O DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS E A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO COM DUPLO FOCO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: ALGUNS APONTAMENTOS
Maria Aurenívia de Oliveira Viana Souza¹
RESUMO
Esta artigo se trata de um ensaio acerca da minha pesquisa de mestrado em Ciências da Educação. Nesse âmbito, esta pesquisa permeia o cenário do desenvolvimento das competências socioemocionais e a importância do planejamento pedagógico com duplo foco nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Com efeito, discorremos a implementação de práticas educacionais voltadas à disseminação e desenvolvimentos das competências socioemocionais no contexto escolar tendo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como documento basilar que embasa essa temática, e o planejamento pedagógico homologado pelas assertivas de Cunha (1989), Maximiano (2004), Oliveira (2007), dentre outros autores/pesquisadores que discorrem sobre esta temática tão difundida no meio acadêmico. Como metodologia, optamos pela revisão bibliográfica de literatura, no qual selecionamos os principais textos que discorriam acerca de supracitada temática. Quanto ao planejamento, sabemos que seu legítimo significado está fundamentalmente vinculado aos objetivos do docente, destinado ao ensino de um conteúdo de ordem teórica, muitas vezes está desarticulado de sua prática, sobretudo quando é elaborado por uns para ser executado por outros. Quanto as competências socioemocionais, constatamos que o objetivo da Educação emocional não se centra na mensuração da inteligência, mas em sua otimização, partindo da educação das emoções. Nesse sentido, constitui-se num processo complexo de construção permanente, originado no seio da família, perpassando pela escola e continuando por toda a vida.
Palavras-chave: Competências socioemocionais. Planejamento pedagógico. Ensino Fundamental.
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¹ Mestranda em Ciências da Educação.
1 INTRODUÇÃO
É de conhecimento geral no campo acadêmico a necessidade de compreensão e domínio das habilidades socioemocionais dentro de um contexto de vivência comunitária, no âmbito escolar, portanto, essas habilidades se fazem extremamente necessárias no que diz respeito ao desenvolvimento e formação das crianças. De acordo com Golleman (1995, p. 276) apud Rodrigues; De Carvalho; De Souza Melo (2021, p. 151) “[…] ser emocionalmente alfabetizado é tão importante na aprendizagem quanto a matemática e a leitura”, essa premissa abordada pelo autor corrobora a afirmação aqui feita da importância de um conhecimento das competências socioemocionais para um melhor aproveitamento do processo de ensino aprendizagem dos discentes.
Assim, para que a implementação e valoração dessas habilidades sejam validadas, é de extrema importância o conhecimento por parte de pais e docentes, da positividade ocasionada por essa prática, e como a mesma contribui, fundamentalmente, para o desenvolvimento dos estudantes, sobretudo, nos anos iniciais de ensino. Dessa maneira, é possível afirmar que as competências socioemocionais servem como um elemento de ligação entre os conteúdos dispostos pelos docentes em sala de aula, contribuindo dentro do âmbito escolar para o estabelecimento de um ambiente mais favorável ao ensino, culminando na elevação dos índices de aprendizado.
Para Marturano e Loureiro (2014), ao longo do seu percurso de desenvolvimento, a criança atinge diversas etapas nas quais necessitará de apoio emocional do meio ao qual está inserida, nesse sentido, o começo da interação com a escola, que ocorre por volta dos 6 aos 12 anos de idade, se configura como uma dessas etapas nas quais o indivíduo interage e experimenta o meio social no qual irá conviver, desenvolvendo assim, seu autoconceito e autoeficácia em relação ao seu desempenho acadêmico e social.
Os autores afirmam ainda que o desempenho dessas crianças afeta seu entendimento acerca de si mesma, e, por sua vez, o entendimento feito a respeito de si afeta o seu desempenho no campo acadêmico, tanto de maneira positiva quanto negativa, esse reflexos podem culminar na reprodução de comportamentos inadequados, além de autoconceitos negativos (MARTURANO; LOUREIRO, 2014).
Dentro do papel de construção afetiva, no que diz respeito ao bem estar psicológico e aos sentimentos individuais como um todo, a família sempre foi posta como o centro de tudo, como instituição responsável por guiar e ensinar a lidar com esse tipo de fator social, contudo, com transformações recorrentes e significativas na estrutura familiar dos lares, a tarefa de auxiliar no domínio e conhecimento das competências socioemocionais passou a ser tida como papel das instituições de ensino (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2014).
Dessa forma, usufruir de um certo domínio de suas competências socioemocionais pode ser favorável aos indivíduos não somente no que se atém ao campo educacional, posto ser possível visualizar benefícios advindos dessa prática também no contexto social ao qual estão inseridos, como a habilidade de lidar com situações adversas no cotidiano. Além dos benefícios pessoais, a longo prazo o desenvolvimento dessas competências pode se mostrar favorável para a edificação de uma sociedade melhor, ao passo que estas podem formar cidadãos críticos e conscientes.
A necessidade de implementação de práticas educacionais voltadas à disseminação e desenvolvimentos das competências socioemocionais no contexto escolar se mostram extremamente necessárias, em decorrência disto, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece parâmetros de fundamentação que devem servir para guiar as instituições e os docentes na tarefa de promover um maior entendimento desse assunto.
