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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM BREVE HISTÓRICO, DESAFIOS E PERSPECTIVAS DOS PROFESSORES NA ERA DIGITAL

por Inávia Moreira Da Costa Machado
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM BREVE HISTÓRICO, DESAFIOS E PERSPECTIVAS DOS PROFESSORES NA ERA DIGITAL

 

INCLUSIVE EDUCATION: A BRIEF HISTORY, CHALLENGES AND PERSPECTIVES OF TEACHERS IN THE DIGITAL AGE

 

Inávia Moreira da Costa Machado

Karla Mota do Nascimento

Francisca Irene Gomes do Nascimento

Ana Cláudia Fernandes Soares

 

Resumo

O artigo delineia a trajetória histórica dos desafios que os educadores enfrentaram, desde a Grécia Antiga até a contemporaneidade digital, ressaltando dificuldades contínuas, como escassez de recursos, diversidade nas salas de aula e desvalorização da profissão. Na Antiguidade, a educação concentrava-se na formação abrangente do ser humano, ao passo que, na Idade Média, o ensino era limitado às instituições religiosas. O Renascimento e a Revolução Industrial geraram exigências por adequação pedagógica e formação para o mercado de trabalho. No século XXI, a educação inclusiva passou a ter maior relevância, estimulada por conferências mundiais, como a Declaração de Salamanca (1994), que enfatizou o direito à equidade educacional. No entanto, permanecem obstáculos, como a infraestrutura inadequada, a ausência de formação específica para docentes e a urgência de incorporar tecnologias digitais no processo educacional. A era digital impõe aos educadores a necessidade de inovar suas metodologias, conciliando inclusão, personalização do aprendizado e a utilização de recursos tecnológicos, sem desconsiderar aspectos históricos, como o reconhecimento profissional e as condições adequadas de trabalho.

 

Palavra chave: Educação Inclusiva; Desafios Históricos; Tecnologia Educacional

 

 

 

 

1 Introdução

A análise da trajetória histórica da educação revela que, desde a Grécia Antiga, os desafios enfrentados pelos professores mantêm uma notável continuidade temporal, demonstrando que a educação sempre ocupou uma posição central na vida cívica das sociedades. Na antiguidade clássica, os educadores já enfrentavam dilemas que ecoam até os dias atuais, particularmente no que se refere à formação integral do cidadão e à busca pela excelência educacional. O ideal educativo grego centrava-se na formação do “bom orador”, um cidadão capaz de participar ativamente da vida política e social da pólis, combinando habilidades retóricas, conhecimento filosófico e virtudes morais. Este objetivo educacional estabelecia altas expectativas para os professores, que precisavam dominar múltiplas disciplinas e desenvolver metodologias capazes de formar indivíduos preparados para o exercício da cidadania. A pressão por resultados e a responsabilidade social do educador já se manifestavam neste período, criando um precedente histórico que perduraria através dos séculos subsequentes.

O papel do professor na antiguidade caracterizava-se por uma atuação multifacetada e protagonista, abrangendo diversas áreas do conhecimento humano, incluindo artes, literatura, música, matemática, filosofia e esportes. Esta amplitude de responsabilidades exigia dos educadores uma formação extremamente ampla e a capacidade de transitar com competência entre diferentes domínios do saber. Conforme evidenciado pelas fontes históricas (Fava, 2017; Frappier et al., 2005; Funari, 2001; Casson & Antunes, 2018), os professores da antiguidade não apenas dominavam conteúdos diversificados, mas também assumiam o papel de mentores intelectuais e morais de seus discípulos. Esta multiplicidade de funções, embora conferisse prestígio social ao educador, também representava um desafio constante, uma vez que demandava atualização contínua e versatilidade pedagógica. A necessidade de formar cidadãos completos obrigava os professores a desenvolverem metodologias inovadoras e a adaptarem constantemente suas práticas às demandas específicas de cada área do conhecimento, estabelecendo um padrão de exigência profissional que se mantém relevante na educação contemporânea.

