OS IMPACTOS DA PANDEMIA- COVID-19 NA SOCIEDADE E NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS.
Luciana Cordeiro Felipetto
Resumo: O contexto do presente estudo tem o objetivo de refletir e pesquisar sobre a importância da necessidade de se rever e implementar condutas socioeducacionais, valores bioéticos, políticas públicas, econômicas, legislações e outras necessárias para reorganizar o mundo, o indivíduo biopsicossocial e para o combate e prevenção desta e de novas crises como a da pandemia causada pelo vírus, COVID- 19. Objetivo: Quer discutir ações que possam minimizar os efeitos da pandemia que atingiu o mundo e que impos a todos o isolamento social, a quarentena e o uso de artefatos tecnológicos como ferramenta exclusiva de contato entre as pessoas e como forma de transferência de conhecimentos através do ensino à distância (EAD), tão cheio de desconfianças no meio acadêmico, quanto à sua eficácia, mas que na atualidade busca propiciar uma aprendizagem significativa na educação do aluno. Método: Pesquisa bibliográfica e reflexão crítica sobre os dados obtidos. Resultados: Os processos da comunicação humana, linguagem, criação de esquemas motores e corporais, aprendizagem, ser social, sociedade, ciências, giram em torno de métodos e abordagens significativas para os indivíduos em processo de aquisição de conteúdos e vivências. Experiências que geram angústias e pressão podem corroborar para o aparecimento de transtornos mentais e situações de mais isolamento social, paura, depressão, neuroses, autoextermínio e stress. Pandemias, como a da COVID-19, marcam gerações e servem no futuro como referências para o combate e a prevenção de novas situações em que a vida esteja ameaçada. No âmbito educacional a tecnologia tem trazido preciosas contribuições e colaborado com os progressos educacionais, flexibilizando a aquisição de conhecimentos independente do local onde as aulas são ministradas ou condição do sujeito. Mas é preciso criar ambiente propício e acessibilidade para todos os indivíduos em processo de aprendizagem. Conclusões: A tecnologia antes a grande vilã que promovia o isolamento social de seus usuários; hoje é ferramenta crucial para agregar as pessoas que estão reclusas em seus lares, evitando a propagação da epidemia. Home office, educação EAD, videoconferências e outras tecnologias estão ajudando as pessoas a não se sentirem tão só em seus lares, diminuindo o tempo ocioso, o medo, incertezas e ajudando a não terem significativas baixas financeiras.
Palavras Chave: Pandemia. COVID-19. Paradigmas. Ensino EAD. Paura. Neuroses
Abstract: The context of this study aims to reflect and research about the importance of the need to review and implement socio-educational conduct, bioethical values, public, economic policies, laws and others necessary to reorganize the world, the biopsychosocial individual and the combating and preventing this and new crises such as that of the pandemic caused by the virus, COVID- 19. Objective: It wants to discuss actions that can minimize the effects of the pandemic that has reached the world and that imposes on everyone social isolation, the use of technological artifacts as an exclusive tool of contact between people and as a way of transferring knowledge through distance learning (EAD), so full of suspicions in the academic environment, as to its effectiveness, but which currently seeks to provide a meaningful learning in student education . Method: Bibliographic research and critical reflection on the data obtained. Results: The processes of human communication, language, creation of motor and body schematics, learning, social being, society, science, revolve around methods and significant approaches for individuals in the process of acquiring content and experiences. Experiences that generate anguish and pressure can corroborate mental disorders and situations of more social isolation, depression and self-extermination. Pandemics, like that of COVID-19, mark generations and serve in the future as references for combating and preventing new situations in which life is threatened. In the educational field, technology has made precious contributions and collaborated with educational progress, making the acquisition of knowledge more flexible regardless of where the classes are taught or the subject’s condition. Conclusions: Technology was once the great villain who promoted the social isolation of its users; today it is a crucial tool to aggregate people who are imprisoned in their homes, preventing the spread of the epidemic. Home office, distance education, video conferences and other technologies are helping people not to feel so alone in their homes, reducing downtime and helping to avoid significant financial losses.
Keywords: Pandemic. COVID-19. Paradigms.