Se atendo à reflexão acerca das habilidades socioemocionais, convém pensar que no que diz respeito ao ensino infantil e fundamental, não é possível fazer uma distinção das áreas de aprendizagem, pois o ideal é que se faça uma junção de ambas, o que favorecerá ao desenvolvimento do aluno, dessa forma, os aspectos cognitivos e emocionais precisam se complementar no processo de formação do sujeito.
A escolha pela temática acerca do desenvolvimento das competências socioemocionais e a importância do planejamento pedagógico com duplo foco nos anos iniciais do Ensino Fundamental, se deu pelo fato de eu ser professora das séries iniciais e querer desvendar como ocorre a influência dos mecanismos socioemocionais com meus alunos, e de que forma o planejamento dos docentes é influenciado nas peculiaridades educacionais e emocionais dos alunos.
Para tanto, no intuito de permearmos esse universo dos estudantes do Ensino Fundamental, é que teremos por objetivo geral analisar o contexto do ensino e aprendizagem em que as competências socioemocionais são desenvolvidas no cotidiano escolar dos aprendizas, e como o professor age mediante a necessidade de fornecer suporte aos alunos em anos iniciais.
2 A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NO CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS
Muito se discute a respeito do papel da escola e da família no contexto educacional do aluno, um fato primordial para a compreensão dessa relação é a realidade de inversão que esses papéis tiveram ao longo dos anos, fundamentalmente em decorrência das diversas configurações que as famílias modernas passaram a ter. É válido salientar que ambas as instituições sociais, família e escola, configuram-se como base da formação pessoal de cada indivíduo, possuindo assim uma carga de responsabilidade fundamental no que diz respeito ao desenvolvimento destes.
O papel de orientar e apoiar as famílias agora é designado as escolas, que assumem também uma responsabilidade maior para com o discente, passando a ser pontos de apoio, promovendo o acolhimento e cuidando dos mesmos. Dessa maneira, a instituição escolar passou a figurar como uma extensão das experiências construídas dentro do âmbito familiar, tornando-se assim parte fundamental da formação dessas crianças.
Dentro desse contexto, como explanado na introdução desta pesquisa, a educação inserida na conjuntura do desenvolvimento emocional dos discentes é comumente ligada ao âmbito familiar, no entanto, tal cenário foi se modificando com o passar do tempo, e um novo quadro foi desenhado quanto ao que significa estrutura familiar, posto valer tal responsabilidade como uma incumbência da escola, tendo nas instituições o início para a compreensão e prática das habilidades (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2014). Ainda que essa afirmativa tenha se corroborado com as práticas, isso não quer dizer necessariamente que somente a escola deva se responsabilizar pelo desenvolvimento dessas competências, o que deve haver é uma junção de esforços voltados para o mesmo fim.
É importante compreender que tendo a família como a primeira organização social à qual o indivíduo, é nela que o mesmo terá sua base, sua fundação e por meio dela que estruturará suas futuras relações e sua forma de lidar com o mundo. Em virtude disso, a família é que será responsável inicialmente por transmitir saberes e promover exemplos, sejam eles negativos ou positivos, assumindo assim um papel crucial na formação pessoal e social dos estudantes, refletindo diretamente não só nos aspectos particulares e sim no processo educativo como um todo.
Bossa (2008) salienta que a família é o primeiro espaço do qual as crianças terão referência, e que em conjunto com a escola, é possível possibilitar um ambiente de desenvolvimento favorável para esses indivíduos. O autor enxerga o ambiente escolar como um elo que liga as vivências de casa com os familiares, com a formação de um estudante que consegue adquirir saberes sistematizado por meio dos campos de experiência de ensino.
Dessa forma, é possível perceber a influência e o impacto causado pelas relações familiares dentro do processo de evolução cognitiva dos discentes. O processo de externar os horizontes e adotar outras fontes de ligação com o mundo externo além da família, possibilita ao indivíduo o desenvolvimento de uma nova ponte de relação com seus professores, o que auxilia a criança na obtenção da autonomia, passando a poder construir seu próprio saber por meio das vivências tanto escolares quanto familiares.
2.1 A educação emocional
O ato de educar sempre foi considerado como um exercício do. Afirma-se que o ato de educar é um ato de emoção, de exposição de sentimentos que garantem ao ser humano expressar o que se passa em seu interior bom convívio em comunidade, buscando a transformação e o desenvolvimento do ser humano. Essa convivência está respaldada na responsabilidade para com o outro e no respeito mútuo, que busca criar todo um clima de harmonia
Atualmente vive-se um tempo marcado por valores humanistas distorcidos que causam aos educadores momentos de incertezas e dificuldades. Percebemos uma desenfreada onda de violência nas famílias, nas escolas e na sociedade. Há menos de três décadas, o falar alto na sala, xingar ou bater em colega eram o que se considerava o de mais violento em sala de aula; diferente dos dias atuais, nos quais se veem alunos totalmente indisciplinados, sem respeitar aos colegas e professores. Diante desse cenário de distorção dos valores enxerga-se a grande necessidade de entender como a educação escolar poderá cooperar no equilíbrio da sociedade. E mais, como a Educação Emocional pode conduzir o aluno a equilíbrio entre cognição e emoção, entre epistemologia e afetividade.