Um dos aspectos mais marcantes da prática docente na antiguidade refere-se ao problema recorrente da escassez de recursos e materiais didáticos, situação que forçava os professores a desenvolverem soluções criativas e autogeridas para viabilizar o processo educativo. As fontes históricas consultadas (Fava, 2017; Frappier et al., 2005; Funari, 2001; Casson & Antunes, 2018) revelam consistentemente que os educadores precisavam criar seus próprios meios de ensino, desenvolvendo materiais pedagógicos artesanais e metodologias adaptadas às limitações estruturais existentes. Esta necessidade de improviso e criatividade não apenas demonstrava a dedicação profissional dos educadores antigos, mas também evidenciava um padrão histórico de subinvestimento em recursos educacionais que perdura até a atualidade. A capacidade de inovar pedagogicamente diante das limitações materiais tornou-se, assim, uma competência essencial do professor.

Este estudo tem como objetivo geral analisar a continuidade histórica dos desafios enfrentados pelos professores ao longo dos séculos, desde a Grécia Antiga até a contemporaneidade, identificando padrões recorrentes na prática docente e compreendendo como questões estruturais, pedagógicas e sociais têm persistido através de diferentes períodos históricos, influenciando o desenvolvimento da educação e o papel do professor na sociedade.

 

2 Revisão Histórica da Educação e seus Desafios

 

Os desafios enfrentados pelos professores não são recentes, na verdade são muito antigos, eles têm um longo histórico que remonta aos tempos da Grécia Antiga e alguns perduram até os dias correntes. Desde a antiguidade a educação ocupa um aspecto fundamental na vida do cidadão, sendo o “ideal da educação a formação do bom orador, ou seja, aquele que sabia falar em público, seduzir os outros na política” (Fava, 2017, p. 78). Frappier et al. (2005, p. 59) mencionam que “a educação na Grécia antiga teve como base a Paideia, que, entre outras definições, pode ser entendida como o ideal de formação do homem pela cultura, buscando uma formação total e a perfeição interior”. Os professores sempre tiveram grande protagonismo na sociedade pois tinham a responsabilidade de educar os jovens nas áreas de artes, literatura, música, matemática, filosofia e esportes (Funari, 2001, p. 44), contudo, um dos principais desafios enfrentados pelos professores na época era a falta de recursos e materiais educacionais adequados pois ao contrário da atualidade não haviam livros didáticos ou materiais de apoio prontos, até mesmo o ensino formal como conhecemos hoje não era algo padronizados e os professores segundo Casson e Antunes (2018) precisavam criar seus próprios meios, materiais e recursos, muitas vezes utilizando pergaminhos, tábuas de argila, outros meios de escrita e transmissão verbal para realizar o processo de escolarização dos jovens.

Na Idade Média, a educação basicamente se reservava às instituições religiosas com professores frequentemente sendo os próprios clérigos, onde por óbvio haviam a falta de liberdade acadêmica, de ampla diversidade cultural, além do ensino exclusivo em latim e até a falta de recursos disponibilizados pela igreja (Banniard, 1980, p. 133).

No período Renascentista, os paradigmas da sociedade foram sendo gradativamente mudados, houve um avivamento, um renascimento como o próprio nome sugere, do interesse pela educação e pela valorização dos professores , sobretudo, a forma como o sistema educacional foi estruturado. Para Saviani e Lombardi (2018), nesse período Renascentista, a educação passou a ser reconhecida como um instrumento fundamental para o desenvolvimento humano e social. No entanto, nem tudo foi um mero florescimento e um dos muitos desafios enfrentados pelos professores era a crescente diversidade de alunos, com diferentes habilidades e níveis de conhecimento em um único espaço educacional (Almeida, 1999, p. 58). Além disso, recursos educacionais ainda eram muito limitados e fragmentados, por vezes restritos aos estudantes fizessem parte das classes elitizadas.

No século XVIII houve o surgimento das primeiras escolas públicas. Com o surgimento dessa, vieram também novos desafios. Para Bittencourt (2013, p. 78), era o grande o número de estudantes em sala de aula, com uma diversidade de aculturação e distintos níveis de desenvolvimento, o que tornava difícil para o professor transmitir o conhecimento de forma individualizada. Para Freitas (2010, p. 42), além disso, “os professores enfrentavam problemas de indisciplina e comportamento inadequado para o contexto de sala de aula”, já que os estudantes passavam longas horas na escola.

