
EMILL BRUNNER WORLD UNIVERSITY DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
KENIA PRISCILA MARCIANO ALVES
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA E O USO DE TECNOLOGIAS ASSISTIVAS PARA A COMUNICAÇÃO
Flórida USA
2025
KÊNIA PRISCILA MARCIANO ALVES
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA E O USO DE TECNOLOGIAS ASSISTIVAS PARA A COMUNICAÇÃO
ORIENTADOR: Profª. Dra. Luciana Cruz de Freitas, PhD.
Flórida USA
2025
RESUMO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por alterações na comunicação social e comportamentos repetitivos, impactando significativamente o desenvolvimento da linguagem. Este trabalho tem como objetivo analisar, por meio de revisão bibliográfica, a contribuição de tecnologias assistivas para o desenvolvimento da comunicação em crianças com TEA. Os resultados evidenciam que tecnologias como PECS (Picture Exchange Communication System), aplicativos como o Proloquo2Go e recursos de Comunicação Aumentativa e Alternativa são eficazes para promover a interação, ampliar o vocabulário e facilitar a expressão de desejos e necessidades. Conclui-se que o uso dessas tecnologias, associado à intervenção fonoaudiológica, potencializa a comunicação funcional e a autonomia da criança com TEA.
PALAVRAS-CHAVE: Transtorno do Espectro Autista; Desenvolvimento da Linguagem; Tecnologia Assistiva; Comunicação Aumentativa e Alternativa; Fonoaudiologia.
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1 INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta significativamente a interação social, a comunicação e o comportamento. O desenvolvimento da linguagem, tanto verbal quanto não verbal, costuma apresentar atrasos ou alterações que dificultam a participação plena da criança nas atividades cotidianas e sociais. Diante disso, a utilização de tecnologias assistivas tem ganhado destaque como ferramenta de apoio para ampliar as possibilidades de comunicação e interação dessas crianças, contribuindo para o desenvolvimento da autonomia e da qualidade de vida.
A importância deste trabalho está fundamentada na necessidade de compreender e divulgar o papel das tecnologias assistivas no processo de desenvolvimento da linguagem em crianças com TEA. Considerando o aumento das taxas de diagnóstico de TEA e a demanda crescente por recursos que favoreçam a inclusão e a comunicação funcional, torna-se essencial para os profissionais da Fonoaudiologia conhecer as possibilidades de intervenção mediadas por essas tecnologias. O estudo contribui, portanto, para ampliar o repertório teórico e prático de profissionais, familiares e educadores.
O problema que norteia este estudo refere-se às dificuldades comunicativas enfrentadas por crianças com TEA e à busca por recursos eficazes que favoreçam o desenvolvimento da linguagem e a interação social. Apesar dos avanços na área de Comunicação Aumentativa e Alternativa, ainda são escassos os estudos que sistematizam as evidências sobre a eficiência e a aplicabilidade de diferentes tecnologias assistivas nesse contexto, especialmente no âmbito fonoaudiológico.
Diante desse contexto, o objetivo geral deste trabalho é analisar a contribuição das tecnologias assistivas para o desenvolvimento da comunicação em crianças com Transtorno do Espectro Autista. Como objetivos específicos, pretende-se: (I) descrever as principais alterações de linguagem presentes em crianças com TEA; (II) identificar as tecnologias assistivas utilizadas para a comunicação nesse público; e (III) discutir o papel do fonoaudiólogo na seleção e implementação desses recursos.
Mediante o exposto, está pesquisa aborda a importância e colaboração da comunicação alternativa no desenvolvimento da comunicação, e sua relação com o desenvolvimento da comunicação e interação social em pessoas com TEA.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA – TEA
O Transtorno do Espectro Autista (TEA), conforme descrito no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição), é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits persistentes na comunicação e interação social em múltiplos contextos, bem como por padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades.
Essas manifestações devem estar presentes desde o início do desenvolvimento, ainda que possam não se tornar totalmente evidentes até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas da criança. Além disso, os sintomas devem causar prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
Além disso, o DSM-5 passou a englobar sob o termo “Transtorno do Espectro Autista” diferentes diagnósticos anteriormente separados, como autismo infantil, síndrome de Asperger, transtorno desintegrativo da infância e transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação.
Essas subdivisões causavam dificuldade diagnóstica e sobreposição de critérios, já que muitos pacientes apresentavam características mistas.
Na CID-10, os transtornos do espectro autista eram classificados sob o título “Transtornos Globais do Desenvolvimento”, com subcategorias distintas, como: Autismo infantil (F84.0); Síndrome de Asperger (F84.5); Transtorno desintegrativo da infância (F84.3), entre outros.
No momento há uma transição do diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) da CID-10 para a CID-11 que trouxe mudanças significativas na classificação, nomenclatura e critérios diagnósticos, alinhando-se mais ao modelo adotado pelo DSM-5.