1 INTRODUÇÃO
Segundo o dicionário online de português, o termo pandemia trata-se de uma epidemia que se dissemina por toda uma região. Caracteriza-se por doença infecciosa e contagiosa que se espalha muito rapidamente e acaba por atingir uma região inteira, um país, um continente etc.
[Figurado] Qualquer coisa que, concreta ou abstrata, se espalha rapidamente e tem uma grande extensão de atuação.
Na atualidade, o mundo vive momentos de apreensão e angústia, provocados pela incerteza que se manifestou a partir do momento em que, surgiu na República Popular da China, em Wuhan, na província de Hubei, em 1 de dezembro de 2019, o primeiro caso de um paciente infectado por um vírus letal e de rápida disseminação, que desde então devastou e trouxe o caos às cidades, economias, interesses capitalistas, valores sociais, bioéticos e a educação em todo o mundo.
Vale a ressalva de que medidas socioeducacionais despontaram como a única forma de conter a epidemia, que devastou principalmente países como a China, a Itália e a Espanha, causando muitas mortes, interrupção das aulas e colocou milhões de pessoas em isolamento social como forma de conter o avanço da doença e novos registros.
Artefatos tecnológicos surgiram como forma de minimizar o sentimento de tristeza, solidão e ansiedade impostos pelo isolamento social e a quarentena que são as únicas formas de evitar aglomerações e a propagação viral.
Noções de higiene pessoal e lavagem das mãos, negligenciadas por muitos, são importantes medidas socioeducacionais utilizadas para evitar o contágio.
O contato físico, principalmente com os idosos, deve ser cerceado e trás grandes prejuízos emocionais e ainda mais isolamento e solidão para este grupo social, que demonstra mais fragilidade diante da pandemia.
Com as aulas suspensas, comércios, Shoppings e ambientes de lazer fechados para evitar aglomerações, as famílias repensam sua condição e muitos paradigmas sociais e educacionais. Outrossim, brincadeiras a muito esquecidas, pela falta de tempo e pela rotina corrida de afazeres escolares e do trabalho são resgatadas e ressignificadas.
1.1 O VÍRUS E SEUS IMPACTOS SOCIAIS
A pandemia em curso se caracteriza por uma doença respiratória aguda causada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2). Por ter formato de Coroa , a doença foi intitulada de coronavírus (COVID-19).
Ainda segundo dados do Ministério da Saúde brasileiro a maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectar com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
Mas este vírus sofreu mutação e matou de forma rápida e alterou hábitos e rotinas na vida de milhões de pessoas em vários países.
O intervalo de tempo entre a exposição ao vírus e o início dos sintomas é de 2 a 14 dias, sendo em média 5 dias. Entre os fatores de risco estão a idade avançada e doenças crônicas graves como as auto imunes, as cardiovasculares, diabetes e doenças pulmonares. O diagnóstico da doença é confirmado com base nos sintomas e fatores de risco e com ensaios em tempo real de reação em cadeia de polimerase para detecção de ARN do vírus em amostras de muco ou de sangue. Os pacientes infectados podem não manifestar nenhum sintoma ou manifestar sintomas semelhantes à gripe, na maioria dos casos. Podem ainda apresentar febre, tosse e dificuldade em respirar, garganta inflamada, corrimento nasal, espirros ou diarreia. Estes últimos podem ser menos frequentes. Entre as possíveis complicações estão pneumonia grave, falência de vários órgãos e morte. (WIKIPEDIA, online).
A prevenção faz-se necessária, haja visto que, não existem vacinas e/ou medicamentos até o presente momento, que comprovadamente tratam e curam o COVID 19. Este aspecto traz medos, fobias e incertezas fazendo com que o futuro incerto gere marcas emocionais na população, além de trazer graves consequências no trabalho e nas finanças, quebrando a rotina e gerando ainda mais ansiedades.
Como medida de evitar tão devastadora propagação viral, países adotaram medidas socioeducacionais e institucionais para impedir a escalada geométrica da pandemia e dentre elas estão: o fechamento das escolas, isolamento social, a quarentena, o fechamento de comércios e locais de lazer, enfim, qualquer local onde possa ocorrer aglomeração de pessoas.