No século XIX, com a chamada “Revolução Industrial”, as sociedades, inclusive a sociedade brasileira, passavam por mudanças profundas em diversos aspectos estruturais, incluindo não somente a economia, mas a política e as tecnologias do processo de industrialização. Isso gerava a necessidade de reflexão do papel da educação na formação dos cidadãos e na preparação para o mundo do trabalho segundo Saviani (2021).

Nesse emergente contexto histórico, os professores eram confrontados com inúmeros desafios para inovar em suas práticas pedagógicas e com isso conseguir acompanhar as efusivas transformações sociais. Um dos grandes desafios educacionais era adequar o trabalho pedagógico aos anseios da sociedade de industrialização em massa, que demandava uma força de trabalho que fosse ao mesmo tempo qualificada e adaptada. Com o crescimento populacional nas cidades , houve uma busca cada vez maior para ter acesso à escola. Segundo Libâneo (2013), os professores precisavam, então, encontrar maneiras de atender a demanda e de preparar os estudantes para esse novo cenário social e, isso incluía novas estratégias de experienciação de conhecimento e uso de recursos didáticos diferenciados.

Mais adiante com a expansão do processo de industrialização e a evolução tecnológica, mais precisamente no limiar do século XXI, surgem outros e novos anseios da sociedade por uma educação escolar. Houve muita relevância no contexto educativo para a vida ao longo do tempo e essa perspectiva valorizava a importância da interação professor/alunos, bem como a adaptação do ensino às necessidades individuais do estudante, algo que nos leva “a retomar e a atualizar o conceito de educação ao longo da vida” (Delors, 2010, p. 9). Porém, os desafios relacionados a esse período eram a falta de infraestrutura  (salas de aula superlotadas), níveis distintos de conhecimento e falta de recursos, além de questões socioeconômicos.

 

3 Desafios da Profissão Docente ao Longo da História e na Era Digital

 

Na atualidade, os desafios dos professores vêm evoluindo, o que reflete mudanças nas sociedades e nos sistemas educacionais. Além dos desafios corriqueiros considerados históricos, têm envolvido questões árduas e desafiadoras como a educação inclusiva em sala de aula, a crescente dependência de implementação do uso de recursos com dispositivos eletrônicos no processo de experienciação de conhecimento, “que favorecem o desenvolvimento de sua capacidade crítica e reflexiva em relação ao que estão fazendo” (Gomes e Lima, 2019, p. 11), bem como, desinteresse e a desmotivação dos estudantes para com o conhecimento.

Outro desafio histórico e contundente dos professores ainda em dias atuais é falta de reconhecimento e prestígio profissional, além disso, o baixo nível de autoridade em sala de aula e no contexto educativo, sendo fator negativo no desenvolvimento do trabalho do professor e na aprendizagem dos estudantes em muitos países (UNESCO, 2020). Durante muitos séculos, a profissão de professor foi berço para entendimento político e social como uma atuação profissional de baixo prestígio, com pouca valorização da importância do trabalho dos professores na formação dos cidadãos.

Atualmente, os professores também enfrentam desafios os quais exigem desses profissionais práticas inovadoras e tecnológicas capazes de “estimular a criatividade de cada um e a percepção de que todos podem evoluir como pesquisadores, descobridores, realizadores, que conseguem assumir riscos, aprender com os colegas, descobrir seus potenciais.” (Moran, 2018). A tecnologia, “de um modo em geral cada vez mais se torna ferramenta para potencializar a educação para sociedade” (Moreira e Costa, 2020, p. 63), isso tem exigido que os professores se mantenham atualizados e se adaptem ao uso de recursos digitais em sua prática pedagógica de sala de aula.

Assim sendo, por essa breve exposição, vemos como os desafios experenciados pelos professores percorrem toda a história da humanidade, desde a Grécia Antiga, passando pela Idade Média, Renascimento e com persistência até os dias atuais. Portanto, esse conhecimento e compreensão dos desafios com raízes históricas são um ponto de partida para ajudar os professores a desenvolver abordagens pedagógicas mais eficazes. Esses desafios não podem ser negligenciados, mas ao contrário devem ser enfrentados e superados, para com isso prover uma educação de qualidade e equidade para todos e, assim, “pode se tornar uma chance para repensar o mundo de amanhã” (François, 2003, p. 16).

