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ENRIQUECIMENTO CURRICULAR PARA ALTAS HABILIDADES / SUPERDOTAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL II

por Aline Barcellos Lopes Plácido
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Drª Aline Barcellos Lopes Plácido
Drª Luciana Cruz de Freitas
lopesplacidonpp@gmail.com
pedagogico.luciana@gmail.com

 

 

 

ENRIQUECIMENTO CURRICULAR PARA ALTAS
HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL II

Resumo

Este artigo investiga o papel do enriquecimento curricular no Ensino Fundamental II
como estratégia indispensável para sustentar e ampliar os talentos de estudantes
com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD). Diferentemente da etapa inicial da
escolarização, o Fundamental II coincide com a entrada na adolescência, período
marcado por transformações cognitivas, socioemocionais, identitárias e corporais
que reconfiguram a forma como os potenciais se manifestam. Fundamentado nas
diretrizes do Ministério da Educação (MEC), na Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) e em produções acadêmicas da área, o estudo apresenta o marco legal e
conceitual sobre a superdotação, discute os desafios específicos da adolescência
escolar (11 a 14 anos) e analisa as múltiplas formas de expressão das AH/SD no
contexto dos anos finais do Ensino Fundamental. Além disso, examina os obstáculos
da prática docente em um cenário curricular fragmentado e marcado por
estereótipos, propondo estratégias de enriquecimento interdisciplinares e a
articulação entre escola, Atendimento Educacional Especializado (AEE) e
universidades. Conclui-se que, no Fundamental II, o enriquecimento curricular é
decisivo não apenas para o desenvolvimento acadêmico, mas também para a
prevenção da desmotivação, dos conflitos e da evasão escolar, contribuindo para o
fortalecimento da identidade e para a continuidade do percurso formativo rumo ao
Ensino Médio.

Palavras-chave: Altas Habilidades. Superdotação. Ensino Fundamental II.
Adolescência. Enriquecimento Curricular. Inclusão.

 

Introdução

O Ensino Fundamental II, que abrange a faixa etária aproximada de 11 a 14 anos,
constitui um período de transição entre a infância e a adolescência, no qual os
estudantes vivenciam mudanças significativas em suas formas de pensar, sentir e se
relacionar. Essa etapa é marcada pela entrada em novas lógicas de organização
escolar — como a fragmentação curricular e a multiplicidade de professores por
disciplina — e pela intensificação das demandas cognitivas e socioemocionais,
fatores que impactam diretamente a trajetória escolar dos adolescentes.

No caso dos estudantes com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD), o contexto
do Fundamental II apresenta desafios particulares. Se, nos anos iniciais, a questão
central estava relacionada à identificação precoce e ao reconhecimento das
manifestações de potencial, nos anos finais o foco se desloca para a manutenção,
o aprofundamento e a ressignificação dos talentos. Nesse período, a ausência
de práticas pedagógicas desafiadoras pode resultar em desmotivação, em conflitos
com pares e professores ou mesmo em processos de evasão, comprometendo o
pleno desenvolvimento das potencialidades.

A legislação brasileira reconhece os alunos com AH/SD como parte do público da
Educação Especial. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 208, inciso III,
assegura atendimento educacional especializado; a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB nº 9.394/1996) reafirma esse direito; e a Lei Brasileira de
Inclusão (Lei nº 13.146/2015) estabelece a igualdade de oportunidades
educacionais. Complementarmente, a Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) e o Decreto nº 10.502/2020 apontam o
enriquecimento curricular como estratégia essencial para a inclusão e o
desenvolvimento dos superdotados.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ao definir competências e habilidades a
serem alcançadas ao longo da Educação Básica, oferece subsídios para práticas de
enriquecimento curricular. Entre elas, destacam-se aquelas ligadas ao pensamento
científico, crítico e criativo; à comunicação em diferentes linguagens; ao uso da
cultura digital; à argumentação; e ao projeto de vida. Para adolescentes
superdotados, tais competências se convertem em oportunidades de protagonismo,
desde que a escola reconheça suas singularidades e crie condições para
experiências de maior complexidade.