Ademais, regras de etiqueta para espirrar, uso de máscaras cobrindo o rosto de pessoas sintomáticas e higiene pessoal, onde faz-se necessário a higienização das mão através da lavagem com água e sabão, do álcool em gel, e ainda a troca das roupas quando retornar a sua moradia, são importantes fatores que corroboram para a não disseminação da doença.
3 METODOLOGIA
Realizou-se uma pesquisa bibliográfica nas principais bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS); Scientific Electronic Library Online (SciELO); U.S. National Library of Medicine (PubMed) e ainda em sites como: Wikipedia, dicionários Houaiss, Dici. online, e grandes periódicos nacionais e internacionais da internet.
Por se tratar de uma pandemia de grandes proporções mundiais e ainda com poucos estudos e conclusões a respeito, foi utilizado como metodologia a reflexão crítica sobre os dados obtidos.
4 RESULTADOS
A tecnologia é uma poderosa aliada e tem ajudado a diminuir a sensação de isolamento, de solidão e de ansiedade na vigência da pandemia em questão.
Os recursos tecnológicos não são em si nem facilitadores, nem dificultadores de processos de inclusão social, de satisfação e realização pessoal e de grupos sociais, tão pouco promotores de independência e autonomia. Considera-se aqui, que a utilização dos mesmos deve estar contextualizada em processos de construção de histórias de vida particulares, inseridas em processos de exercício pleno da cidadania e de felicidade dos seus usuários. (Rocha, E., & Castiglioni, M., 2005).
Ademais, observamos nesta situação de pandemia que paradigmas são quebrados e certamente passam a formar novos conceitos e nova realidade é criada e vivenciada.
Cabe a raça humana, a reflexão de que tudo é relativo, depende do momento, intensidade e duração para se caracterizar nocivo ou curativo, veneno ou antídoto.
A cultura certo ou errado, também cai por terra, quando é necessário ficar recluso em casa, utilizando-se de artefatos tecnológicos, como única forma de contato educacional, social e laboral.
A dicotomia se reforça quando antes, a tecnologia em excesso era preconizada por muitos especialistas e educadores como perniciosa e que trazia isolamento social, distanciando seus usuários de contato físico e emocional; e agora é imprescindível para evitar o isolamento social , no momento em que a pandemia coloca em risco a vida das pessoas e o isolamento imposto só é quebrado através da mesma tecnologia em questão.
Ressalta-se a necessidade de reinventar estratégias em tempos de crises para que a mediação de conflitos, a empatia, os valores morais, éticos, a legislação e regras sociais façam valer as garantias de sobrevivência, sanidade mental e vínculos afetivos que impulsionam a sociedade e evitam o caos e a sensação de pânico geral.
A colaboração da Sociologia e da História para entender como a sociedade pode se reestruturar após as pandemias, sempre foram estudadas e revistas nestes casos; haja visto que não é de hoje que esta necessidade surge após guerras, pandemias, tragédias sociais, fome mundial e catástrofes naturais.
A História é fonte rica de experiências de como a sociedade se organiza e reorganiza em tempos de dificuldades e como surgem estratégias de enfrentamento de crises e graves ameaças, como as utilizadas na maioria das vezes: a quarentena, o isolamento social e o fechamento de fronteiras para conter a pandemia. Olhando o passado é possível entender os erros cometidos e o que fazer para que eles não voltem a acontecer.
Aqui frisamos o conceito de aprendizagem, vislumbrando que estamos em constante processo em busca de equilíbrio para adquirir conhecimentos.
Para que a aprendizagem ocorra fatores extrínsecos e intrínsecos devem corroborar para que o sujeito assimile conceitos e conteúdos e que possa utilizar de inteligência emocional para gerir momentos de crise.
Pain (2014, p. 65), considera que a dificuldade para aprender e o próprio aprender, são determinados por:
Fatores orgânicos: relacionados com aspectos do funcionamento anatômico, como o funcionamento dos órgãos dos sentidos e do sistema nervoso central;
Fatores específicos: relacionados à dificuldades específicas do indivíduo, os quais não são passíveis de constatação orgânica, mas que se manifestam na área da linguagem ou na organização espacial e temporal, dentre outros;
Fatores psicógenos: é necessário que se faça a distinção entre dificuldades de aprendizagem decorrentes de um sintoma ou de uma inibição. Quando relacionado a um sintoma, o não aprender possui um significado inconsciente; quando relacionado a uma inibição, trata-se de uma retração intelectual do ego ocorrendo uma diminuição das funções cognitivas que acaba por acarretar os problemas para aprender;
Fatores ambientais: relacionados às condições objetivas ambientais que podem favorecer ou não a aprendizagem do indivíduo. (Pain, 2014, p. 65).
