Ariane ROLIM[1]
Juliana Tófani de SOUSA[2]
Dra. Monique Ferreira Monteiro BLTRÃO[3].
Ao pensarmos a educação na contemporaneidade, vários fatores são destacados para a discussão, dentre eles, o processo de ensino-aprendizagem, a relação professor e alunos, as metodologias utilizadas e as concepções diretamente relacionadas à formação primeira e continuada dos professores.
Primeiramente, considera-se, que na atualidade vivencia-se um novo processo de socialização, uma nova arquitetura social, que tende a despertar novas reflexões, leituras críticas daquilo que nos é ofertado e a informação rápida e farta, através da aceleração tecnológica, exigindo posturas diferenciadas de todos (SETTON, 2005).
A relação ensino-aprendizagem pede um professor que tenha como foco a aprendizagem ativa com objetivos de oportunizar a troca de conhecimentos entre ele e seus alunos e também, dos alunos entre si. O objetivo é torná-los figuras importantes em seu processo de aprendizagem, estando motivados e apresentando-se criativos e autônomos.
Paulo Freire, fez uma leitura da educação e das metodologias de ensino através de um ângulo totalmente crítico e conscientizador, sempre em busca da justiça social. Condenou aquilo que ele chamou de educação “bancária”, onde o aluno somente recebe os conhecimentos que lhe são “depositados” e que os mantem em posições fixas e defendeu a educação “libertadora”, que torna os sujeitos mais conscientes, mais livre e humanizados. (FREIRE, 1996)
Desta forma, ensinar é um movimento contínuo, onde estão envolvidos uma série de atores e de processos. É necessário considerar a grande velocidade dos vários meios de informações, disponíveis em uma sociedade que passa por transformações rápidas e que abraça cada vez mais as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC). Os professores necessitam acompanhar o fluxo das mudanças. Um movimento contraditório entre a sua formação e a vivencia contemporânea (CHARLOT, 2008).
Um ponto primordial de discussão é o posicionamento dos sujeitos como agentes, ou seja, aqueles que agem no mundo desde a mais tenra idade. Para isso, é fundamental o desenvolvimento da autonomia. Para Freire (2005), “Ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se construindo na experiência de várias, inúmeras decisões que vão sendo tomadas”.
A sala de aula ganha mais vida quando professores e alunos vivenciam processos argumentativos, autônomos e criativos, alinhando a aprendizagem de forma significativa, estruturando-a como um plano de ações, dando uma direção para o trabalho coletivo e corresponsável.
Um compromisso definido coletivamente, possibilita a articulação entre os interesses reais de todos os envolvidos no processo. Para Gadotti (2000) “Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis, comprometendo seus atores e autores” (GADOTTI, 2000, p. 38).
A escola pensada na contemporaneidade, requer um professor preparado para as demandas atuais, posicionando-se, cada vez mais, de forma crítica, criativa e propositiva. Ele é o mediador do processo e, através da mediação, vai provocar os alunos, assumindo a função de curador dos conteúdos. É um profissional que precisa ter consciência do seu próprio processo de formação, pois sempre estará frente a desafios.
Desta forma, a educação demanda um professor menos funcional e com maior potência criadora, preparado para as demandas atuais. Para Nóvoa (2015), um professor propositivo, que se dispõe a trabalhar situações-problema, levando o aluno a experimentar e buscar resultados, define o que Freinet propunha, há quase cem anos, quando falava de experimentação, criatividade, autonomia e cooperação.
Por sua vez, o aluno é o protagonista, ator social, autor daquilo que constrói, com mobilidade, troca e diálogo, gerando mudanças. Freire, defende que a leitura do mundo é anterior à leitura da palavra, ou seja, que desde pequenas as crianças já trazem seus conhecimentos e interagem. Considera que o mundo é lido através das várias compreensões que os sujeitos fazem sobre a realidade. Estas leituras são validadas na experiência com o meio social e no convívio com os outros sujeitos, expressando-se na linguagem (FREIRE, 1996).