 

Diante desse cenário, o presente artigo tem como objetivo analisar o papel do
enriquecimento curricular no Ensino Fundamental II como estratégia pedagógica
voltada à consolidação e ao aprofundamento dos potenciais dos estudantes com
AH/SD. Busca-se discutir o marco legal e conceitual que fundamenta esse
atendimento, examinar os processos de desenvolvimento típicos da adolescência e
suas interfaces com a superdotação, identificar as áreas de manifestação dos
talentos nesse período e apresentar possibilidades de práticas pedagógicas
articuladas à BNCC, ao AEE e às universidades. Pretende-se, assim, contribuir para
o debate acadêmico sobre inclusão e equidade, destacando a urgência de
estratégias que promovam tanto a aprendizagem quanto o engajamento dos
adolescentes superdotados no contexto escolar.

3. Marco legal e conceitual

A compreensão das Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) no Ensino
Fundamental II requer uma análise que articule fundamentos legais e referenciais
teóricos. Do ponto de vista normativo, a Constituição Federal de 1988 garante, em
seu artigo 208, inciso III, o atendimento educacional especializado aos alunos com
superdotação. Esse direito é reforçado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB nº 9.394/1996), que, em seu artigo 58, reconhece a necessidade de
serviços educacionais específicos. A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Lei nº 13.146/2015) amplia esse marco ao assegurar igualdade de
oportunidades e eliminar barreiras que impeçam a plena participação escolar.

Documentos complementares, como a Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC, 2008) e o Decreto nº 10.502/2020,
enfatizam o papel do enriquecimento curricular como estratégia prioritária para o
desenvolvimento dos alunos superdotados. A Base Nacional Comum Curricular
(BNCC, 2017), por sua vez, estabelece competências gerais que dialogam
diretamente com as necessidades desse público, como o pensamento científico,
crítico e criativo, a comunicação, a cultura digital, a argumentação e o projeto de
vida. Tais competências, quando trabalhadas de maneira ampliada, oferecem
terreno fértil para experiências pedagógicas mais complexas e significativas.

Do ponto de vista conceitual, a superdotação não deve ser reduzida a índices
elevados de desempenho acadêmico ou a resultados de testes de inteligência. O
modelo dos Três Anéis de Renzulli (1978; PASSOS; VALLE-RIBEIRO; BARBOSA,

 

2014) propõe que a superdotação emerge da interação entre habilidade acima da
média, criatividade e comprometimento com a tarefa. Essa perspectiva enfatiza que
nenhum desses fatores, isoladamente, é suficiente, sendo a combinação dinâmica
deles que favorece desempenhos criativos e produtivos.

Pocinho (2009) reforça essa visão ao destacar a superdotação como pluralidade de
formas de excelência, em oposição à ideia de perfil homogêneo. Já Winner (1998)
desmistifica o mito da autossuficiência, apontando que, sem apoio pedagógico,
estudantes superdotados podem vivenciar frustração e desmotivação. Alencar e
Fleith (2001) também ressaltam que o desempenho acadêmico elevado não elimina
a necessidade de acompanhamento, pois os talentos podem se fragilizar diante de
currículos rígidos ou da ausência de práticas desafiadoras.

Ao se tratar do Ensino Fundamental II, a articulação entre marco legal e conceitual
torna-se ainda mais relevante. A adolescência inicial é um período de intensas
transformações cognitivas, socioemocionais e identitárias, que ressignificam a forma
como as AH/SD se manifestam. Reconhecer a legitimidade dessas manifestações e
assegurar condições pedagógicas adequadas não é apenas um dever legal, mas
também uma exigência conceitual para a promoção da equidade e da inclusão
escolar.