Por muito anos as emoções foram consideradas como forças irracionais e que dividiam as pessoas, sendo definida como o contrário da razão. Hoje vários são os estudos acerca das emoções, sendo as mesmas definidas como estímulos à cognição humana. Entretanto, não se pode negar que em determinadas situações, as emoções podem ser extremamente negativas e exercer um controle, muitas vezes, sem explicação nas ações humanas. Porém, na grande maioria das situações, algumas circunstâncias que aparecem no cotidiano, suscitam emoções que contribuem consideravelmente para o desenvolvimento do pensamento.
As pessoas apresentam algum tipo de reação quando são expostas a determinadas situações em sua vida, contudo, essa reação não é a mesma para cada indivíduo, porque diante de situações consideradas desagradáveis, é totalmente normal que se tenham reações consideradas extremas, sendo pouco racionais. Isso não constitui uma regra geral, uma vez que muitas pessoas também podem apresentar reações bem elaboradas e que podem ser consideradas positivas em relação ao momento pelo qual estão passando. No fim, não se pode desconsiderar as possibilidades de que as emoções e a razão das pessoas são controladas por um contexto cultural e social.
Para Santos (2000), a finalidade da Educação Emocional é ensinar as pessoas a identificar e reconhecer suas emoções e sentimentos, a aprender a avaliar suas intensidades, e as expressões corporais correspondentes, no momento em que ocorrem. Oportuniza à pessoa conhecer suas emoções e a se colocar no lugar do outro diante de diferente contextos. No meio escolar tem como finalidade atuar preventivamente, pois quando o aluno adquire competências pessoais e sociais torna-se capaz de avaliar, expressar e adequar as suas emoções, comportamentos e atitudes.
Portanto, a relação de interdependência entre a emoção e a razão são fundamentais para oferecer ao ser humano subsídios necessários para o desenvolvimento e crescimento da espécie. É a partir das emoções que a vida humana é organizada. Apesar de tantos avanços pedagógicos e tecnológicos utilizados no processo educacional, as gerações que estão surgindo tem demonstrado uma grande falta de competência emocional e social. Portanto, a intenção maior dessa pesquisa é contribuir para melhor compreensão do que vem a ser a inteligência emocional, qual a sua importância para a vida (particular e profissional) das pessoas e principalmente dentro do ambiente escolar.
2.2 As competências socioemocionais no cenário pandêmico
Dentro de um cenário completamente novo e inesperado como o que se instaurou ao redor do mundo, com a pandemia de Covid-19, medidas sanitárias de contenção se fizeram necessárias, dentre elas, a adoção de um regime emergencial de isolamento social e em decorrência disto, a suspensão das aulas. Nesse
contexto, o lockdown implementado pelos governos mundiais para a contenção de propagação do vírus afetou, aproximadamente, 70% da população estudantil ao redor do mundo de acordo com dados da UNESCO (2020). Desta forma, não se pode negar que de alguma forma essa nova realidade afetou a vida estudantil de milhares de discentes, causando um impacto imensurável na rotina de estudos e forma de trabalho de professores inseridos nesse contexto.
Como forma de resposta à adaptação do processo de ensino, surge a necessidade de implementação das competências abordadas na BNCC como uma forma de manutenção dos processos pedagógicos de ensino-aprendizagem. Mediante a constituição de um contexto educacional totalmente atípico, no qual as adequações exigidas por parte dos docentes lhes causa uma série de sobrecarga em decorrência de fatores como crescimento do volume de trabalho, e até mesmo por conta da carga emocional e psicológica sofrida em um momento de distanciamento social (CRAWFORD et al., 2020; BASILAIA; KVAVADZE, 2020; DURAKU; HOXHA, 2020), a preocupação constante com os processos pedagógicos, e a compreensão de que o retorno tido dentro do ambiente virtual não se manifesta da mesma forma como no ensino presencial, somada a uma necessidade de organização constante do trabalho a ser desenvolvido, implica, diretamente em estados de ansiedade, insegurança e desconforto nos docentes (DURAKU; HOXHA, 2020).
Ainda neste sentido, o contexto pandêmico põe o professor em um estado de constante desafio frente a necessidade de reflexão acerca de sua forma de lidar e sua relação com o discente, já que a troca de conhecimento não se dá somente pela exposição do conteúdo, e sim por meio da experiência, da maneira que as competências/habilidades socioemocionais servem de base, atuando como um recurso fundamental para a reflexão e reinvenção do seu papel de docente. Ademais, além de permitir a prática da reflexão sobre o ser docente, as habilidades socioemocionais contribuem de forma a preparar o profissional para lidar com o novo modelo de ensino, utilizando-se desses conhecimentos também em prol de desenvolvimento de métodos para lidar com seus estados de ansiedade, pressão e sobrecarga.