AS PRÁTICAS METODOLÓGICAS ATIVAS
Constantemente, na busca por compreender a sociedade, com suas adaptações e a organização escolar, a partir de cada novo momento da realidade que nos é apresentada, somos chamados a inovação e mudanças de concepções.
Exemplo disso, é a pandemia em curso, do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e da doença causada por ele, a COVID-19, que é compreendida como um marco para a história mundial.
Observado o cenário atual e seus desafios, onde diversas restrições foram colocadas, foi urgente entender o formato apresentado para a educação, o lugar dos professores e dos alunos, buscando caminhos para possibilitar o desenvolvimento de conhecimentos e novas aprendizagens, selecionando as competências e suas respectivas habilidades.
O evento pandêmico intensificou a utilização densa das TDIC, trazendo à tona, grandes dificuldades para a sociedade e, consequentemente, para a educação, obrigando-as a atuarem de forma alternativa, reestruturando os recursos e metodologias, para levar conhecimentos aos alunos.
Ao se organizar para o retorno presencial, a escola vivencia outra lógica de organização, que modifica estruturas com raízes em séculos passados. Existem sim, o detalhamento de ações, que garantem segurança no retorno presencial dos alunos e professores que, por um tempo ainda, manterão o distanciamento nunca imaginado no interior de uma escola.
Porém, o prédio escolar ganha melhorias físicas e materiais, antes tão invisíveis ou impraticáveis, e que beneficiarão a todos, como salas equipadas com computadores e datashow, materiais de melhor qualidade e equipamentos de higiene pessoal.
Também integra essa nova organização, traçar o perfil do professor, que nesse processo de mudança, de acordo com Moran (2021), necessita utilizar metodologias mais atrativas, com apoio das “tecnologias digitais para que os alunos aprendam por descoberta, investigação e resolução de problemas.” Porém, é preciso formar os professores para utilizá-las, a partir de um esforço conjunto entre a escola, as redes de ensino e as políticas públicas eficazes relacionadas à formação contínua e em serviço, dos profissionais da educação.
Sobre as tecnologias na escola, Moran (2018) reflete:
Essa convergência digital exige mudanças muito mais profundas que afetam a escola em todas as suas dimensões: infraestrutura, projeto pedagógico, formação docente, mobilidade, avaliação. O digital quebrou a forma de organizar a informação e o conhecimento em pacotes iguais para todos, desenvolvidos no mesmo ritmo, com a mesma duração e com as mesmas atividades (MORAN, 2018, p. 8)
É certo que a tecnologia sozinha, não garante a promoção direta de aprendizagem e a informação, por si só, não promove o senso crítico. A função do professor, nesse mundo tecnológico e inovador, é imprescindível para que a aprendizagem aconteça.
Ao compreender que o desenvolvimento humano não é um processo linear e mecânico e que as salas de aula estão, cada vez mais complexas, visualiza-se a necessidade de oferecer os conteúdos de formas mais dinâmicas e significativas. A educação personalizada, de acordo com as diferentes circunstâncias, valoriza o sistema em que as pessoas aprendam a buscar suas próprias respostas. De acordo com Bacichi, Neto e Trevisani (2015):
Um projeto de personalização que realmente atenda aos estudantes requer que eles, junto com o professor, possam delinear seu processo de aprendizagem, selecionando recursos que mais se aproximam de uma melhor maneira de aprender. Aspectos como o ritmo, o tempo, o lugar e o modo como aprendem são relevantes quando se reflete sobre a personalização do ensino (BACICHI, NETO E TREVISANI, 2015, p.51).