Com a CID-11, todos esses subtipos foram unificados sob um único diagnóstico: Transtorno do Espectro do Autismo (6A02). Essa nova abordagem reconhece o autismo como um espectro com variação em termos de intensidade e apoio necessário, em vez de categorias separadas. A CID-11 também passou a incluir descritores adicionais, como: Presença ou ausência de deficiência intelectual; Presença ou ausência de comprometimento da linguagem funcional; Esses descritores permitem uma caracterização mais precisa do quadro clínico e das necessidades de cada indivíduo.
Essa mudança reflete uma compreensão mais moderna e abrangente do autismo, baseada na ideia de que os sintomas e as necessidades podem variar amplamente entre as pessoas diagnosticadas.
Segundo a American Psychiatric Association (2013), o TEA é diagnosticado com base em dois critérios principais:
Déficits na comunicação e interação social, incluindo dificuldades na reciprocidade socioemocional, comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, e dificuldades em desenvolver, manter e compreender relacionamentos.
Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, como movimentos motores repetitivos, insistência em rotinas, interesses fixos e hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais.
Por tanto, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits persistentes na comunicação e na interação social, associados a padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Esses prejuízos estão presentes desde os primeiros anos de vida e comprometem significativamente o funcionamento social, educacional e ocupacional do indivíduo (APA, 2014).
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5ª edição (DSM-5), um dos critérios diagnósticos do TEA é a “dificuldade persistente na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos” (APA, 2014, p. 50). Esses déficits abrangem três principais áreas: a reciprocidade socioemocional, os comportamentos comunicativos não verbais usados para a interação social e a dificuldade para desenvolver, manter e compreender relacionamentos.
A reciprocidade socioemocional refere-se à capacidade de compartilhar emoções, interesses ou afetos com os outros. Conforme aponta Bosa (2002), “crianças com autismo muitas vezes não iniciam interações sociais e, quando o fazem, apresentam respostas limitadas ou inadequadas ao contexto social” (p. 43). Essa dificuldade se traduz na ausência de comportamentos como responder a sorrisos, manter o interesse em interações compartilhadas ou demonstrar empatia.
Outro aspecto relevante são os comportamentos comunicativos não verbais, como contato visual, expressões faciais, gestos e linguagem corporal. Esses comportamentos são muitas vezes ausentes, inadequados ou atípicos em pessoas com TEA. De acordo com Baron-Cohen et al. (2005), “a habilidade de usar expressões faciais e gestos para se comunicar de maneira eficaz é profundamente comprometida no autismo, dificultando a interpretação das intenções alheias” (p. 45). Isso contribui para a quebra da comunicação interpessoal e para o isolamento social.
Além disso, as dificuldades na formação e manutenção de relacionamentos também são evidentes. Em contextos escolares, por exemplo, crianças com TEA tendem a preferir atividades solitárias e podem apresentar dificuldade em compreender regras sociais implícitas. Para Silva e Mendes (2018), “essas crianças frequentemente não conseguem adaptar seu comportamento a diferentes contextos sociais, o que gera rejeição por parte dos colegas e limitações no desenvolvimento de vínculos afetivos” (p. 102).
Vale ressaltar que a gravidade dos déficits pode variar amplamente entre os indivíduos, o que caracteriza o transtorno como um espectro. A identificação precoce desses sinais, acompanhada de intervenção especializada, é fundamental para o desenvolvimento das habilidades sociais e comunicativas. Conforme destaca Schwartzman (2011), “o diagnóstico precoce e a intervenção intensiva têm papel crucial na modulação do curso do desenvolvimento de crianças com autismo” (p. 89).
Os padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades representam um dos critérios diagnósticos fundamentais do Transtorno do Espectro Autista (TEA), conforme estabelecido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. Esse grupo de sintomas pode manifestar-se de diferentes formas, sendo caracterizado pela presença de comportamentos motoros repetitivos, insistência em rotinas, interesses altamente restritos e respostas atípicas a estímulos sensoriais.
Segundo a American Psychiatric Association (2014), o diagnóstico de TEA exige a presença de “padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades, manifestados por pelo menos dois dos seguintes: movimentos motores estereotipados ou repetitivos, insistência em mesmices, interesses altamente fixos e anormais em intensidade ou foco, e hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais” (APA, 2014, p. 52).
Dentre os comportamentos motores repetitivos mais comuns observados em indivíduos com TEA, destacam-se o bater de mãos, balançar o corpo, alinhar objetos e a ecolalia (repetição de palavras ou frases). Tais comportamentos são geralmente automáticos e podem estar relacionados à busca por autorregulação emocional ou sensorial. Como descreve Schwartzman (2011), “as estereotipias motoras, como o bater de mãos e o balançar do tronco, são características muito frequentes e podem ocorrer de forma contínua ou em momentos de excitação” (p. 88).