Outro aspecto central do desenvolvimento na adolescência, principalmente na
atualidade, é o intenso interesse pelo uso das tecnologias digitais. Se, por um lado,
pesquisas apontam riscos relacionados ao uso excessivo das mídias — como
dispersão, isolamento e dificuldades de regulação da atenção —, por outro, há
consenso de que essas ferramentas podem constituir importantes vias de
enriquecimento quando mediadas de forma crítica e criativa. Pedro e Capellini
(2020) destacam que, para estudantes superdotados, as tecnologias representam
tanto espaço de exploração de interesses quanto meio de ampliar a autoria e a
produção de conhecimento. De forma complementar, Santos e Boscarioli (2021)
evidenciam que a integração de recursos digitais ao enriquecimento extracurricular
favorece a expressão de múltiplas inteligências e a vivência de papéis investigativos
e criativos. Assim, no contexto do Ensino Fundamental II, o uso orientado da
tecnologia pode transformar-se em estratégia pedagógica para romper com a rigidez
curricular, fomentar a criatividade e ampliar as possibilidades de desenvolvimento
dos adolescentes com AH/SD.

 

5. Formas de manifestação das AH/SD no Ensino Fundamental II

As manifestações das Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) no Ensino
Fundamental II assumem contornos distintos daqueles observados nos anos iniciais,
refletindo as transformações cognitivas, socioemocionais e culturais próprias da
adolescência. Mais do que a precocidade em leitura, cálculo ou artes, os
adolescentes superdotados passam a expressar seus talentos em produções
autorais, em formas sofisticadas de argumentação e em engajamentos que dialogam
com sua identidade e com seu projeto de vida.

No campo intelectual e acadêmico, é comum que apresentem rapidez na
compreensão de conteúdos, habilidade para estabelecer relações interdisciplinares
e disposição para questionar pressupostos. Muitas vezes, destacam-se em
olimpíadas científicas ou em projetos investigativos, produzindo hipóteses originais e
explorando metodologias próprias. No entanto, em contextos escolares rígidos e
excessivamente centrados na memorização, essas características podem ser vistas
como resistência ou desinteresse.

A criatividade adquire novo papel nessa etapa, pois passa a ser mobilizada não
apenas na resolução de problemas escolares, mas também em produções culturais,
tecnológicas e artísticas que revelam autonomia e posicionamento crítico. Narrativas
digitais, blogs, canais de vídeo e podcasts produzidos por adolescentes com AH/SD
exemplificam como a criatividade pode se expandir para além dos limites da sala de
aula, quando devidamente reconhecida e estimulada.

Na dimensão socioafetiva e de liderança, adolescentes superdotados
frequentemente assumem papéis de mediação em grupos, lideram debates e
mobilizam colegas em torno de causas coletivas. Essa capacidade, quando bem
orientada, pode fortalecer o clima escolar e favorecer projetos colaborativos. Porém,
sem mediação adequada, pode gerar conflitos, disputas de poder ou isolamento,
sobretudo em um período da vida no qual o pertencimento ao grupo é crucial para a
construção da identidade (ERIKSON, 1976; VIRGOLIM, 2007).

As manifestações artísticas também se diversificam, com adolescentes
superdotados mostrando domínio e sensibilidade em áreas como música, dança,
teatro, artes visuais e literatura. Nesse nível de ensino, a produção artística ganha
maior complexidade, permitindo que o estudante explore linguagens autorais e se

 

expresse em consonância com suas vivências e questionamentos.

O campo da tecnologia e cultura digital merece destaque. Como apontam Pedro e
Capellini (2020) e Santos e Boscarioli (2021), o uso de recursos digitais pode
configurar-se tanto como risco quanto como oportunidade. Para estudantes com
AH/SD, os ambientes virtuais oferecem meios de expressão criativa, produção de
conhecimento e conexão com comunidades de interesse, desde que haja orientação
pedagógica que transforme o consumo passivo em práticas críticas e autorais.