Dentro de todas as dificuldades dispostas na transição para o ensino remoto, sua adaptação, o entendimento de sua forma de funcionamento e outras, o fato comum que se faz presente é que de alguma forma, tanto docentes quanto discentes foram afetados diretamente pela abrupta mudança ocorrida. No que concerne aos discentes, as maiores dificuldades apresentadas se pautam na maior chance de distração, bem como a ausência de disciplina na hora dos estudos, dentre outros fatores não psicológicos associados (SUN et al., 2020).
É importante validar que, como discorre Crawford et al., (2020), atualmente ainda existem poucos estudos concentrados nas estratégias pedagógicas de ensino para o ambiente remoto, dessa forma, as dificuldades citadas tornam-se mais complexas de serem resolvidas, pois esse processo requer uma maior experimentação de hipóteses, observando assim as que funcionam e quais não se concretizam.
A pandemia em geral tem atuado como fator determinando para que se faça um raio x sobre a verdadeira realidade da educação em âmbito nacional.
Avelino e Mendes (2020) enfatizam que, com esse estado atual, no campo educacional, fatores como a desigualdade social, a ausência de formação contínua dos docentes, de recursos tecnológicos no dia a dia das escolas, e a dificuldade de obtenção desses recursos por parte de discentes e professores têm se relevado como uma situação crítica.
Ademais, esse cenário tem propiciado também como já supracitado, um impacto direto sobre a saúde mental dos docentes, uma vez que esses não dispõem de recursos suficientes e nem auxílio na adaptação do seu ser docente, o que culmina mais uma vez na sobrecarga sentida pelos mesmos.
Assim, podemos perceber que a urgência de estratégias e recursos que propiciem o auxílio aos docentes na sua prática se faz presente, nesse sentido, reflexões acerca dos processos educacionais partindo da relação com o aluno tornam-se fundamentais para o desenvolvimento dessa estratégias. É nesse cenário que entram as habilidades socioemocionais, a necessidade de reflexão acerca do uso das mesmas como meios para desenvolver subsídios que auxiliem o professor em seu papel e permitam o enfrentamento à pandemia e as constantes mudanças na educação brasileira.
2.3 COVID-19 e o emprego das competências socioemocionais
A nova realidade trazida pela pandemia de Covid-19 tem causado, além dos sintomas físicos presentes em suas vítimas, abalos no campo emocional de todos aqueles que presenciam tal fato, esse contexto foi responsável por alterar, de forma significativa os relacionamentos presentes na sociedade. Assim, diante destes fatos, e das novas demandas surgidas no campo educacional em decorrência destes, as competências e habilidades socioemocionais entram em discussão por possibilitarem uma formação ampla, que prepare o indivíduo para lidar com as mais diferentes situações possíveis hoje na sociedade.
Para desenvolver comportamentos e ações que sirvam como forma de resposta, lidando com situações adversas como essas, é necessário empregar o ensino e aperfeiçoamento das competências socioemocionais. Nesse sentido, Schorn (2018) salienta que essa discussão vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade, fundamentalmente no que se refere ao âmbito educacional, já que se trata de um conjunto de habilidades que aperfeiçoam as relações interpessoais e afetivas de forma conjunta com a percepção individual, e também a forma como o indivíduo sente e nomeia seus sentimentos.
Ainda que a implementação das habilidades socioemocionais se concretize como um processo recente, é possível compreender sua importância dentro de um contexto tão adverso ao qual estamos inseridos atualmente. Nesse sentido, é fundamental validar que estratégias voltadas ao desenvolvimento e aperfeiçoamento das competências socioemocionais dentro desse cenário é imprescindível, já que as mesmas podem atuar como fornecedoras de subsídios no enfrentamento de suas problemáticas dentro do campo educacional.
De uma forma mais simples podemos dizer que esses recursos podem se tornar fundamentais no auxílio aos docentes e discentes, uma vez que migrar as atividades presenciais para o campo virtual de forma provisória, e ter que exercitar a reflexão acerca do processo de retomada das atividades presenciais exigem habilidades capazes de resolver problemáticas, desafios, assim como promover a discussão de propostas inovadoras e criativas, considerando sempre uma postura empática para com aqueles indivíduos envolvidos no processo.
Se considerarmos que as atividades remotas constituem um processo organizacional dentro da rotina das crianças e adolescentes, o discente se torna fundamental não somente no que diz respeito à transmissão dos saberes, mas sobretudo na elaboração das estratégias emocionais que a relação docente-aluno pode possibilitar. Quando se considera um cenário adverso como o da pandemia de Covid-19, a forma de lidar com essa realidade demanda competências emocionais que podem se encontrar ainda em aperfeiçoamento, principalmente quando falamos das crianças inseridas nesse cenário.
Assim, sendo inseridos de forma obrigatório dentro do contexto pandêmico, o momento atual requer que tanto os adolescentes quanto às crianças respondam às exigências sociais em decorrência de uma situação que não dispõe de controle humano, essa realidade possibilita a esses indivíduos o desenvolvimento das habilidades socioemocionais por meio do estabelecimento de uma relação com um adulto que o guiará e influenciará dentro dessa construção. Nesse sentido, é válido destacar que a postura do docente como ouvinte e fundamental no acolhimento dos discentes, abrindo espaço para o compartilhamento de suas angústias (DUNKER, 2020), essa estratégia pode também possibilitar uma reflexão sobre a educação no contexto de pandemia.