Em momentos de pandemia e de isolamento social podemos comprometer o andamento da aprendizagem do ponto de vista acadêmico, levando em consideração os impactos emocionais, mas o ponto crucial é quanto aos ganhos na aprendizagem social, de empatia, de solidariedade, de resolução de conflitos, gerenciamento de estratégias. Combater a disseminação da pandemia torna-se estímulo cognitivo, exercício de paciência, e acesso a teoria da mente e funções executivas.
Já a Psicanálise pode contribuir com o entendimento de como se estrutura o Id, Ego e Superego, do sujeito envolto no medo e ansiedade provocados pelas incertezas e dúvidas a respeito do futuro e como esses registros passam a impactar na saúde mental e no social das pessoas expostas a situações de pressão, como em pandemias e nesta em especial.
O id seria representado por circuitos filogeneticamente mais antigos como os circuitos do tronco cerebral, o feixe prosencefálico medial, da amígdala medial, o septo pelúcido, a estria terminal, o hipotálamo, o núcleo acumbens, o núcleo caudado, o putâmen e os núcleos talâmicos. Emergindo a partir do id, o ego, representado principalmente pelo córtex pré-frontal, tem a função de lidar realisticamente com as pulsões básicas do id e também age como mediador entre as forças que operam no id, no superego e as exigências da realidade externa. O superego, representado principalmente pelo núcleo central da amígdala e pelo córtex da ínsula, atua como um freio modulador em relação aos interesses motivacionais/ pulsionais do id. Ora, o ser humano é um animal social e, se quiser viver com seus congêneres, não pode fazer sempre o que quer e quando quer. De fato, o mundo exterior impõe ao indivíduo limites e proibições que provocam a repressão e a transformação das pulsões, na busca constante de satisfações substitutivas que não transgridem as normas sociais. Em indivíduos normais, essa busca constante pela adaptação ao meio e a procura por prazeres que não prejudiquem as relações intra e interpessoais tendem a levar ao desenvolvimento e fortalecimento progressivos do ego. Lima, A.P. (2010)
A Neurociência e a Psicanálise, ainda sob a ótica da autora, Lima, A.P. (2010) são duas ciências que podem ser complementares e mutuamente enriquecedoras.
Ao entender o funcionamento do cérebro e como o medo e as emoções interferem na aprendizagem, no desenvolvimento humano, no desejo/motivação, desenvolvemos mecanismos para intervir em saúde mental.
Para minimizar o transtorno das fobias, será importante desenvolver uma atitude preventiva por meio da escuta emocional e social do indivíduo, no que tange aos aspectos funcionais do cérebro, da mente e do corpo em relação ao contexto social e ao funcionamento do sistema de recompensa do sistema límbico. Educar a emoção é promover uma habilidade relacionada com o motivar a si mesmo, e a persistir diante das frustrações, controlando impulsos e canalizando emoções para situações apropriadas. (Relvas, M.P. 2019, p.21).
Em momentos de pandemia, principalmente como a da COVID-19, cria-se um ambiente de medo e o cérebro do sujeito reage, ativando áreas relacionadas à tomada de decisão, ativando as amígdalas cerebrais e fazendo com que o indivíduo fique em constante estado de estresse e busca de soluções que devolvam ao organismo a condição de se defender ou fugir da necessidade iminente.
Assim a Psicologia também é poderosa aliada para dar suporte aos que enfrentam essas situações de estresse pós traumático, ansiedades, fobias, depressões, vontade de autoextermínio.
Situações de caos podem desencadear agressividade, irritabilidade e problemas de saúde mental em muitas pessoas. A escuta feita pelos profissionais é assertiva para contribuir com a diminuição dos efeitos psicológicos gerados por situações limite, como a da pandemia.