Por fim, é necessário destacar que as manifestações das AH/SD no Fundamental II
não são homogêneas nem lineares. Cada adolescente combina, em maior ou menor
grau, potencialidades intelectuais, criativas, artísticas, socioafetivas e tecnológicas.
Reconhecer essa diversidade é condição fundamental para evitar reducionismos que
limitem a compreensão da superdotação apenas ao desempenho acadêmico,
assegurando que o enriquecimento curricular dialogue com diferentes formas de
excelência.

Perfeito, NPp Aline .
Aqui está o próximo ponto do artigo, voltado aos desafios da escola e da
docência no Fundamental II:

 

6. Desafios da escola e da docência

O contexto do Ensino Fundamental II impõe desafios específicos para o atendimento
de estudantes com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD). A estrutura
organizacional desse nível de ensino — marcada pela fragmentação curricular e
pela presença de múltiplos professores responsáveis por disciplinas distintas —
pode dificultar a identificação de potenciais, uma vez que cada docente acompanha
o estudante apenas em recortes limitados de sua trajetória. Como consequência,
talentos que se manifestam de forma interdisciplinar ou em produções autorais
correm o risco de permanecer invisíveis.

Outro obstáculo recorrente refere-se à ausência de formação inicial e continuada
sobre AH/SD. Segundo Rech e Negrini (2019), muitos professores não se sentem
preparados para reconhecer os indicadores de superdotação, tampouco para
planejar práticas pedagógicas diferenciadas. Essa lacuna formativa se soma à

 

permanência de estereótipos, como a ideia de que alunos superdotados “não
precisam de atenção especial” ou de que sua alta performance acadêmica elimina a
necessidade de suporte educacional. Tais concepções contribuem para a
negligência e para a manutenção de uma cultura escolar que naturaliza o fracasso
ou transfere ao próprio estudante a responsabilidade por sua exclusão.

Nesse sentido, a análise crítica de Simplício e Haase (2020), em Pedagogia do
fracasso, mostra que a escola, ao não se preparar para lidar com a diversidade,
reforça um modelo de ensino que culpabiliza o aluno e legitima o insucesso como
responsabilidade individual. No caso dos adolescentes com AH/SD, esse processo
pode se manifestar na forma de desmotivação, conflitos com professores e pares, ou
até mesmo evasão escolar. Em contraposição, os mesmos autores defendem, em
Pedagogia do sucesso (2022), a importância de estratégias pedagógicas baseadas
na ciência cognitiva da aprendizagem, capazes de valorizar o potencial de cada
estudante e transformar a diversidade em fonte de inovação educativa.

Além disso, é importante considerar que a adolescência, por si só, constitui um
período de intensificação de questionamentos e de contestação de normas. Em
adolescentes superdotados, essa postura crítica pode ser interpretada como
rebeldia ou indisciplina, quando, na verdade, expressa a necessidade de diálogo, de
estímulo intelectual e de espaço para a construção da identidade. A dificuldade da
escola em reconhecer essa demanda contribui para o afastamento desses
estudantes e para a perda de oportunidades formativas.

Portanto, enfrentar os desafios da escola e da docência no Fundamental II exige
mais do que técnicas diferenciadas: implica promover uma mudança de concepção.
É necessário investir em formação docente consistente, desconstruir estereótipos e
criar uma cultura pedagógica que compreenda a superdotação como parte da
diversidade escolar, e não como exceção. Somente assim será possível superar a
lógica excludente do fracasso e garantir que os talentos adolescentes encontrem
espaço legítimo de desenvolvimento.

6. Desafios da escola e da docência

O contexto do Ensino Fundamental II impõe desafios específicos para o atendimento
de estudantes com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD). A estrutura
organizacional desse nível de ensino — marcada pela fragmentação curricular e

 

pela presença de múltiplos professores responsáveis por disciplinas distintas —
pode dificultar a identificação de potenciais, uma vez que cada docente acompanha
o estudante apenas em recortes limitados de sua trajetória. Como consequência,
talentos que se manifestam de forma interdisciplinar ou em produções autorais
correm o risco de permanecer invisíveis.