Defensor das metodologias ativas, José Moran, ressalta o poder transformador que o trabalho docente tem. Em seus escritos mais recentes, vem debatendo a transformação da educação frente a crise pandêmica do coronavírus, que trouxe alguns avanços no domínio das metodologias ativas no online, trabalhos por projetos e gamificação, mas afirmando que, da forma como ocorreu a transposição, gerou-se diferentes dificuldades, além de deixar “bem escancarada a tremenda desigualdade social: infraestrutura, condições de acesso, condições de estudo, econômicas, emocionais e a engenhosidade de muitas escolas, universidades, prefeituras e estados para oferecer alternativas para a maioria”. (MORAN, 2020)
As mudanças observadas hoje, a partir de investimentos na formação inicial e continuada dos professores e da implementação de metodologias ativas e significativas, têm gerado vários impactos positivos, não somente para os discentes, mas também para os docentes.
A compreensão de que os recursos tecnológicos permitem o fluxo de informações, mas, muitas vezes, estas são descontinuadas e em excesso, pode nos remeter ao conceito e compreensão do Ensino Híbrido. De acordo com Bacich (2020), este formato de ensino “tem como foco a personalização, considerando que os recursos digitais são meios para que o estudante aprenda, em seu ritmo e tempo,” […] A autora coloca que “Para atingir essa proposta, há alguns modelos defendidos por autores que publicaram pesquisas sobre Ensino Híbrido” e que desta forma, a compreensão do que de fato é a modalidade, se faz necessária, uma vez que ainda existem muitos equívocos.
Para Bacichi (2020), ao oferecermos os conteúdos em sala de aula, de forma presencial, mas também a distância, em um misto composto, num ciclo, onde a ideia de continuação auxilia o aluno, transforma as aulas em momentos mais participativos, com discussões e aplicações práticas, perguntas, interação e atividades onde todos participem e em grupo (BACICH, 2020).
Sendo assim, é emergente e urgente a necessidade de capacitar os professores e todos os profissionais da educação para utilizarem as ferramentas tecnológicas, promovendo a alfabetização e o letramento digital. Só assim será possível que todos atuem como provedores ativos dos conteúdos que circulam na rede, utilizando as mídias, em favor dos interesses e necessidades individuais e comunitários, com responsabilidade e senso de cidadania. A comunicação digital é um direito de todos.
Ao analisar o papel das TDIC na escola, Coscarelli, (2011), reconhece que a Internet é uma ferramenta que abre infinitas possibilidades para o uso e aperfeiçoamento dos estudantes. A autora ressalta a importância do acesso aos computadores, para comunicação, informação, construção de novos conhecimentos e planejamento de produtos e projetos, sempre partindo dos questionamentos e hipóteses dos estudantes.
Porém, Coscarelli, (2011), aponta que essas habilidades somente são acessíveis aos letrados digitais. Antes, para que se faça parte do mundo do letramento digital, é preciso que os estudantes sejam alfabetizados, para se tornarem bons navegadores e digitadores (COSCARELLI, 2011).
Considerando o Brasil, um país com diferentes segmentos sociais e características populacionais diversas, onde o analfabetismo e demais desigualdades ainda permanecem como uma realidade, a inclusão digital é algo que demanda muito investimento.
Paulo Freire, apesar de não possuir aversão às novas tecnologias, faz um alerta de que as mesmas podem ser usadas como mecanismo de manipulação e esmagamento dos oprimidos pelos seus opressores (FREIRE, 1987).
Assim, a importância da inclusão digital, só é possível, de fato, quando, segundo Pereira (2011):
[…] uma pessoa ou grupo de pessoas passa a participar dos métodos de processamento, transferências e armazenamento de informações que já são do uso e do costume de outro grupo, passando a ter os mesmos direitos e os mesmos deveres dos já participantes daquele grupo onde está se incluindo (PEREIRA, 2011, p. 17).
Ao comtemplarmos e contrapormos as várias colocações dos autores que aqui dialogam, entende-se como necessária uma constante análise da formação inicial dos professores, assim como o apontamento de sua formação continuada, observando que as demandas dos próprios docentes, dos alunos, da escola e da contemporaneidade, estão sempre em acessão.