Atualmente, a família passou a ser inserida na educação dos alunos com ensino sendo ofertado de maneira provisória, dentro dos lares. Em decorrência disto, tanto pais, quanto discentes e alunos estão vivenciando uma nova forma de rotina, incluindo dentro desse processo novas ferramentas de ensino, uma realidade nunca antes vista. Dentro do cenário de incertezas que a pandemia propiciou, as inseguranças se fazem cada vez mais presentes, e estados constantes de ansiedade e medo passam a dominar a maior parte da população.
Dentro dessa realidade, fomentar ações de solidariedade acaba tornando-se algo intrínseco a grande parte da população, quase como se essa se fizesse como uma obrigação social. Mediante a implementação dessa nova regra social, os indivíduos são testados a todo tempo, sendo desafiados a pôr em prática a empatia, a responsabilidade, a resiliência, o cuidado consigo e com o próximo, assim como na questão de manutenção do foco, seja no campo educacional ou laboral, característica essa que remete a uma nova forma de organização.
Diante dos expostos pode-se perceber o quão o estudo e a compreensão do universo das habilidades socioemocionais tornaram-se fundamentais e evidentes em um contexto adverso, especialmente no que diz respeito à reinvenção e adaptação aos quais os docentes e alunos foram submetidos de forma abrupta, tendo que encontrar novas maneiras de implementar aquilo que sempre fizeram, e ainda sustentando uma visão crítica e reflexiva para as informações ao seu redor (FURTADO, 2020).
Os métodos pedagógicos implementados dentro dos processos didáticos pautam-se principalmente no apoio das tecnologias disponíveis no mercado (CRAWFORD et al., 2020). Por conta disso os docentes sofrem sobretudo com as incertezas trazidas pela realidade atual, assim como em decorrência de inseguranças técnicas que os fazem se adaptar às novas formas de tecnologia para que possam exercer seu papel e conservar a proximidade de seus alunos.
Nesse sentido, esses profissionais necessitam de constante aprendizado, esse processo de construção se associa diretamente às competências socioemocionais, sendo estas características inseparáveis do processo de aprendizagem se considerarmos se tratar de comportamentos formados nas relações proporcionadas, que englobam de forma inegável a formação e o desenvolvimento dos indivíduos (SCHORN, 2018).
Podemos perceber por meio disto que as competências socioemocionais precisam ser empregadas tanto no contexto da aprendizagem virtual quanto no emprego gradual das estratégias de retorno às atividades presenciais. Quando emana dos professores o sentimento de segurança e apoios os discentes têm seu processo de desenvolvimento pessoal e pedagógico aperfeiçoado. Na contramão disso, se a relação estabelecida com seus professores se traduz em sentimentos de medo ou insegurança, o processo de aprendizagem como um todo pode vir a ser prejudicado, isso porque tanto os adolescentes quanto as crianças inseridas em um contexto educacional necessitam de auxílio no desenvolvimento de suas habilidades, para que assim aprendam a lidar com situações adversas e de estresse (FURTADO, 2020).
O auxílio prestado pelos professores pode se concretizar no encontro, no espaço que forma a relação pedagógica. De outra maneira podemos dizer que as competências socioemocionais podem ser discutidas no ambiente da sala de aula com o intuito de propiciar a formação de um espaço de escuta e fala, fazendo com que os discente sintam-se mais seguros e livres para compartilhar seus sentimentos, pensamentos e medos, tanto em relação ao cenário pandêmico no qual vivem, quanto em relação às suas expectativas futuras sobre a escola e seu próprio futuro. Desta forma, por meio de um esforço conjunto, docentes e alunos podem descobrir e construir estratégias para enfrentar as dificuldades, tornando a sala de aula mais atrativa na formação do saber, aproximando assim a experiência tida pelo discente do conteúdo transmitido.
Sob a perspectiva de Furtado (2020), as demandas atuais da sociedade, ocasionadas pela pandemia propõem a reflexão de forma obrigatória para discutir como a adaptação a essa nova realidade, que se concretiza principalmente no cenário da educação pública. O autor defende ainda que os processos contemporâneos de educação devem ser pensados dentro de um cenário excepcional, considerando, fundamentalmente, situações importantes de perdas e prejuízos. Como forma de lidar com uma situação como essa, é necessário proporcionar um resgate do real espírito do ato de educar, pois, mais do que nunca, frente a sentimentos de medo e insegurança, faz-se necessário exercitar a resiliência. Ainda na visão do mesmo autor, o momento atual pelo qual passa a humanidade é o que de melhor aconteceu no novo mundo, uma vez que obrigatoriamente os indivíduos necessitam de mais cuidado, solidariedade, criatividade, e se espera que em um futuro próximo, que valorizem, sobretudo, os momentos pelos quais passaram.
De acordo com Vinha (2020), a instituição educacional necessita implementar ações acerca dessas competências, tratando-as como quaisquer outro assunto do currículo escolar, principalmente se considerarmos que não se atém somente ao estudo das emoções, e sim de todo um conjunto de habilidades que uma vida saudável emocionalmente requer. Nesse sentido, a autora salienta que a ideia defende que os discentes exercitem competências que os ensinem a cooperar, escutar o próximo, e principalmente tomar decisões fundamentadas em princípios éticos, não somente em vista dos conteúdos tradicionalmente abordados em sala de aula, mas para além deles.