Segundo Scoz (1999), a família é a instituição educacional mais importante, de maior projeção, responsável pela educação do caráter, da afetividade e do universo emocional e moral de cada cidadão. Quem tem uma família bem estruturada terá maior facilidade em aprender e a se desenvolver na escola em qualquer nível. (Apud ANDRADE, 1999, p.12).
A Psicologia e a Psicopedagogia podem proporcionar este cuidado zeloso as famílias diante do cenário incerto, para que o preceito supracitado, seja resguardado.
Ademais, segundo BOSSA (1994), uma das contribuições da Psicopedagogia é no contexto familiar, ampliando a percepção sobre os processos de aprendizagem de seus filhos, resgatando a família no papel educacional complementar à escola, diferenciando as múltiplas formas de aprender, respeitando as diferenças dos filhos. (BOSSA, 1994).
Interessante ressaltar que a pandemia devolveu as famílias o papel de protagonismo da educação de seus filhos. Com escolas fechadas, muitas atividades escolares ficaram a cargo dos pais e contribuíram para estreitar laços afetivos e vínculos de aprendizagem antes delegados às escolas.
5 DISCUSSÃO
A pandemia trouxe uma mudança radical de paradigmas.
Também trouxe medos, angústias, incertezas, carências por falta de abraços, contatos, toques e aumento dos casos de saúde mental.
O sujeito no cenário da modernidade está acostumado com os avanços tecnológicos e a falta de tempo para investir em relações familiares e sociais; e hoje contraria as ordens de especialistas que determinam que estes precisam de mais tempo ao ar livre, menos horas utilizando artefatos tecnológicos e mais tempo para investir nas relações interpessoais, uma vez que estes equipamentos tornam as pessoas mais isoladas socialmente e sujeitas à vícios e doenças mentais como ansiedade.
Agora, após o COVID-19, verificamos que a situação se inverteu: a internet e os equipamentos eletrônicos, são alternativas necessárias uma vez que a pandemia exige distanciamento social e esta é a forma de estreitar as relações e diminuir a solidão.
Outro paradigma que está sendo revisto são os modelos educacionais que buscam oferecer aulas à distância para evitar prejuízos aos alunos que ficaram em casa, quando as escolas fecharam. Modelos EAD, sempre foram questionados sobre sua eficácia.
Segundo Costa, A.R.(2017), desde que surgiu, a EaD vem levantando questionamentos em relação a sua definição e conceituação. Ao longo dos anos, vários estudiosos vêm tentando conceituar essa modalidade de ensino, apresentando em suas concepções alguns pontos em comum. Guarezi e Matos (2012, p. 18), afirmam que a maioria das definições encontradas para EaD é de caráter descritivo, com base no ensino convencional, destacando, para diferenciá-las, a distância (espaço) entre professor e aluno e o uso das mídias.
Landim (1997) apud Costa, A.R.(2017), estabelecem uma diferenciação entre os termos ensino e educação a distância.
O termo ensino está mais ligado às atividades de treinamento, adestramento, instrução. Já o termo
educação refere-se à prática educativa e ao processo ensino-aprendizagem que leva o aluno a
aprender a aprender, a saber pensar, criar, inovar, construir conhecimentos, participar ativamente de
seu próprio conhecimento (LANDIM, 1997, p. 10).
Com a pandemia a educação precisou ser repensada e esta autonomia no processo, delegada aos alunos, com mediação de professores em salas de aulas virtuais e com a utilização da tecnologia, para garantir a segurança e que o processo de ensino e aprendizagem não sejam interrompidos.
Ademais, torna-se comprovada a eficácia do uso de tecnologias de informação e comunicação (TICs), como ferramentas desta modalidade de ensino.
Intervenções clínicas de muitos profissionais liberais estão sendo feitas através de plataformas digitais para oferecer as intervenções aos pacientes e estão sendo autorizados por seus conselhos profissionais. Cabe lembrar que neste momento cada área de conhecimento está prestando auxilio a comunidade para trazer alento e minimizar os transtornos causados pela pandemia. Ademais, serão muito importantes na reconstrução do sujeito biopsicossocial que deverá administrar seus traumas, ansiedades e dificuldades para lidar com as situações que ainda surgirão: crise financeira, desemprego e queda no poder aquisitivo.
