da gastronomia pantaneira com fragrância apetitosa. Em seguida iniciamos a entrevista com ela, uma das questões que mais chamou atenção foi quando o aluno perguntou: Por que os pratos ficam tão irresistivelmente saborosos no fogão a lenha? A resposta da senhora Suelen foi que “o cozimento da comida no fogão a lenha é completo, não necessita de muita água, ou seja, o fogo abarca todo o fundo da panela, e a fumaça que sai do fogo defuma e deixa mais saborosa a comida. No fogão a gás é diferente, o fogo pega apenas no meio da panela precisando de colocar maior quantidade de água e o sabor não é igual”.

Foi uma experiência enriquecedora com a talentosa cozinheira pantaneira, onde os alunos do 6º ano tiveram a oportunidade de um animado bate-papo com a Senhora Suelen. Ela compartilhou seus conhecimentos sobre os pratos típicos do Pantanal, encantando a todos com seus dotes culinários. Além disso, conversou sobre o fogão de lenha, como aprendeu a cozinhar, sua vivência no Pantanal e contou um pouco de sua fascinante história.

Em seguida todos saborearam o arroz carreteiro com a farofa de banana, implementado com as guloseimas que os alunos trouxeram de suas casas, preparados pelas suas mães e por alguns deles.

Resultados Observados

Os resultados incluíram um aumento na participação e engajamento dos alunos nas atividades escolares, melhoria na criatividade e habilidades de expressão, e um senso de orgulho e propriedade em relação às suas produções. Além disso, observou-se um fortalecimento da identidade cultural dos alunos.

Como consequência da experiência foram particularmente relevantes para o contexto pantaneiro. O aumento na participação e engajamento dos alunos nas atividades escolares demonstrou que a valorização da cultura local e a utilização de metodologias ativas podem despertar o interesse dos alunos pela educação. A melhoria na criatividade e nas habilidades de expressão permitiu que os alunos narrassem suas experiências e perspectivas sobre o Pantanal, dando voz a uma geração que tem muito a dizer sobre a região. O senso de orgulho e propriedade em relação às suas produções fortaleceu sua autoestima e seu senso de pertencimento à comunidade. O fortalecimento da identidade cultural dos alunos os preparou para enfrentar os desafios da vida no Pantanal, valorizando suas tradições e buscando soluções inovadoras para os problemas da região. Essa experiência demonstrou que a educação pode ser um instrumento poderoso para o desenvolvimento sustentável do Pantanal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O relato da experiência pedagógica realizada na escola da região do Pantanal evidencia que o uso do conto constitui uma ferramenta potente para promover o protagonismo estudantil, tornando os alunos agentes ativos na construção do conhecimento. A valorização da cultura local e a adaptação das práticas educativas às especificidades do contexto mostraram-se fundamentais para o sucesso da aprendizagem.

Apesar dos desafios enfrentados, os resultados indicam avanços significativos em direção a uma educação mais significativa e engajada, que respeita e potencializa as identidades dos estudantes. Recomenda-se a continuidade e a ampliação de iniciativas semelhantes, bem como o investimento na formação de professores para o uso de metodologias que favoreçam a autonomia, a criatividade e o senso crítico dos alunos.

Espera-se que os alunos ampliem seus conhecimentos e compreendam a relevância do tema, reconhecendo que o Bioma Pantanal reúne culturas, práticas educativas e diversidades que o tornam uma das maiores riquezas do Brasil. Além disso, é essencial que desenvolvam a consciência sobre a importância de proteger e cuidar da natureza, dos animais, da cultura local e da história da região, valorizando o patrimônio sociocultural e ambiental do lugar onde vivem.

Trabalhar o gênero conto com os alunos do 6º ano foi um desafio, uma vez que a turma apresentava baixa fluência leitora. No entanto, os momentos de interação com a comunidade, por meio das narrativas e entrevistas realizadas pelos estudantes, despertaram o interesse pela leitura e contribuíram para o aprimoramento da competência leitora e da escrita.

As aulas de campo, que incluíram passeios pela comunidade do assentamento e visitas às casas dos colegas, aguçaram o senso crítico, a curiosidade, a imaginação e a criatividade dos alunos. Além disso, a ampliação do vocabulário e da compreensão do que é um conto favoreceu reflexões sobre a vida, valores humanos e diferentes culturas, conectando o universo literário à realidade em que vivem.

Dessa forma, o passeio pedagógico, contribuíram significativamente para a consolidação dos conhecimentos e para a produção de textos mais ricos e autênticos por parte dos alunos. A turma do 6º ano é bastante heterogênea: há estudantes tímidos, alguns com transtorno de ansiedade para leitura, dificuldades na fala e problemas de concentração. A inclusão de todos nas atividades possibilitou que se expressassem com mais segurança, superassem parte de suas dificuldades e participassem de forma mais ativa nas aulas.

A experiência relatada neste artigo demonstra o potencial do conto como ferramenta pedagógica para promover o protagonismo dos alunos. Ao conectar a aprendizagem ao contexto cultural local, o professor conseguiu não apenas ensinar conteúdos, mas também contribuir para o desenvolvimento integral dos seus alunos. Essa abordagem inovadora pode inspirar outras práticas educativas que valorizem a cultura e a criatividade dos estudantes.

 

 

REFERÊNCIAS

  1. ABAURRE, Maria Luiza. Gramática: texto, reflexão e uso. São Paulo: Moderna, 2007.
  2. BOGHOSSIAN, Cynthia Oliveira; MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio de incorporar a dimensão social na análise epidemiológica. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 4, p. 1189-1197, 2009.
  3. FREIRE, Paulo. A educação na cidade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1991.
  4. FREIRE, Paulo. Conscientização. 3. ed. São Paulo: Morais, 1980.
  5. FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
  6. FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? São Paulo: Paz e Terra, 1977.
  7. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 30. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
  8. FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
  9. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 44. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
  10. FREIRE, Paulo; HORTON, Myles. O caminho se faz caminhando: conversas sobre educação e mudança social. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
  11. GADOTTI, Moacir et al. Paulo Freire: uma bibliografia. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire; Brasília, DF: UNESCO, 1996.
  12. SAE DIGITAL. Protagonismo juvenil. Disponível em: https://sae.digital/protagonismo-juvenil/. Acesso em: 23 set. 2025.
  13. SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1993.

Arquivo – Artigo Soraia da Silva Moraes

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