Assim, se faz necessário refletir acerca da relação pedagógica e qual o papel do docente dentro do processo de ensino, tendo em mente que dentro dessa relação é possível estabelecer a transmissão de segurança, convicções e identidades. Destarte, é possível identificar um processo de indissociabilidade entre aspectos cognitivos e emocionais.
Ainda que seja fundamental a implementação da discussão sobre as competências socioemocionais em um cenário de pandemia, já que essas podem ajudar a refletir sobre os processos pedagógicos como um todo, o que se compreende é que muitos docentes ainda carecem de informação nesse sentido, muitas vezes não possuem nem formação acerca desse tipo de estratégia, o que dificulta a inserção de debates nesse sentido.
Essa realidade pode ocasionar falhas e até um possível entrave na transição do ensino presencial para o online, e o que pode refletir também no retorno gradual para as atividades presenciais, ou mesmo na implementação de um ensino híbrido. Em decorrência desses fatores, é possível perceber a necessidade urgente de um olhar mais extenso para o campo educacional, com a possibilidade de ampliação dos investimentos e fundamentalmente, formação continuada de docentes que já atuam nas escolas públicas.
3 DISCUSSÃO
O presente estudo teve como finalidade abranger as reflexões acerca das competências e/ou habilidades socioemocionais, considerando seu contexto histórico até sua implementação na Base Nacional Comum Curricular, com a obrigatoriedade de inclusão nos currículos do ensino da educação infantil, fundamental e médio. Buscou-se discutir os aspectos mais importantes da implementação das competências que buscam auxiliar o processo de ensino aprendizagem e o desenvolvimento pessoal e cognitivo dos alunos.
Com base nos expostos elaborados por diversos autores, e sobretudo as diretrizes que regem a BNCC quanto ao emprego das competências socioemocionais, a discussão foi guiada, expandindo sua perspectiva para a necessidade do uso dessas habilidades dentro do cenário pandêmico atual como forma de estratégia para lidar com as situações adversas encontradas decorrentes da Covid-19.
A discussão foi crucial para o desenvolvimento da percepção dos novos modos de educação que atualmente estão sendo implementados, desconsiderando totalmente a figura tradicionalista do professor como o indivíduo responsável somente pela transmissão do conhecimento, desprovido de quaisquer sinal de empatia e migrando para uma nova construção do sentido do saber docente, possibilitando a nova formulação da imagem desse profissional como alguém que seja capaz de praticar a empatia e ir além do campo cognitivo, aliando a teoria à prática.
Compreender as competências socioemocionais e suas ramificações, tanto no campo educacional quanto social, se concretiza cada vez mais como a chave para o fortalecimento e o crescimento pessoal dos indivíduos. Nesse sentido, é fundamental o papel do docente no ensino das habilidades, promovendo dessa maneira uma formação completa, ensinando-os a praticar a empatia, se adaptar a novas realidades e exercitar a capacidade de reinvenção. Nesse viés, a implementação das competências socioemocionais incutiu nos indivíduos, tanto pais, quanto alunos, professores e sociedade em geral a necessidade da discussão e reflexão acerca dessas habilidades, abrindo espaço assim para o desenvolvimento e aperfeiçoamento delas em prol da construção de sujeitos mais conscientes, empáticos e criativos, que sabem se posicionar e encarar as adversidades do cotidiano sem se deixar abater.
Em um cenário completamente diferente do comum, como a atual pandemia de Covid-19, uma sensação constante de incerteza e insegurança assolam a maior parte da população. Nesse sentido, para o enfrentamento de uma crise de tamanhas proporções, se faz necessário a habilidade de se adaptar e se reinventar frente aos novos desafios. No cenário da educação, esse desafio se concretiza na transposição das aulas presenciais para as aulas emergenciais de forma remota, que causam problemáticas tanto na visão do docente quanto para o aluno inserido nesse contexto.
Nesse viés, uma das principais estratégias que podem ser adotadas se concretizam no ato de ouvir, por meio da escuta pode haver a introdução de um processo de resgate do processo educativo como uma ato de humanidade, voltado para trabalhar não só a parte cognitiva, e sim o lado sensível do ser humano. O alinhamento da racionalidade com o lado emocional pode apresentar inúmeros benefícios para o desenvolvimento humano, fundamentalmente no que concerne a sua relação consigo mesmo e sua relação com o mundo.
A reinvenção dos espaços escolares como lugares de prática e aperfeiçoamento das habilidades socioemocionais pode ser elaborado de forma conjunta, tomando as experiências tanto dos professores quanto dos alunos na construção de um “escola do futuro”. Da mesma forma que é necessário um esforço conjunto das partes envolvidas no processo para o aperfeiçoamento da prática docente, é crucial que haja mais investimentos no campo educacional que façam com que as ações de implementação desses processos pensados sejam possíveis.