A educação inclusiva no Brasil se constituiu ao longo dos anos, fixando suas raízes influenciada por diversas discussões sociais, movimentos, embates e debates intensos de natureza inclusiva. Assim, podemos destacar a Conferência Mundial de Educação para Todos, em 1990 e a emissão da Declaração de Salamanca em 1994 (durante a Conferência Mundial sobre Educação Especial) que contou com a participação de mais de oitenta nações, incluindo o Brasil. Esse documento além de estabelecer novas metas para orientar sistemas de ensino reconheceu a importância de uma educação inclusiva como direito fundamental.

 

4 Resultados e discussões

 

A educação inclusiva busca garantir o acesso e a participação igualitária de todos os estudantes, independentemente de condições físicas, intelectuais, socioculturais ou econômicas. Isso resulta em “um dos objetivos anunciados no âmbito das políticas públicas da educação inclusiva que é transformar o sistema educacional em um sistema educacional inclusivo”, conforme argumentam Michels & Garcia (2014). No Brasil, a esse tema tem ganhado cada vez mais força nas últimas décadas, em busca da inclusão e da igualdade na sociedade contemporânea.

Apesar dos avanços da modernidade, no contexto da educação inclusiva os professores ainda enfrentam uma gama de desafios na sua atuação em sala de aula. Esses desafios vão desde as áreas pedagógicas, emocionais, físicas até as sociais pois, implica realizar cotidianamente adequação curricular e pedagógica, adaptando a metodologia de experiência do conhecimento, para atender às individualidades das necessidades de cada estudante do contexto da educação inclusiva. É extremamente desafiador para o professor na prática pedagógica em sala de aula pois o mesmo age para “restituir uma igualdade que foi rompida por forma segregadora de ensino especial e regular” Mantoan et al (2023). Portanto, a falta de formação específica em educação inclusiva, a ausência de formação continuada específica e eficiente, dificulta a adaptação das práticas pedagógicas para garantir a plena inclusão dos estudantes em sala de aula.

De acordo com Coelho (2024), “ainda existem muitas instituições de ensino com infraestrutura bem precária e falta de recursos tecnológicos adequados, o que de certa forma, dificulta implementar estratégias inovadoras”. A infraestrutura inadequada e escassez de materiais didáticos adaptados, como tecnologias assistivas e ambientes físicos acessíveis, são desafios enfrentados pelos professores de sala de aula. Portanto, a ausência dessas condições adequadas e inclusivas, implica negativamente na qualidade do processo de experiência do conhecimento e aprendizagem dos estudantes da educação inclusiva.

A diversidade de estudantes com deficiência ou característica atípica de transtorno de desenvolvimento na mesma turma é um desafio que os professores enfrentam ao adaptar metodologias em sala de aula. Segundo Carvalho et al (2016), “os professores se sentem perdidos ao lidar com a diversidade em sala de aula, porque ainda existe lacuna entre a formação e a atuação prática”, portanto, a superação desse desafio requer um esforço profissional elevado.

Administrar o tempo para conseguir dar atenção aos estudantes do âmbito da educação inclusiva é um desafio exponencial pois, distribuir equitativamente o tempo e a atenção entre todos os estudantes, ainda mais em turmas grandes, resulta com muita frequência em pouca atenção para com o educando portador de deficiência ou transtorno de desenvolvimento. Ou seja, por vezes esses estudantes, acabam por receber bem menos atenção do que necessitam para o seu desenvolvimento como abordado por Mantoan (2003).

SILVA (2023) defende que os resultados da avaliação devem representar com exatidão o avanço desses alunos, levando em conta suas restrições e capacidades.  No presente contexto, a falta de formação continuada específica e constante para o professor prejudica a execução eficaz de uma avaliação inclusiva e equitativa, uma vez que se torna imprescindível uma formação docente “que o capacite para lidar com as diferenças” ALONSO (2022).