Outro obstáculo recorrente refere-se à ausência de formação inicial e continuada
sobre AH/SD. Segundo Rech e Negrini (2019), muitos professores não se sentem
preparados para reconhecer os indicadores de superdotação, tampouco para
planejar práticas pedagógicas diferenciadas. Essa lacuna formativa se soma à
permanência de estereótipos, como a ideia de que alunos superdotados “não
precisam de atenção especial” ou de que sua alta performance acadêmica elimina a
necessidade de suporte educacional. Tais concepções contribuem para a
negligência e para a manutenção de uma cultura escolar que naturaliza o fracasso
ou transfere ao próprio estudante a responsabilidade por sua exclusão.

Nesse sentido, a análise crítica de Simplício e Haase (2020), em Pedagogia do
fracasso, mostra que a escola, ao não se preparar para lidar com a diversidade,
reforça um modelo de ensino que culpabiliza o aluno e legitima o insucesso como
responsabilidade individual. No caso dos adolescentes com AH/SD, esse processo
pode se manifestar na forma de desmotivação, conflitos com professores e pares, ou
até mesmo evasão escolar. Em contraposição, os mesmos autores defendem, em
Pedagogia do sucesso (2022), a importância de estratégias pedagógicas baseadas
na ciência cognitiva da aprendizagem, capazes de valorizar o potencial de cada
estudante e transformar a diversidade em fonte de inovação educativa.

Além disso, é importante considerar que a adolescência, por si só, constitui um
período de intensificação de questionamentos e de contestação de normas. Em
adolescentes superdotados, essa postura crítica pode ser interpretada como
rebeldia ou indisciplina, quando, na verdade, expressa a necessidade de diálogo, de
estímulo intelectual e de espaço para a construção da identidade. A dificuldade da
escola em reconhecer essa demanda contribui para o afastamento desses
estudantes e para a perda de oportunidades formativas.

Portanto, enfrentar os desafios da escola e da docência no Fundamental II exige
mais do que técnicas diferenciadas: implica promover uma mudança de concepção.
É necessário investir em formação docente consistente, desconstruir estereótipos e

 

criar uma cultura pedagógica que compreenda a superdotação como parte da
diversidade escolar, e não como exceção. Somente assim será possível superar a
lógica excludente do fracasso e garantir que os talentos adolescentes encontrem
espaço legítimo de desenvolvimento.

7. Estratégias de enriquecimento curricular

O enriquecimento curricular no Ensino Fundamental II precisa responder à
complexidade da adolescência, que envolve demandas cognitivas mais sofisticadas,
intensificação de questionamentos identitários e necessidade de engajamento social.
Para além da diferenciação de conteúdos, trata-se de ampliar a profundidade e a
diversidade das experiências formativas, promovendo desafios intelectuais,
artísticos, tecnológicos e sociais que favoreçam a autoria e a continuidade dos
talentos.

Uma primeira possibilidade consiste em integrar práticas interdisciplinares e de
iniciação científica, como feiras de ciências, laboratórios de pesquisa orientada,
olimpíadas escolares e clubes de investigação. Tais propostas permitem que os
adolescentes com AH/SD explorem problemas complexos, formulem hipóteses
próprias e experimentem metodologias de investigação, aproximando-se de práticas
acadêmicas de nível superior ainda no ensino básico.

As manifestações artísticas podem ser ampliadas por meio de oficinas de teatro,
música, artes visuais e literatura, privilegiando a produção autoral e a interlocução
com questões sociais e culturais contemporâneas. Em um período marcado pela
busca de identidade, tais atividades funcionam como espaço de expressão subjetiva
e de construção coletiva.

Na dimensão socioafetiva e de liderança, práticas de protagonismo juvenil —
como grêmios estudantis, coletivos de cultura e projetos de voluntariado —
configuram-se como espaços férteis para que adolescentes superdotados exerçam
liderança, engajem-se em causas coletivas e desenvolvam habilidades de mediação
e colaboração.