Ao passo que existem estudos e debates nos campos educacionais acerca do emprego das habilidades socioemocionais como estratégias de ensino, há uma ausência de investimentos como já mencionado, contudo, essa realidade não pode ser transformada enquanto os órgãos governamentais responsáveis não assumirem essa pauta para si. As escolas por si só não dispõem de recursos suficientes para bancar de forma autônoma a inserção dessas pautas, já existe dentro desses espaços uma alta carga de trabalho e, consequentemente, a sobrecarga de grande parte, ou mesmo todos os funcionários atuantes nesses espaços, de forma particular, os docentes.
Dentro das alternativas ao alcance dos órgãos competentes é possível destacar o investimento em infraestrutura, com espaços adequados a implementação dos processos educacionais, bem como condições melhores de trabalho para os docentes inseridos nesses contextos, e principalmente formações profissionais. Em parte, as expectativas melhores de futuro para as crianças e jovens inseridas nessa realidade dependem, fundamentalmente da aposta do governo.
Retornando então a questão pandêmica abordada no presente estudo, a reflexão suscitada a respeito das competências socioemocionais como estratégias de adaptação e enfrentamento, possibilita a criação de novas ações, considerando de forma crucial, a singularidade dos indivíduos envolvidos no processo. Aspectos como a realidade social ao qual a instituição de ensino está inserida se concretiza como pauta extremamente importante desse processo.
Dentro desse contexto, Abed (2014) salienta que o processo de educação emocional se enquadra na formação do aluno como estratégia para obter um melhor conhecimento sobre si mesmo, considerando, claro, os outros que convivem consigo independente de se inserirem ou não no contexto escolar. Assim, pode-se gerar um melhor convívio social, tanto dentro de sala quanto fora dela com aqueles que o rodeia. Ademais, por meio do desenvolvimento das competências socioemocionais dos discentes, transformações no comportamento desses indivíduos, bem como uma melhor aprendizagem, desde que essa habilidades/competências sejam bem fomentadas por profissionais qualificados.
Destarte, para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra de forma satisfatória é crucial que o aluno esteja inserido em um ambiente que propicie esse processo, sendo de responsabilidade do docente, gestão, e principalmente do apoio familiar para que isso se realize, para proporcionar esse espaço agradável, de segurança e afetividade. O aluno inserido nesse contexto torna-se capacitado para reconhecer de forma mais clara suas atitudes, emoções e habilidades. Assim, com o intuito de alcançar um melhor desempenho no processo de ensino é necessário que as atitudes e habilidades sejam postas em prática, fomentando o desenvolvimento das competências socioemocionais nos alunos.
É válido considerar que o espaço da sala de aula não se faz e não deve de forma alguma se concretizar como um espaço de terapia, nesse sentido, quando se discute o desenvolvimento das habilidades socioemocionais não se quer dizer que a sala de aula deva ser um lugar para diagnóstico e tratamento de quaisquer problemas, o que se debate então é o resgate da multiplicidade de características de vivências humanas. É o efeito contrário ao que se impunha de negar as emoções como se elas simplesmente não existissem, é assumir sua existência e trabalhar aspectos que ajudem lidar melhor com as mesmas, de forma a tornar-se emocionalmente capacitado para resolução de conflitos e convivência em sociedade.
É fundamental que haja, para o desenvolvimento das competências socioemocionais o investimento total na figura do professor, fazendo com que esse indivíduo construa junto de si as condições precisas para promover o processo de mediação com seus alunos, tendo consciência do que faz e sendo responsável no que está sendo exposto. Esse investimento possibilitará ao professor o reconhecimento e atuação dentro das múltiplas inteligências, considerando as particularidades dos alunos no que diz respeito às suas características cognitivas e afetivas, o que facilita o emprego das ferramentas necessárias para a adaptação do processo de ensino pedagógico.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao resgatar nossa trajetória, vimos que a princípio o planejamento educacional pode ser muitas vezes olhado pelo docente como uma prática burocrática e sem uso prático. O legítimo significado do planejamento, fundamentalmente vinculado aos objetivos do docente, destinado ao ensino de um conteúdo de ordem teórica, muitas vezes está desarticulado de sua prática, sobretudo quando é elaborado por uns para ser executado por outros.
Atualmente em nosso cotidiano, os significados do indivíduo e socializadores das mais diversas práticas se perdem, uma vez que o sentido delas para os sujeitos muitas vezes passa a ser desconectado do seu objeto. A essência e o significado do planejamento para os professores estão intimamente ligados à necessidade que eles possuem para experienciar, ou seja, para realizar este planejamento.
Como muitos conhecimentos de ordem prática da docência, o planejamento muitas vezes é entendido como um aprendizado que ocorre na prática, no estágio ou no trabalho formal de uma escola, no entanto, a prática docente em si mesma, não é garantia de que o professor se apropriará do significado real do planejamento de ensino, ou seja, que este deve estar em função de objetivos de ensino de ordem teórica. Percebemos a importância do planejamento para o processo de ensino-aprendizagem, verificando que é a partir dele que o professor tem a orientação de todo o andamento do ano letivo e os elementos norteadores de seu trabalho a curto, médio e longo prazo.