Outro aspecto marcante é a insistência em rotinas e resistência a mudanças. Indivíduos com TEA frequentemente demonstram forte necessidade de previsibilidade no ambiente e reagem de forma negativa a alterações inesperadas em suas rotinas diárias. Isso pode incluir resistência a mudar o trajeto para a escola, horários de refeições ou disposições dos objetos em casa. De acordo com Amaral et al. (2017), “mudanças simples no ambiente podem provocar reações intensas e desproporcionais, como crises de choro, agressividade ou isolamento” (p. 60).
Além disso, é comum a presença de interesses fixos e altamente restritos, que são mantidos com intensidade incomum. Esses interesses geralmente envolvem objetos ou temas específicos, como trens, calendários, logotipos ou assuntos científicos, e são abordados de maneira repetitiva e intensa. Para Bosa (2002), “tais interesses não apenas restringem o repertório de atividades da criança, como também podem dificultar a interação com seus pares, que não compartilham o mesmo entusiasmo ou compreensão sobre o tema” (p. 41).
Por fim, a hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais é uma manifestação comum entre indivíduos com TEA. Essas alterações podem envolver todos os sentidos, como hipersensibilidade a sons, texturas, luzes ou odores, ou uma resposta diminuída a estímulos que normalmente causariam incômodo. Como afirmam Baron-Cohen, Leslie e Frith (2005), “as reações sensoriais atípicas contribuem significativamente para o isolamento social, visto que ambientes comuns podem se tornar insuportáveis para alguns indivíduos com autismo” (p. 45).
A presença desses comportamentos, embora variável em intensidade e frequência, impacta significativamente a autonomia, a aprendizagem e as relações sociais do indivíduo. Portanto, compreender a função desses comportamentos e oferecer suporte individualizado é essencial para promover o desenvolvimento e a qualidade de vida da pessoa com TEA.
2.2 ALTERAÇÕES DE LINGUAGEM
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por déficits na comunicação social e por padrões restritos e repetitivos de comportamento. Entre os aspectos mais marcantes no desenvolvimento da pessoa com TEA estão os transtornos de linguagem, que podem se manifestar de formas variadas e em diferentes graus de severidade. A identificação precoce dessas alterações é essencial para garantir intervenções eficazes e favorecer a aquisição da comunicação funcional.
Os transtornos de linguagem em indivíduos com TEA envolvem atrasos no desenvolvimento da linguagem verbal, dificuldade de compreensão, uso limitado da linguagem para interação social e, em alguns casos, ausência total da fala. Outros sinais comuns incluem ecolalia (repetição de palavras ou frases), uso estereotipado da linguagem, inversão pronominal e dificuldade em iniciar ou manter conversas. Segundo Bosa e Caçola (2016), “as crianças com TEA frequentemente apresentam dificuldades na pragmática da linguagem, ou seja, no uso da linguagem em contextos sociais, mesmo quando possuem vocabulário adequado”.
É importante destacar que não existe um único padrão de linguagem no TEA, o que torna fundamental a avaliação individualizada. Algumas crianças podem desenvolver linguagem oral dentro dos marcos esperados, mas apresentar dificuldades no uso social da comunicação; outras podem necessitar de sistemas alternativos de comunicação, como a Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), para expressar desejos, sentimentos e necessidades.
A observação de sinais de alerta deve começar nos primeiros 12 a 24 meses de vida. Nessa fase, espera-se que a criança reaja ao nome, use gestos para se comunicar (como apontar ou acenar), imite sons e ações, estabeleça contato visual e demonstre intenção comunicativa. A ausência desses comportamentos pode ser indicativa de alterações no desenvolvimento da linguagem e requer avaliação especializada. De acordo com Fernandes e Molini-Avejonas (2020), “a observação cuidadosa dos marcos do desenvolvimento da linguagem nos dois primeiros anos é essencial para o encaminhamento precoce à intervenção fonoaudiológica”.
A identificação precoce dos transtornos de linguagem em pessoas com TEA é fundamental para a elaboração de estratégias de intervenção eficazes, que promovam a comunicação funcional e a participação social. O acompanhamento fonoaudiológico desde os primeiros anos de vida possibilita um desenvolvimento mais adaptativo e contribui significativamente para a qualidade de vida do indivíduo e de sua família.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por dificuldades na comunicação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento. Um dos aspectos centrais do TEA é a presença de alterações na linguagem, que podem variar amplamente entre os indivíduos afetados.
As dificuldades de linguagem no TEA não se limitam à fala propriamente dita, mas envolvem também aspectos pragmáticos, semânticos e sintáticos da comunicação. Crianças com TEA podem apresentar desde ausência total de fala até dificuldades mais sutis, como compreender metáforas ou manter uma conversação apropriada. Segundo Bosa (2002), “as alterações na linguagem e na comunicação constituem um dos aspectos mais marcantes e precoces nos quadros de autismo”.