Em determinados casos, a ausência de colaboração por parte das famílias de alunos com deficiência ou características atípicas de transtorno de desenvolvimento representa um desafio significativo, em virtude das diferentes expectativas estabelecidas para o progresso desses alunos.  Em determinadas circunstâncias, observa-se a delegação de responsabilidades familiares a terceiros.  É fundamental que as famílias, quando necessário, reconheçam suas responsabilidades e procurem serviços na área da saúde, a fim de garantir que seus filhos recebam a educação apropriada às suas necessidades educativas especiais e se sintam efetivamente integrados no contexto educacional.  Conforme Sampaio (2011), “não é qualquer tipo de Educação que ‘serve’” para viabilizar a efetiva promoção da garantia dos direitos educacionais e a inclusão escolar.  Portanto, o que se analisa neste contexto não é a exigência dos pais em relação aos professores quanto ao progresso dos alunos, e sim a ausência de dedicação e cumprimento de suas obrigações enquanto responsáveis.

A educação inclusiva tem sido amplamente discutida como um imperativo pedagógico e social, especialmente no contexto das tecnologias assistivas. Segundo Santos et al (2024), a integração de recursos como softwares de leitura auditiva, dispositivos de comunicação alternativa e ambientes virtuais acessíveis permitem que estudantes com necessidades especiais participem do processo educacional de forma mais ativa, tornando-se protagonistas da própria educação e alcançando autonomia em seu papel na sociedade. Desta forma essas ferramentas não apenas superam barreiras físicas e sensoriais, mas também se tornam promotoras da equidade ao adaptar metodologias às necessidades individuais. Estudos recentes na plataforma SciELO reforçam que tecnologias assistivas estão ligadas à melhoria no desempenho acadêmico de alunos com dificuldades motoras ou cognitivas.

Contudo, a implementação dessas tecnologias enfrenta desafios não somente estruturais, mas também sociais. De Oliveira et al. (2024) apontam que a falta de formação docente para utilizar de forma plena ferramentas assistivas e a carência de infraestrutura nas escolas públicas limitam seu potencial. Em pesquisa realizada em instituições brasileiras, os autores identificaram que apenas 35% dos educadores se sentiam aptos para utilizar recursos como lupas eletrônicas ou sintetizadores de voz. Além disso, Pereira e Almeida (2023) ressaltam que a sustentabilidade dos projetos depende de aportes e investimentos contínuos, já que muitas tecnologias exigem atualizações constantes, manutenções e requisitos físicos mínimos para operar. Esses obstáculos evidenciam a necessidade de políticas públicas que unam educação, tecnologia e assistência social para superar as dificuldades e desigualdades sociais para promover a equidade e educação para todos, não excluindo os alunos de grupos de vulnerabilidade social ou minorias regionais.

A formação de professores é um ponto central para superar essas limitações. Segundo Santos (2024), cursos de capacitação que integrem teoria e prática são essenciais para que educadores compreendam as especificidades das deficiências e dominem ferramentas como programas de tradução em Libras ou plataformas de aprendizagem adaptativa. Gomes e Fernandes, 2023 defendem que a inclusão deve ser abordada de forma transversal nos currículos de licenciatura, preparando futuros profissionais para atuar em salas de aula heterogêneas.

As perspectivas sobre a convergência entre inteligência artificial (IA) e educação inclusiva ampliam-se cada vez mais com avanços tecnológicos que prometem personalização em escala. Fontenele e Cantero (2024) destacam que algoritmos podem analisar padrões de aprendizagem e identificar dificuldades específicas do aluno, como disgrafia ou déficit de atenção, antes mesmo de um diagnóstico formal. Sistemas como o AdaptaEdu, citado pelos autores, utilizam dados de interação em plataformas digitais para ajustar tarefas e oferecer feedbacks imediatos, reduzindo a lacuna entre estudantes com e sem deficiências. No entanto, Martins e Lima (2023) advertem que a eficácia dessas ferramentas não é plena uma vez que depende da qualidade dos dados inseridos nas bases de dados das plataformas, já que vieses em algoritmos podem, ao invés de superar, reforçar desigualdades existentes, especialmente em contextos de periferias ou extremos demográficos onde os estudantes por razoes estruturais e sociais possuem baixa conectividade com a internet.