As tecnologias digitais assumem papel central nessa etapa. Pedro e Capellini
(2020) destacam que estudantes e professores reconhecem as TDIC como recursos
capazes de potencializar a exploração de interesses e a autoria de produções.

 

Santos e Boscarioli (2021) acrescentam que a integração das tecnologias digitais ao
enriquecimento extracurricular favorece a expressão de múltiplas inteligências e a
vivência de papéis investigativos. Nesse sentido, práticas como hackathons
escolares, produção de podcasts, programação criativa, robótica educacional e
desenvolvimento de projetos multimídia não apenas dialogam com o interesse dos
adolescentes por tecnologia, mas também convertem esse interesse em
experiências formativas complexas, colaborativas e criativas.

Assim, o enriquecimento curricular no Fundamental II deve ser compreendido como
uma estratégia abrangente, que vai além do reforço de conteúdos acadêmicos. Seu
objetivo é construir oportunidades para que os adolescentes superdotados
encontrem sentido no percurso escolar, desenvolvam projetos de vida coerentes
com seus interesses e fortaleçam sua identidade em um contexto educativo que
valoriza a diversidade.

8. Parcerias interinstitucionais: Escola – AEE – Universidade

O enriquecimento curricular voltado a estudantes com Altas
Habilidades/Superdotação (AH/SD) no Ensino Fundamental II não pode ser
entendido como responsabilidade exclusiva da sala de aula ou do Atendimento
Educacional Especializado (AEE). Pelo contrário, trata-se de um processo que exige
a construção de redes colaborativas entre diferentes atores e instituições, capazes
de ampliar os recursos pedagógicos disponíveis e diversificar as oportunidades de
aprendizagem.

O AEE mantém papel central ao identificar os potenciais dos estudantes,
acompanhar suas áreas de interesse e propor recursos específicos de apoio
pedagógico. Entretanto, seu trabalho precisa articular-se com a sala regular, espaço
onde os adolescentes superdotados experimentam o currículo comum, constroem
vínculos sociais e exercitam a convivência na diversidade. Quando essa articulação
não ocorre, corre-se o risco de que o enriquecimento curricular seja restrito a ações
isoladas, sem continuidade e sem impacto real no desenvolvimento dos talentos.

As universidades podem contribuir de forma decisiva nesse processo. Projetos de
extensão que aproximam adolescentes do ambiente acadêmico, programas de
iniciação científica júnior, oficinas culturais e laboratórios de robótica são exemplos
de ações que ampliam os horizontes dos estudantes e fortalecem sua motivação.

 

Como destacam Rech, Negrini e Santos (2023), o papel das universidades não se
limita a oferecer suporte técnico e metodológico, mas também a inspirar professores
e gestores escolares a desenvolver práticas inovadoras e inclusivas.

A construção de parcerias interinstitucionais também possibilita a superação de
limitações materiais comuns às escolas públicas brasileiras. Acesso a bibliotecas
universitárias, laboratórios equipados, softwares especializados e mentorias
acadêmicas são recursos que, muitas vezes, extrapolam a realidade da escola, mas
que podem ser disponibilizados por meio de convênios entre secretarias de
educação e instituições de ensino superior.

Para os adolescentes com AH/SD, tais experiências têm efeitos formativos que
ultrapassam a dimensão cognitiva. Ao participar de feiras científicas, coletivos
artísticos ou grupos de pesquisa, esses estudantes desenvolvem habilidades de
trabalho em equipe, ampliam sua visão de mundo e constroem referências para
seus projetos de vida. Para a escola, a parceria com universidades e centros de
pesquisa representa uma oportunidade de renovação pedagógica, de formação
continuada para os professores e de fortalecimento de práticas inclusivas.

Portanto, a articulação entre escola, AEE e universidade no Fundamental II
configura-se como estratégia indispensável para transformar o enriquecimento
curricular em experiência coletiva, sustentável e inovadora. Quando instituições se
conectam em torno de um mesmo objetivo, criam-se condições para que os talentos
adolescentes sejam reconhecidos e valorizados, não apenas em sua dimensão
individual, mas como contribuição efetiva para a sociedade.