As alterações de linguagem em crianças com desenvolvimento atípico, como no caso do Transtorno do Espectro Autista (TEA), podem se manifestar de formas variadas, sendo a linguagem imediata e a linguagem tardia duas das mais comuns, especialmente no contexto da ecolalia. A ecolalia imediata ocorre quando a criança repete palavras ou frases logo após ouvi-las, muitas vezes sem compreendê-las ou usá-las de forma funcional. Por exemplo, ao ouvir a pergunta “Você quer água?”, a criança pode simplesmente repetir “Você quer água?”, em vez de dar uma resposta apropriada. Já a ecolalia tardia refere-se à repetição de frases ou trechos ouvidos anteriormente — às vezes dias ou semanas antes — que aparecem fora de contexto, como repetir uma fala de um desenho animado durante uma situação não relacionada.
Segundo Fernandes et al. (2019), essas formas de ecolalia não devem ser vistas apenas como estereotipias, mas também como possíveis estratégias comunicativas emergentes. Crianças com TEA, por exemplo, podem utilizar essas repetições como tentativa de manter uma interação ou de expressar desejos e emoções, mesmo que de forma não convencional. A identificação correta do tipo de ecolalia e sua função comunicativa é essencial para orientar as intervenções fonoaudiológicas e terapêuticas adequadas.
É importante destacar que tanto a ecolalia imediata quanto a tardia fazem parte de um processo de aquisição linguística que pode, com acompanhamento profissional e apoio familiar, evoluir para formas mais funcionais de linguagem. Como ressalta Amaral et al. (2017), o papel do ambiente, da estimulação adequada e da atuação precoce são cruciais para transformar padrões ecolálicos em comunicação significativa.
As principais alterações de linguagem presentes em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) variam de acordo com o grau de comprometimento, mas geralmente envolvem aspectos da comunicação verbal e não verbal, pragmática da linguagem, prosódia, além de atrasos no desenvolvimento da fala. Muitas dessas crianças podem apresentar fala atípica, com características como ecolalia, uso repetitivo ou idiossincrático da linguagem, além de dificuldades em iniciar ou manter conversações.
De acordo com Fernandes et al. (2020), “as crianças com TEA frequentemente apresentam comprometimentos nas habilidades comunicativas, sobretudo na linguagem pragmática, dificultando a compreensão e uso da linguagem de maneira funcional em contextos sociais”. Isso pode incluir desde ausência de gestos comunicativos, como apontar, até dificuldades em adaptar a linguagem conforme o interlocutor ou situação.
Outro aspecto frequentemente observado é a ecolalia, que pode ser imediata (repetição imediata do que foi ouvido) ou tardia (repetição após um intervalo de tempo). Embora anteriormente vista como um comportamento disfuncional, estudos mais recentes sugerem que a ecolalia pode ter função comunicativa e representar uma etapa no desenvolvimento da linguagem dessas crianças (Prizant & Rydell, 1993).
Além disso, é comum que essas crianças apresentem alterações na entonação, ritmo e volume da fala (prosódia), que contribuem para uma fala percebida como monótona ou robótica. Há também casos em que a linguagem pode ser formal ou pedante, mesmo em contextos informais.
Essas dificuldades podem comprometer significativamente a inserção social e educacional da criança com TEA. Conforme explica Mody e Belliveau (2013), “as anomalias no processamento da linguagem em crianças com TEA refletem alterações neurofuncionais que afetam a maneira como o cérebro responde à fala”.
Em resumo, as alterações de linguagem em crianças com TEA são multifacetadas e envolvem tanto o conteúdo quanto o uso da linguagem, refletindo as dificuldades centrais de comunicação social e interação presentes nesse transtorno.
Essas alterações geram grandes preocupações entre as famílias, que geralmente observam com atenção cada avanço ou retrocesso na comunicação de seus filhos.
Diante dessas mudanças, as reações familiares podem ser diversas. Em muitos casos, a família inicia uma busca intensa por respostas, recorrendo a profissionais como fonoaudiólogos, psicólogos e neurologistas. Há também uma procura por estratégias e terapias que possam estimular o desenvolvimento da linguagem, como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), o uso de Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA) e a integração com ambientes inclusivos.
Além disso, é comum que os familiares passem por fases de ansiedade, frustração e medo diante do desconhecido. A ausência de previsibilidade no desenvolvimento da linguagem pode gerar insegurança, principalmente nos primeiros anos de vida da criança. Por outro lado, quando bem orientadas, muitas famílias tornam-se grandes aliadas no processo terapêutico, criando rotinas estruturadas, promovendo interações significativas e participando ativamente das intervenções.
É importante destacar que o apoio emocional e informativo à família é fundamental. O acesso a grupos de apoio, trocas com outras famílias e o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar podem fazer uma grande diferença, tanto para o progresso da criança quanto para o bem-estar dos cuidadores.