A ludicidade é outro aspecto esquecido em tempos modernos que foi ressignificado. Em tempos de pandemia as famílias buscam brincadeiras e estratégias lúdicas para vencer o isolamento e os dias de clausura e redescobrem a importância do brincar para as crianças e como pode ser prazeroso este exercício, quando este estreita laços afetivos .
Grandes autores psicanalistas como Freud, Melaine Klein, Winnicott, entre outros, ocuparam-se em demonstrar sua importância no processo de desenvolvimento e aprendizagem infantil. E podemos verificar que na atualidade, o brincar vem sendo negligenciado por escolas, profissionais e educadores, uma vez que este não tem espaço na vida dos aprendizes, que estão sobrecarregados de conteúdos e atividades para se atingir as metas e padrões assertivos para passar em concursos e vestibulares.
Os autores Lia Keuchguerian Silveira Campos e Sérgio Luiz Saboya Arruda (2014), contextualizaram o brincar e reafirmaram que este serve como meio de expressão e de comunicação na psicoterapia psicanalítica e destacaram o fato de que Freud não se ocupou diretamente da análise de crianças. Entretanto, lançou a pedra fundamental daquilo que viria a ser a psicanálise de crianças, ao observar um menino de um ano e meio de idade que brincava com um carretel de linha e após o afastamento da mãe postulou que as brincadeiras na infância seriam “um método de funcionamento empregado pelo aparelho mental em uma de suas primeiras atividades normais” (Freud, 1920/1996, p. 24). Os autores também demonstraram como no estudo de Winnicott (1971), que o brincar é universal e próprio da saúde, facilita o crescimento, conduz aos relacionamentos grupais e pode ser uma forma de comunicação na psicoterapia. “A psicanálise foi desenvolvida como forma altamente especializada do brincar, a serviço da comunicação consigo mesmo e com os outros” (Winnicott, 1971, p. 63).
Nas crianças, além de não haver um aparelho mental desenvolvido e capaz de se expressar por palavras, a ansiedade impede as associações verbais. A representação por meio de brinquedos, por estar de certa forma afastada da própria criança, está menos investida de ansiedade. “Se conseguirmos aliviar a ansiedade e obter, numa primeira instância, mais representações indiretas, não há dúvida de que poderemos trazer para a análise a mais completa expressividade verbal de que a criança é capaz” (Klein, 1927/1996, p. 176).
Podemos constatar que a pandemia corroborou para ressignificar para as famílias e crianças o brincar e com isso utilizar a ludicidade como ferramenta de alívio psicológico enfrente a situação de confinamento que pode trazer em muitos casos, graves consequências à saúde mental de todos.
Certamente, valores bioéticos e humanos, credos e empatia deverão sofrer modificação na maneira de agir e de pensar de todos os envolvidos. Estes conceitos de ensino e aprendizagem, família, valores morais e de teoria da mente parecem ser reforçados em pandemias, como a da COVID-19.
6 CONCLUSÃO
Ressignificar conceitos e a forma de condução social é necessário neste momento de grande apreensão sobre o futuro da humanidade. Outrossim, visualiza-se que além de vencer a pandemia, será preciso enfrentamento diante das inúmeras dificuldades e prejuízos advindos dela.
A pandemia do COVID-19 será lembrada pelas futuras gerações como um marco na história da humanidade, assim como a Gripe Espanhola, a Peste Negra, o Ebola, as SARS e tantas outras pandemias que mudaram os rumos da história.
É inegável os efeitos catastróficos que ela gerou: mortes, caos na economia mundial, na vida das pessoas impondo isolamento social. Mas também será lembrada pela oportunidade de se repensar conceitos, quebrar paradigmas, buscar a reflexão para os rumos da humanidade e sua eminente necessidade de preservação da natureza, dos recursos naturais, da vida, do ecossistema.
A pandemia mostrou ao homem o quanto ele é vulnerável e que num estalar de dedos podemos sucumbir a extinção se nossas atitudes diante da vida e da natureza não forem imediatamente repensadas.
Raças, gêneros, condição social, credos, nada importa nesse momento. Somos todos levados na mesma correnteza catastrófica que não distingue ninguém. Agora não temos cidadania, moedas, diferenças. Somos apenas irmãos e habitamos a terra e estamos lutando pela preservação da vida.
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