Percebe-se, muitas vezes, que mais que orientar o ensino do professor, o planejamento educacional é capaz de guiá-lo em todos os seus passos, desde a motivação de seus alunos até a redução da violência na escola, haja vista que ele deverá planejar de forma a educar seus alunos, e não somente a transmitir conteúdos. O planejamento deve ser embasado nos fundamentos teóricos que norteiam o Projeto Político Pedagógico da escola – PPP, respeitando a comunidade que a compõe, em sua diversidade. Possui uma premissa básica: dialogar com o PPP atrelado a Proposta Curricular da instituição Educacional.
Nessa perspectiva, o planejamento das atividades didáticas deve se centrar no aluno, não no ensino, e ter como necessidade urgente implementar e integrar ações voltadas para uma “educação emancipatória”, considerando o educando com suas narrativas de vida, suas peculiaridades individuais e suas predileções. A educação institucionalizada deve ter sentido para a vida dos alunos, focando a aprendizagem na superação do fracasso escolar.
Desta forma, práticas excludentes devem ser combatidas e novas práticas pedagógicas e metodológicas, novos recursos e estratégias de ensino devem aflorar dentro do planejamento do professor e, consequentemente, em suas ações docentes. O planejamento deve ser flexível para que se obtenha sucesso no processos de ensino-aprendizagem de forma que possa ser alterada para atender a todos em diferentes momentos, atendendo as inúmeras diversidades, como ao deficiente, ao aluno com problema psicossocial, devendo ser adaptada as especificidades e necessidades da comunidade escolar.
É necessário acima de tudo haver comprometimento com o ato de ensinar, dando relevância aos fazeres oriundos de um saber socialmente construído ao longo do tempo. Ao planejar, o pensar e o fazer devem estar presentes no processo de ensino-aprendizagem, jamais mecanizando o saber do professor e do componente curricular. A reflexão deve ser mediada pelo docente para realizar uma aprendizagem significativa, propondo atividades que permitam a significação, a teoria versus prática social, aliada ao contexto que o aluno é oriundo.
Ao concluir essa pesquisa gostaríamos de tecer algumas considerações em torno do que foi o desenvolvimento desse estudo. A revisão bibliográfica aqui apresentada nos permitiu uma maior percepção da relevância da abordagem da Educação Emocional no contexto da sala de aula. Assim, pelo percurso histórico empreendido, constatou-se o quanto o processo de educar manteve-se atrelado ao contexto social e político, respondendo aos apelos e exigências das classes dominantes historicamente estabelecidas.
A proposta educativa, com isso, pautava-se no que se veiculava como verdade num dado momento histórico, por uma determinada classe dominante econômica e politicamente.
A Educação Emocional deve ser uma preocupação no processo de formação do aluno, pois é uma área essencial para o desenvolvimento pessoal e humano e primordial para a construção de indivíduos socialmente equilibrados. Sabe-se que a família tem um papel marcante na educação dos seus filhos, e espera-se que os pais transmitam segurança e confiança aos mesmos, de forma a desenvolver sua inteligência emocional. Entretanto, dentro do contexto atual é notório que muitas famílias não têm habilidades e conhecimentos suficientes, deixando assim, muito aquém esse trabalho emocional com os filhos.
Morales e Zafra (2009) asseguram que a escola é um meio muito importante, mas a família não deve desresponsabilizar-se do papel fundamental que tem na formação das crianças e jovens e na educação emocional em particular. Portanto, se faz necessário que a escola possa oportunizar um trabalho de parceria com a família, buscando proporcionar diferentes momentos de vivências que colaborem na formação pessoal e humana do educando para a construção de indivíduos socialmente equilibrados.
Santos (2009) acredita que a educação deva ter uma ação transformadora da sociedade, e que o educando deva ser educado para resolver problemas reais, concretos. O verdadeiro saber é o saber que funciona. Segundo o autor, para transformar a sociedade, primeiro deve ser transformado o homem, sua célula fundamental. As transformações sociais desejadas devem ser consequências das transformações produzidas nas mentes dos educandos.
Na esfera da escola pública, cada vez mais os seus segmentos são convidados e até impelidos a aplicar a afetividade no cotidiano escolar, tendo em vista que esse clima de respeitabilidade e compreensão das potencialidades de cada um tão almejados, pode ser pautado na Educação Emocional, visto que um de seus pressupostos é explorar o potencial emocional de cada pessoa. Compreende-se, portanto, que não se estabelece uma pedagogia da emoção sem levar em consideração que cada aluno desenvolve suas potencialidades de aprendizagem perpassando por emoções que nem mesmo eles sabem de sua existência. No entanto, cabe ao professor, orientar esse mesmo aluno a entender que sua complexa rede de emoções contribui para sua aprendizagem.
Desse modo, quando se implementa a Educação Emocional na rotina da sala de aula, constata-se que a função da escola em ministrar conhecimentos vai além de simples transmissão de conteúdo, mas de exploração da vivência das emoções na sala de aula. Não se deve simplesmente aprender português e matemática apenas como uma exigência curricular, mas como uma realidade vivenciada pelas emoções, de onde os alunos compreendem os conhecimentos que são adquiridos não apenas no nível cognitivo, mas como expressão do uso e atribuição das emoções.
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