Em suma, as alterações de linguagem no TEA exigem atenção constante e estratégias personalizadas. As famílias, ao reconhecerem e entenderem essas mudanças, desempenham um papel essencial na promoção do desenvolvimento comunicativo de seus filhos, sendo parte integrante e indispensável do processo terapêutico.
Sendo assim as tecnologias assistivas desempenham um papel fundamental no apoio à comunicação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), especialmente aquelas que apresentam dificuldades significativas na linguagem verbal. Essas tecnologias compreendem uma ampla gama de recursos, dispositivos e sistemas desenvolvidos para aumentar, manter ou melhorar as habilidades funcionais de comunicação dessas crianças, promovendo maior autonomia e inclusão social.
2.3 Tecnologias assistivas
As Tecnologias Assistivas (TAs), em especial os recursos de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), são ferramentas fundamentais para promover a comunicação funcional de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), especialmente quando há ausência ou severa limitação da linguagem oral. A atuação do fonoaudiólogo é essencial tanto na seleção quanto na implementação dessas tecnologias, considerando o momento clínico, o perfil funcional do indivíduo e as possibilidades de generalização para os ambientes familiar, escolar e social.
A inclusão de Tecnologias Assistivas deve ser considerada sempre que a comunicação oral não estiver suficientemente funcional para garantir a expressão de desejos, necessidades, emoções e interação social. O objetivo não é substituir a fala, mas ampliar as formas de expressão e favorecer a participação ativa da pessoa com TEA nos contextos em que vive. Como afirmam Paula e Rocha (2018), “a CAA deve ser introduzida o mais precocemente possível quando há risco de atraso significativo de linguagem, não havendo necessidade de aguardar o fracasso da fala para iniciar sua utilização”.
Não há uma idade mínima específica para a introdução da CAA. O mais importante é observar se há intenção comunicativa e capacidade mínima de associação simbólica, mesmo que ainda não desenvolvida verbalmente. Crianças com 1 ano ou até menos podem se beneficiar de sistemas de figuras, pranchas, objetos concretos ou dispositivos digitais adaptados, desde que estes recursos sejam compatíveis com suas habilidades cognitivas, sensoriais e motoras. A seleção da tecnologia deve ser sempre individualizada, respeitando o perfil da criança e suas reais possibilidades de uso.
O fonoaudiólogo é responsável por avaliar o momento oportuno para introduzir essas tecnologias, treinar o usuário e orientar a família, os professores e demais profissionais envolvidos no processo. A efetividade da CAA depende do envolvimento da rede de apoio e da integração do recurso ao cotidiano da pessoa com TEA. Além disso, a intervenção deve ser dinâmica e ajustada conforme a evolução da comunicação oral ou não oral do indivíduo.
Assim, a tecnologia assistiva não deve ser vista como última alternativa, mas como parte integrante de um plano de intervenção precoce e multimodal, que visa garantir o direito à comunicação e à inclusão plena da pessoa com TEA.
O uso de tecnologias assistivas tem se mostrado cada vez mais relevante na promoção da inclusão de crianças com deficiências ou transtornos do desenvolvimento, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), tanto no ambiente escolar quanto no familiar. Essas tecnologias compreendem recursos e serviços que visam ampliar as habilidades funcionais das pessoas com limitações, favorecendo sua autonomia, participação social e comunicação.
As tecnologias assistivas constituem um conjunto de recursos e serviços voltados para ampliar as habilidades funcionais de pessoas com deficiência, promovendo sua autonomia, inclusão e qualidade de vida. Esses recursos podem incluir desde dispositivos simples, como bengalas, até sistemas complexos, como softwares de comunicação alternativa ou leitores de tela para pessoas com deficiência visual.
Segundo a Cartilha de Tecnologia Assistiva do Ministério da Educação (BRASIL, 2015), “tecnologia assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade relacionada à atividade e à participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida”.
O uso adequado da tecnologia assistiva pode transformar significativamente a vida de estudantes com deficiência no ambiente escolar, oferecendo meios para que eles superem barreiras de acesso ao conteúdo e à comunicação. De acordo com Sassaki (2005), “a tecnologia assistiva é condição fundamental para que muitas pessoas com deficiência possam exercer sua cidadania de forma plena”.
Dentre os recursos mais utilizados estão softwares leitores de tela, teclados adaptados, pranchas de comunicação alternativa e dispositivos controlados por voz ou movimento ocular. Tais ferramentas possibilitam a expressão, a mobilidade, o aprendizado e a participação social ativa dos usuários.
A implementação eficaz da tecnologia assistiva requer avaliação individualizada, capacitação de professores e acompanhamento técnico, garantindo que os recursos sejam realmente úteis no cotidiano das pessoas com deficiência.