No cenário brasileiro, projetos piloto ilustram tanto avanços quanto obstáculos práticos. Oliveira et al. (2023) analisaram a implementação do programa IncluiTech, que integrou tutores virtuais com reconhecimento de emoções em escolas do Nordeste. Os resultados apontaram um aumento de 22% na participação de alunos autistas em atividades colaborativas. Infelizmente os autores também revelaram desafios, como a resistência de educadores em confiar ou mesmo atotar sistemas automatizados. Além disso, Pereira (2022) ressalta que a falta de infraestrutura digital em periferias limita o acesso a ferramentas como realidade aumentada para descrição de imagens, crucial para estudantes com deficiência visual. Essas experiências evidenciam a necessidade de políticas regionais adaptadas às realidades locais para garantir equidade.

Por fim, a integração sustentável dessas tecnologias requer sinergia entre setores públicos, privados e academia. Fontenele e Cantero (2024) defendem a criação de editais específicos para financiar pesquisas aplicadas, como o desenvolvimento de softwares em Libras com reconhecimento de regionalismos. Além disso, enfatizam a importância de parcerias internacionais para adaptar ferramentas bem-sucedidas em outros países. A longo prazo, a visão desses autores inclui um ecossistema educacional no qual tecnologias assistivas não sejam meros acessórios, mas componentes intrínsecos do planejamento pedagógico, articulados a currículos flexíveis e avaliações inclusivas. Essa transformação, contudo, depende de compromisso coletivo com a equidade, transcendo a mera incorporação de dispositivos para repensar estruturas sociais e educacionais como um todo a fim de alcançar uma educação transformadora e revolucionária.

O processo de escolarização em sala de aula na perspectiva da educação inclusiva, tem sido desafiador. Os professores têm lutado contra uma gama de desafios no exercício de suas funções, que por natureza, têm grande impacto no processo de aculturação e sistematização do conhecimento dos estudantes com deficiência ou com transtornos de desenvolvimento. É muito importante destacar que a compreensão desses desafios enfrentados pelos docentes em sala de aula, no âmbito da educação inclusiva, pode ser essencial para a criação de estratégias e abordagens metodológicas mais eficazes, com o objetivo de enfrentá-los e superá-los, para assim garantir educação de qualidade e igualdade a todos os estudantes, correspondendo aos anseios da sociedade atual.

Considerando o panorama contemporâneo da atuação pedagógica no âmbito da educação inclusiva, apesar das dificuldades enfrentadas, é imprescindível que a sociedade persista em sua luta incansável por uma educação inclusiva que reconheça e respeite a diversidade, pautando-se pelo humanismo. Compreende-se que é fundamental intensificar os esforços na implementação de políticas públicas, bem como na atuação docente, de modo a torná-las inclusivas e inovadoras, a fim de fomentar as transformações indispensáveis às quais almejamos e nas quais acreditamos ser viáveis. Isso permitirá que os estudantes desse contexto educacional consigam, na prática, assegurar seus direitos relacionados à aprendizagem.

 

5 Conclusão

 

Após examinar com profundidade os diversos argumentos e concepções abordadas neste estudo sobre a natureza dos eventos observados e analisados, fica claro que é extremamente essencial, sendo objeto de uma agenda urgente a necessidade de implementar, ampliar e consolidar políticas públicas que promovam o uso em sala de aula de recursos de dispositivos tecnológicos assistivos, bem como, materiais didáticos adaptados às reais necessidades educativas dos estudantes da educação inclusiva.

Com o propósito de melhora de forma substancial a atuação pedagógica, entende-se que é necessário o oferecimento de incentivos significativos aos professores para valorizar os docentes com didática metodológica que atende as reais necessidades educativas dos estudantes com deficiências ou com características atípicas de transtorno de desenvolvimento. O objetivo é potencializar amplamente a promoção de aprendizagem com qualidade e equidade. Além disso, proporcionar aos docentes e aos demais agentes educativos, formação continuada constante, com aprofundamento na temática de especificidades educativas dos estudantes com deficiência ou características atípicas de transtorno desenvolvimento.

A educação precisa estar profundamente integrada à concepção humana de inclusão educacional e social, aliada ao desenvolvimento de competências não apenas escolares mas para vida e que levem em conta as exigências da realidade em que vivemos no mundo atual da cultura digital.

 

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