Mediar situações de aprendizagem para que novos conhecimentos sejam construídos, é uma tarefa que requer esforço e dedicação de todas as partes envolvidas no processo.
Em uma sociedade onde a informação é fluida e que novos conhecimentos podem ser produzidos de forma acelerada, professores dispostos a serem também aprendizes, fazem a diferença.
A formação dos sujeitos neste século, envolve um o ensino mais abrangente, considerando o que ocorre em sala de aula e fora dela, elencando conteúdos e habilidades de uma realidade tecnológica e comunicativa, onde educadores e educandos estão construindo conhecimento de forma mútua.
O conhecimento encontra-se ampliado, não estando mais baseado apenas em habilidades cognitivas envolvendo somente os componentes curriculares. É preciso dar espaço ao conhecimento interpessoal possibilitando ao aluno lidar com a diversidade e aprender a utilizar suas habilidades socioemocionais e desenvolva o pensamento crítico.
Nesse novo cenário há competências que o professor do século XXI não pode ignorar, não há mais espaço para aulas previsíveis, que se baseiam apenas no livro didático, ler um texto e resolver questões, agora é preciso que ofereçam recursos e possibilidades para que os alunos criem seu próprio aprendizado pela integralidade e colaboração.
REFERÊNCIAS
BACICH, Lilian. Ensino híbrido: esclarecendo o conceito. Inovação na educação. São Paulo, 13 de setembro de 2020. Disponível em: https://lilianbacich.com/2020/09/13/ensino-hibrido-esclarecendo-o-conceito/
BACICHI, L.; NETO, A. T.; TREVISANI, F.M. (orgs.) Ensino Hibrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015.
CHARLOT, Bernard. O professor na sociedade contemporânea: um trabalhador da contradição. Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 17, n. 30, p. 17-31, jul./dez. 2008.
COSCARELLI, Carla Viana. Alfabetização e letramento digital. In: COSCARELLI, Carla Viana; RIBEIRO, Ana Elisa. (org.) Letramento digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. 3. Ed. Autêntica, 2011.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, Paulo. À Sombra desta Mangueira. São Paulo: Olho D’água, 1995.
GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. São Paulo: Artmed, 2000.
MORAN, J. M. Contribuição das tecnologias para a transformação da educação. Entrevista. Revista Com Censo #14, volume 5, número 3, agosto 2018.
MORAN, J. M. Todas as escolas podem ser atraentes e inspiradoras. Online Blog Educação & Mídia. 2021. Disponível em http://www2.eca.usp.br/moran/?page_id=29
MORAN, José. Mudando a Educação com metodologias ativas. In: Coleção Mídias Contemporâneas. Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximação jovens. Vol. II, 2005
PEREIRA, João Thomaz. Educação e sociedade da informação. In: COSCARELLI, Carla Viana; RIBEIRO, Ana Elisa (Orgs). Letramento digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. 3. Ed. Autêntica, 2011
SETTON, M. G. J. A particularidade de processo de socialização contemporâneo. Tempo Social: revista de sociologia da USP, nov. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ts/v17n2/a15v17n2.pdf
[1] Psicóloga/CRP-MG: 04/19144. Mestranda em Ciências da Educação – EBWU/EUA. Psicopedagoga – FUMEC/MG. Neuropsicopedagoga – FESL/MA. Especialista em Psicologia Médica – UFMG. Palestrante. Autora de artigos e livros na área da Psicologia e Eeducação.
[2] Pedagoga, Psicopedagoga, especialista em Educação Infantil pelo CEPEMG e em Educação Empreendedora pela UFSJ. Mestranda em Educação e Formação Humana pela UEMG Autora de artigos e organizadora livros na área da educação.
[3] Doutora em Educação, Mestre em Educação e Psicologia, Pedagoga, Psicopedagoga, Neuropsicopedagoga, Consultora Pedagógica, Professora Universitária, Escritora e Palestrante.
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