Uma das ferramentas mais utilizadas é o sistema de comunicação alternativa e aumentativa (CAA), que pode ser de baixa ou alta tecnologia. Os sistemas de baixa tecnologia incluem quadros de comunicação com figuras, pranchas de símbolos (como os do PECS – Picture Exchange Communication System) e cartões com imagens que representam objetos, ações ou necessidades. Já os sistemas de alta tecnologia envolvem dispositivos eletrônicos, como tablets com aplicativos específicos de comunicação, que permitem à criança selecionar imagens, palavras ou frases para se expressar por meio de voz sintetizada.
De acordo com Reis et al. (2020), “as tecnologias assistivas promovem a mediação da comunicação e facilitam a expressão de desejos, sentimentos e necessidades, especialmente em crianças não verbais ou com fala funcional limitada”. Esses recursos contribuem significativamente para o desenvolvimento da linguagem, da interação social e do comportamento adaptativo.
Entre os exemplos mais comuns de tecnologias assistivas utilizadas com crianças com TEA, destacam-se: Aplicativos de CAA como Proloquo2Go, LetMeTalk e JABtalk; Softwares de ensino estruturado, como o TeachTown e o ABCMouse, que auxiliam no aprendizado por meio de reforço visual e auditivo; Dispositivos com saída de voz, como os comunicadores dinâmicos, que facilitam a comunicação expressiva.
Um dos aplicativos mais conhecidos nessa área é o Proloquo2Go, que permite a construção de frases por meio de figuras organizadas em categorias, com voz automatizada que reproduz o conteúdo escolhido. Ele é altamente personalizável, o que possibilita a adaptação ao nível de linguagem e às preferências do usuário.
Outro recurso bastante utilizado é o LetMeTalk, um aplicativo gratuito que oferece uma biblioteca de imagens para montagem de frases e comunicação básica. Sua interface simples e intuitiva o torna acessível para diferentes faixas etárias e níveis de habilidade. Da mesma forma, o JABtalk também funciona como um sistema de CAA gratuito, que combina imagens, texto e áudio para criar um ambiente de comunicação interativo. Ele permite que familiares e profissionais adicionem conteúdos personalizados, facilitando a comunicação contextualizada.
Além dos aplicativos de CAA, existem também softwares de ensino estruturado que promovem o aprendizado por meio de reforço visual e auditivo, especialmente eficazes para crianças com TEA e outras dificuldades cognitivas. O TeachTown, por exemplo, é uma plataforma educacional baseada em princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), que utiliza vídeos, ilustrações animadas e recompensas virtuais para ensinar habilidades acadêmicas e sociais. O sistema permite o monitoramento de desempenho individual e adapta as atividades conforme o progresso do aluno.
No contexto escolar, as tecnologias assistivas vêm sendo utilizadas como ferramentas de apoio ao processo de ensino-aprendizagem, contribuindo para a acessibilidade pedagógica. Entre os recursos mais comuns estão softwares educativos, pranchas de comunicação alternativa, sintetizadores de voz, teclados adaptados, aplicativos com pictogramas e plataformas de leitura interativa. Esses instrumentos permitem que os estudantes com necessidades específicas possam interagir com o conteúdo curricular, participar das atividades em sala de aula e desenvolver habilidades cognitivas e sociais de forma mais eficaz.
Outro exemplo é o ABCMouse, um programa voltado para a educação infantil, que oferece um currículo interativo com atividades de alfabetização, matemática, ciências e artes. Por meio de reforços visuais e auditivos, como músicas, narrações e jogos animados, o ABCMouse estimula o engajamento das crianças em um ambiente virtual lúdico e educativo.
Essas tecnologias, quando bem integradas ao plano de intervenção, não apenas promovem a aquisição de habilidades funcionais, mas também fortalecem a autonomia, a comunicação e a inclusão social de crianças com necessidades especiais.
Segundo Bersch (2017), as tecnologias assistivas representam uma ponte entre as limitações funcionais e a participação plena do sujeito em seu cotidiano. A autora destaca que o envolvimento da família e dos educadores no uso dessas tecnologias é fundamental para que elas tenham um efeito significativo, sendo necessário um processo de orientação, adaptação e acompanhamento constante.
Portanto, a integração da tecnologia assistiva à rotina escolar e familiar deve ser planejada de forma colaborativa, envolvendo profissionais da educação, terapeutas, familiares e a própria criança. O uso efetivo desses recursos não apenas favorece a aprendizagem, mas também fortalece o vínculo entre os contextos escolar e doméstico, promovendo uma experiência mais inclusiva e significativa para todos os envolvidos.
A atuação de fonoaudiólogos, aliada a estratégias multidisciplinares, pode promover avanços significativos na comunicação funcional desses indivíduos.
3 O PAPEL DO FONOAUDIOLOGO
O reconhecimento precoce de sinais sugestivos do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é fundamental para que a criança receba apoio profissional adequado desde os primeiros anos de vida. A família tem papel central nesse processo, uma vez que geralmente é a primeira a observar comportamentos atípicos. Nesse contexto, o fonoaudiólogo é um dos profissionais mais indicados para realizar uma avaliação aprofundada das habilidades comunicativas e de linguagem da criança, contribuindo para um diagnóstico multidisciplinar e o início precoce da intervenção.