Perfeitamente, NPp Aline , entendi sim o seu raciocínio.
Você não quer trazer nomes específicos (como Alterdata), mas mostrar que, além
da parceria com universidades, há também outros espaços institucionais e
comunitários que podem ser aliados no enriquecimento curricular dos adolescentes
com AH/SD.

Além das universidades, outras instituições podem desempenhar papel fundamental
no enriquecimento curricular de adolescentes com AH/SD. Empresas que mantêm
programas de formação profissional ou de aprendizagem, quando articuladas às
escolas, oferecem a possibilidade de aproximar os estudantes do universo do
trabalho e de estimular competências relacionadas à inovação e ao

 

empreendedorismo. Da mesma forma, conservatórios de música, centros de artes
ou academias esportivas podem acolher jovens superdotados em suas áreas de
interesse, favorecendo a especialização e a expressão criativa em ambientes de alta
exigência técnica. Essas parcerias, quando mediadas pedagogicamente, ampliam os
horizontes formativos, conectando os talentos juvenis a contextos reais de atuação
social e profissional. Trata-se, portanto, de reconhecer que o desenvolvimento pleno
das potencialidades dos adolescentes superdotados não se restringe ao espaço
escolar, mas pode e deve ser sustentado por uma rede ampliada de instituições da
comunidade.

Considerações finais

O enriquecimento curricular no Ensino Fundamental II representa não apenas um
recurso pedagógico, mas uma necessidade para garantir o pleno desenvolvimento
de adolescentes com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD). Diferentemente do
que ocorre nos anos iniciais, em que a ênfase recai sobre a identificação precoce
dos talentos, nos anos finais da etapa fundamental o desafio principal está em
sustentar, aprofundar e ressignificar as potencialidades já manifestas. A ausência de
práticas diferenciadas pode transformar-se em fonte de desmotivação, conflitos e até
abandono escolar, comprometendo trajetórias promissoras.

A análise realizada evidenciou que o marco legal brasileiro fornece diretrizes
consistentes para a inclusão dos superdotados, mas a efetivação dessas normas
depende de condições institucionais ainda frágeis. A fragmentação curricular, a
formação insuficiente dos professores e a permanência de estereótipos são
barreiras que mantêm a invisibilidade dos talentos e reforçam a cultura do fracasso
escolar. Nesse contexto, a Pedagogia do Fracasso (SIMPLÍCIO; HAASE, 2020) e a
Pedagogia do Sucesso (SIMPLÍCIO; HAASE, 2022) mostram-se referenciais críticos
para repensar práticas pedagógicas que culpabilizam os estudantes e para orientar
transformações capazes de valorizar a diversidade como fonte de inovação.

O estudo também demonstrou que os adolescentes com AH/SD expressam seus
potenciais de modo plural — no campo intelectual, artístico, tecnológico, socioafetivo
e de liderança —, exigindo estratégias de enriquecimento que ultrapassem o reforço
acadêmico. A integração de práticas interdisciplinares, artísticas, digitais e sociais
não apenas fortalece a identidade desses estudantes, mas também contribui para a
construção de projetos de vida significativos. O uso orientado das tecnologias

 

digitais, em especial, constitui uma via promissora para transformar interesses
espontâneos em experiências criativas e investigativas, desde que mediado por
práticas pedagógicas críticas.

Por fim, a efetividade do enriquecimento curricular no Fundamental II requer a
construção de redes colaborativas. A articulação entre escola, AEE, universidades e
demais instituições da comunidade — como centros de artes, empresas e
organizações sociais — possibilita ampliar os horizontes de aprendizagem e
aproximar os adolescentes de contextos reais de atuação. Mais do que preparar
para o Ensino Médio, essas experiências oferecem aos superdotados condições de
protagonizar sua formação e de contribuir, de forma singular, para uma sociedade
mais justa, inclusiva e inovadora.

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