A procura por avaliação fonoaudiológica deve ocorrer sempre que a família identificar atrasos no desenvolvimento da fala e da linguagem, dificuldades de interação social, ausência de contato visual, comportamentos repetitivos, restrição de interesses ou alterações na forma de brincar. Sinais como não responder ao nome, não apontar para mostrar interesse ou não imitar gestos simples são considerados indicativos de risco para o TEA, especialmente quando persistem após os 12 a 18 meses de idade. Como destacam Fernandes e Amato (2013), “a intervenção fonoaudiológica precoce é essencial para estimular o desenvolvimento da comunicação funcional e minimizar os impactos do transtorno na vida social e escolar da criança”.
Não há uma idade mínima específica para iniciar a avaliação fonoaudiológica. Quanto mais cedo forem observadas as características mencionadas, mais indicado é buscar um especialista. A atuação fonoaudiológica pode iniciar já nos primeiros anos de vida, inclusive em bebês, desde que haja sinais de atraso ou risco no desenvolvimento da linguagem ou da comunicação social. De acordo com a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), a intervenção precoce, preferencialmente antes dos três anos de idade, oferece melhores prognósticos, pois o cérebro ainda se encontra em maior plasticidade e capacidade de adaptação.
Além da criança, a atuação fonoaudiológica envolve também o acolhimento e a orientação da família, que passa a entender melhor os sinais, os desafios e as potencialidades do indivíduo com TEA. A família bem orientada pode aplicar estratégias de estímulo à comunicação no cotidiano, promovendo avanços significativos no desenvolvimento.
Portanto, a avaliação fonoaudiológica deve ser procurada assim que os primeiros sinais de alerta forem notados, independentemente da idade da criança. A identificação precoce e a intervenção adequada são determinantes para favorecer o desenvolvimento global da pessoa com TEA, garantindo melhores condições de inclusão, autonomia e qualidade de vida.
A atuação do fonoaudiólogo com pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é complexa, contínua e adaptada às necessidades individuais. Desde a avaliação diagnóstica até o momento da alta, esse profissional desempenha um papel fundamental na promoção da comunicação, linguagem e interação social, respeitando o perfil funcional e o estágio de desenvolvimento de cada indivíduo.
O processo inicia-se com a avaliação fonoaudiológica, que envolve a análise detalhada das habilidades de comunicação verbal e não verbal, linguagem receptiva e expressiva, habilidades sociais e aspectos orais-motores. Esse momento é essencial para a elaboração de um plano terapêutico individualizado. De acordo com Fernandes, Befi-Lopes e Molini-Avejonas (2020), “a avaliação da linguagem em indivíduos com TEA deve ser multifacetada, considerando não apenas os aspectos estruturais da linguagem, mas também a funcionalidade da comunicação em contextos variados”.
Com base nos dados obtidos na avaliação, o fonoaudiólogo elabora um plano de intervenção que considera as necessidades específicas do paciente. O objetivo principal da intervenção fonoaudiológica é promover a comunicação funcional, seja por meio da linguagem oral, de recursos alternativos e aumentativos de comunicação (CAA) ou de outras estratégias adaptadas. A terapia pode ocorrer em ambiente clínico, domiciliar ou escolar, e envolve também a orientação de familiares e professores, buscando a generalização das habilidades para diferentes contextos da vida cotidiana.
O acompanhamento é contínuo e envolve reavaliações periódicas, que permitem o ajuste das estratégias terapêuticas conforme o progresso da pessoa com TEA. A atuação do fonoaudiólogo também inclui o trabalho interdisciplinar com profissionais como psicólogos, terapeutas ocupacionais, pedagogos e neurologistas, garantindo uma abordagem integral e coordenada.
A alta fonoaudiológica ocorre quando os objetivos terapêuticos previamente estabelecidos são alcançados e o indivíduo demonstra autonomia funcional em sua comunicação. Segundo Andrade e Fernandes (2020), “a decisão pela alta deve considerar critérios clínicos e funcionais, avaliando se a pessoa com TEA consegue se comunicar de maneira eficaz em seus contextos de vida, mesmo que com apoio residual”.
Assim, o fonoaudiólogo atua de forma sistemática e ética desde o diagnóstico até a alta, respeitando os princípios de singularidade, inclusão e funcionalidade. Sua intervenção é um pilar essencial para o desenvolvimento da comunicação de pessoas com TEA, promovendo maior qualidade de vida e participação social.
Por tanto o fonoaudiólogo desempenha um papel essencial na seleção, adaptação e implementação de tecnologias assistivas voltadas para a comunicação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Como profissional especializado em linguagem e comunicação, o fonoaudiólogo é responsável por avaliar as habilidades comunicativas da criança, identificar suas necessidades específicas e indicar os recursos mais adequados para promover uma comunicação funcional e eficaz.
O processo de seleção de tecnologias assistivas envolve uma análise detalhada do nível de desenvolvimento da linguagem, capacidade cognitiva, habilidades motoras, preferências sensoriais e contexto social da criança. Com base nessa avaliação, o fonoaudiólogo pode recomendar desde recursos de comunicação alternativa de baixa tecnologia, como pranchas de figuras, até dispositivos de alta tecnologia, como aplicativos e softwares de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) em tablets ou comunicadores eletrônicos com saída de voz.
Segundo Fernandes et al. (2019), “o fonoaudiólogo atua como mediador entre o sujeito, a tecnologia e o ambiente, garantindo que a ferramenta de comunicação seja funcional, compreensível e aplicável às rotinas da criança”. Além da indicação do recurso, o profissional também é responsável por treinar a criança, os familiares e os educadores, assegurando que todos saibam utilizá-lo adequadamente no dia a dia.
A atuação do fonoaudiólogo não se limita à escolha do recurso, mas inclui monitoramento constante, ajustes individualizados e acompanhamento do progresso da criança na comunicação. Esse trabalho deve ser colaborativo e interdisciplinar, envolvendo outros profissionais da saúde e da educação, com o objetivo de promover maior autonomia, participação social e qualidade de vida para a criança com TEA.
Segundo Andrade e Fernandes (2020), “a orientação fonoaudiológica à família contribui para o fortalecimento das interações sociais e para a generalização das habilidades adquiridas em terapia para o cotidiano da criança com TEA”. Assim, a atuação do profissional se estende para além do consultório, promovendo uma abordagem centrada na família, o que potencializa os resultados da intervenção.
Cabe também ao fonoaudiólogo a contribuição no ambiente escolar, trabalhando em conjunto com a equipe pedagógica e adaptando estratégias de comunicação e linguagem às necessidades específicas do aluno. De acordo com Silva e Panhoca (2018), “a presença do fonoaudiólogo no contexto escolar é fundamental para favorecer práticas pedagógicas inclusivas, oferecendo suporte à equipe docente e promovendo condições para a participação ativa do aluno com TEA no processo de aprendizagem”.
É importante ressaltar que a seleção e o uso dessas tecnologias devem ser individualizados garantindo que o recurso seja adequado ao perfil e às necessidades da criança.
Dessa forma, a atuação do fonoaudiólogo em múltiplos contextos favorece a construção de uma rede de apoio integrada, que considera o sujeito em sua totalidade e promove o desenvolvimento global de suas habilidades comunicativas e sociais. Essa atuação interdisciplinar e contextualizada é fundamental para garantir o direito à comunicação e à inclusão de pessoas com TEA.
CONCLUSÃO
Diante dos estudos realizados, é possível compreender que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que impacta, de maneira significativa, as áreas da comunicação, interação social e comportamento. As alterações de linguagem, frequentemente presentes em indivíduos com TEA, podem se manifestar de diferentes formas, desde a ausência total da fala até dificuldades sutis na compreensão e no uso funcional da linguagem.
Nesse contexto, torna-se evidente a importância da atuação do fonoaudiólogo, profissional capacitado para avaliar, intervir e promover o desenvolvimento da comunicação, seja ela verbal, não verbal ou alternativa. O fonoaudiólogo desempenha um papel fundamental na elaboração de estratégias terapêuticas que consideram as particularidades de cada indivíduo dentro do espectro, buscando sempre favorecer a autonomia, a qualidade de vida e a inclusão social.
Além disso, a inserção das tecnologias assistivas no processo terapêutico se mostra uma ferramenta indispensável e altamente eficaz. Recursos como softwares de comunicação alternativa, aplicativos, pranchas de comunicação, dispositivos móveis adaptados e outros instrumentos tecnológicos contribuem de forma significativa para ampliar as possibilidades de interação, expressão e aprendizagem dos indivíduos com TEA.
O trabalho do fonoaudiólogo transcende o atendimento clínico e se estende para uma atuação interdisciplinar e colaborativa, sendo essencial na promoção do desenvolvimento global de pessoas com TEA. Sua presença ativa na vida familiar e escolar das crianças com autismo contribui significativamente para o fortalecimento da comunicação, das relações sociais e da inclusão em todos os aspectos da vida.
Portanto, conclui-se que a integração entre o conhecimento teórico, as práticas fonoaudiológicas e o uso de tecnologias assistivas é essencial para promover avanços no desenvolvimento da comunicação dessas pessoas. O trabalho interdisciplinar, o respeito às singularidades e o investimento em recursos inovadores são caminhos que fortalecem a atuação do fonoaudiólogo e garantem intervenções mais humanizadas, inclusivas e eficazes.
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